O projeto do ilustrador amazonense Nilberto Jorge, que cria versões cotidianas das lendas amazônicas, ganha novos rumos, agora em um universo mais abrangente.
Caipora e Guaraná indo ao mercado. Matinta Perera, Boto e Curupira em um barzinho no fim da tarde. E até Mapinguari recebendo a vacina contra Covid-19. Essas são algumas cenas imaginadas e criadas pelo ilustrador amazonense Nilberto Jorge. E tem mais “gente” nessa lista. Eles são desenhados como pessoas vivendo situações do cotidiano em sua página no Instagram.
E mesmo parado há algum tempo, por conta de compromissos, o projeto permanece nos planos do autor e voltou em um momento especial, celebrando o Natal, após visita ao Largo de São Sebastião, no Centro de Manaus.
“Depois da visita ao Largo eu comecei a pensar em várias coisas de novo, que quero fazer no futuro. Sou um péssimo roteirista, e quero alguém para ajudar, mas a ideia é trabalhar melhor as histórias do cotidiano. Era um projeto de tirinhas, então a ideia principal é abranger mais personagens nessas histórias”, conta o ilustrador, que pretende abranger o universo dos personagens e trazer até deuses, como Tupã, para os enredos.
“A ideia é criar um grupo de pessoas interagindo entre si. Eu acredito que esses personagens tem um poder de influência. Não são famosos, mas tem importância para chamar atenção, porque quando a gente coloca personagens que já ouvimos na infância em situações do cotidiano, criamos uma identificação muito mais fácil”, assegura.
De acordo com Nil, como é chamado nas redes sociais, esta é uma forma de recuperar a cultura, porém adaptada de modo mais casual. “A gente tem a ideia do mítico, de coisas místicas por trás deles, e que por isso a gente não pode acessar. Mas são personagens próximos para o público daqui”, explica.
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‘Hércules’, ‘Hagar’, ‘Astérix’ são alguns dos personagens internacionais lembrados por Nilberto Jorge que ganharam fama por mostrarem suas dualidades entre deuses e humanos, revelando um pouco de como seria o dia a dia deles.
“A gente consumiu isso há muito tempo, mas histórias de pescadores, sobre criaturas das florestas, a gente ouvia muito pouco. ‘Sítio do Pica pau amarelo’, ‘Catalendas’, eram poucas as referências à esses personagens. Aqui no Amazonas a gente tem uma cultura riquíssimas, mas a gente pouco conhece e eu acho legal aproveitar isso”, comenta.
Público novo
Nil comenta também que na infância costumava participar de viagens missionárias e, por conta disso, conversava muito com os pescadores, ouvindo suas histórias fantásticas. “Era sempre muito legal. Hoje eu entendo que eles falam com uma convicção, que aquilo é verdade mesmo, não tem como a pessoa estar mentindo porque ela acredita. Então comecei a encarar de uma forma mais natural também”, explica.
Colocar esses personagens em situações comuns, então, aproxima o público das lendas amazônicas. Um público novo, que ainda não se reconhece nas histórias: “É um público que não conhece as vezes o básico. Tem personagens famosos, como a Matinta Perera, que fora do Amazonas pode ser comparada à rasga mortalha, e que tem sua devida importância, sendo uma história daqui”.
O processo é devagar, uma vez que o artista se divide entre os compromissos pessoas e a criação, mas continua estudando situações e também, claro, aperfeiçoando o traço e pesquisando novos personagens. Mas ele garante que ainda tem muita novidade vindo aí.