Em Manaus, templos de religiões de matriz africana estão localizados em zonas de risco geológico, revela mapeamento

O relatório aponta centenas de setores em Manaus classificados como alto e muito alto risco para desastres como erosão e deslizamentos de terra.

Em Manaus (AM), terreiros e templos de religiões afro‐brasileiras, espaços sagrados para comunidades negras e praticantes, se encontram em proximidade com áreas identificadas como de risco geológico, inundação, alagamento e erosão, segundo análise inédita realizada com base no mapeamento do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). No contexto da Semana da Consciência Negra o achado lança luz sobre uma dimensão pouco debatida: a vulnerabilidade territorial e simbólica desses espaços de fé.

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O relatório “Mapeamento das áreas de risco geológico da zona urbana de Manaus (AM)”, elaborado pela CPRM, aponta centenas de setores da capital amazonense classificados como alto e muito alto risco para desastres como inundações, alagamentos, erosão, deslizamentos e enxurradas.

Templos de matriz africana em áreas de risco de Manaus
O relatório “Mapeamento das áreas de risco geológico da zona urbana de Manaus” foi elaborado pela CPRM. Foto: divulgação

Paralelamente, com a ajuda do levantamento realizado pelo Atlas ODS Amazônia e o Instituto Ganga Zumba, foi elaborado um mapa que sobrepõe os pontos dos terreiros/templos e as áreas de risco geológico identificadas. A análise identifica a proximidade entre os locais de culto de matriz africana e as zonas de risco: essa interseção aponta para uma situação de vulnerabilidade tanto física (estrutura, segurança) quanto simbólica (preservação da cultura, fé, pertencimento).

Principais achados

Há diversos templos localizados dentro ou muito próximos de zonas classificadas como R3 (“alto risco”) ou R4 (“muito alto risco”) pelo mapeamento da CPRM.

Há diversos templos localizados dentro ou muito próximos de zonas classificadas como R3 (“alto risco”) ou R4 (“muito alto risco”), em Manaus. Foto: Divulgação

Leia também: Como religiões de matriz africana são símbolo de resistência e identidade negra no Amapá

Segundo a atualização de 2025, o município de Manaus possui 362 setores classificados como risco alto (R3) e 76 como muito alto (R4), totalizando 438 setores e impactando aproximadamente 112 mil pessoas.

No contexto da fé afro‐brasileira, os terreiros não são apenas locais de culto, mas centros comunitários, educacionais e de resistência identitária — o que amplia o impacto de qualquer risco à infraestrutura ou interrupção da atividade.

Relevância para a Semana da Consciência Negra

Local com risco de erosão. Foto: Rafael Aleixo/Rede Amazônica

“O mapa apresenta claramente os territórios sagrados e a proximidade de áreas de risco, alguns deles estão no meio dessas áreas e o risco é iminente. A questão maior é que existe um contingente considerável de pessoas vivendo próximas a essas áreas e com os eventos climáticos cada vez mais graves, como fortes chuvas, é preciso agir”, afirma o pesquisador Danilo Egle, pesquisador do Atlas ODS Amazônia.

Ele acredita que o mapeamento chama atenção para que as políticas de proteção não se limitem a manifestações culturais visíveis, mas também abarquem a segurança e a permanência dos terreiros e templos como parte do patrimônio imaterial e territorial negro.

O mapeamento revela que a proteção das expressões religiosas de matriz africana em Manaus passa também por um olhar para o território. No mês em que se celebra a Consciência Negra, emerge o convite para que a fé, a cultura e o sagrado sejam parte integrante de políticas de prevenção de riscos, planejamento urbano e valorização patrimonial. A preservação desses espaços — tão significativos para a comunidade negra — exige visibilidade, engajamento institucional e ação coordenada entre poder público, sociedade civil e comunidades de terreiro.


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