Espécie de praga exótica que atinge plantios de goiabeira preocupa pesquisadores no Amazonas

As cochonilhas são pequenos insetos parasitas que sugam a seiva da planta. A espécie identificada age destruindo tudo – ramos, folhas e frutos – causando a morte das goiabeiras. 

Pesquisadores da Embrapa identificaram a espécie de cochonilha exótica, Capulinia linarosae, em uma propriedade rural no Amazonas. É o primeiro registro da ocorrência no Brasil dessa cochonilha, que tem um histórico de causar danos severos aos cultivos de goiabeira. Até o momento, não há indícios de ocorrência em outros Estados brasileiros, mas os pesquisadores alertam que é importante atuar no monitoramento e prevenção do inseto para mitigar a sua disseminação e evitar prejuízos aos produtores.

As cochonilhas são pequenos insetos parasitas que sugam a seiva da planta. De acordo com relato dos pesquisadores, a espécie Capulinia linarosae, age destruindo ramos, folhas, frutos, chegando a causar a morte das goiabeiras. Sua ocorrência causa preocupação pela alta infestação e difícil controle, podendo levar a prejuízos econômicos. 

A situação serve de alerta para produtores de goiaba no Amazonas e em outros Estados, pois o Brasil é um dos maiores produtores mundiais do fruto, sendo a maior concentração em São Paulo, seguido por Pernambuco, Minas Gerais e Ceará.

Foto: EMBRAPA

As informações sobre a praga e orientações para controle são apresentadas no Comunicado Técnico 155, lançado pela Embrapa Amazônia Ocidental, de autoria dos pesquisadores da Unidade, Luadir  Gasparotto e Adauto Maurício Tavares; Norton Polo Benito, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF); e Raimundo Nonato Carvalho da Rocha, da Embrapa Arroz e Feijão (GO). 

Dados sobre o problema também estão sendo divulgados para as agências de defesa fitossanitária do Brasil, segundo informa o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Luadir Gasparotto. Segundo o pesquisador, é importante que produtores de goiaba tenham conhecimento das medidas de controle para essa praga e dos sintomas que a caracterizam.

Como controlar? 

Algumas medidas de controle foram testadas sob a orientação de pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental em um plantio afetado pela praga no município de Iranduba (AM). A propriedade, que serviu de base para a pesquisa, é do produtor de frutas Edney Marques. Ele conta que a infestação foi alta e gerou perda de frutos. “Afetou bastante a produção e dá muito trabalho para controlar”, afirma Marques.

Com base nessa experimentação, foram apresentadas instruções como poda de limpeza e remoção dos galhos. Os galhos removidos podem ser enterrados, queimados ou expostos ao sol para promover a desidratação e morte das cochonilhas. Nas partes que não puderam ser podadas, foram removidas as cascas e os insetos com a ajuda de um escovão de cerdas duras. 

Nas áreas escovadas, foi aplicado óleo mineral (75,6% m/v) na concentração de 1,5 ml do produto para 1 L de água. O controle da praga se deu após duas aplicações com intervalos de 15 dias.

O agrônomo Selmo da Costa, produtor de frutas no município de Manaquiri (AM), conta que também enfrentou problema parecido com a presença da cochonilha exótica em seu plantio de goiaba e perdeu a produção de cinco anos. Fez a poda, mas sem poder recuperar o plantio, vendeu a área. Costa relata que iniciou novo plantio em outra área com 380 pés de goiaba no campo. Nesse está fazendo monitoramento, para evitar novas perdas. 

“É extremamente difícil de controlar”, afirma o agrônomo, que trabalha no órgão estadual de extensão rural no Amazonas, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam). 
Em visita a outras propriedades, conta que encontrou cochonilhas em goiabeiras que apresentam sintomas semelhantes em municípios amazonenses próximos a Manaus, em propriedades no interior de Manaquiri, Manacapuru, Careiro da Várzea, Careiro-Castanho e Rio Preto da Eva, em plantios pequenos de até um hectare. Embora os sintomas sejam parecidos, ainda não há confirmação que sejam cochonilhas da mesma espécie.
Foto: Luadir Gasparotto/Acervo pessoal

O que fazer em casos suspeirtos? 

A praga inicia o ataque na região sombreada da base do tronco, forma colônias de cochonilhas que se estendem pelo caule acima, destruindo a casca e as partes superficiais do lenho. Essas colônias atingem os ramos superiores. As plantas afetadas emitem brotações fracas e os ramos morrem.

Como medida preventiva para manter as plantas livres das cochonilhas, os pesquisadores recomendam realizar vistorias periódicas e, à medida que surjam novas colônias da praga, fazer a aplicação da suspensão contendo o óleo mineral dirigida para as colônias de insetos.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) foi consultado sobre o risco do inseto se estender a outros estados com cultivos de goiabeira. A resposta do Mapa é que “o risco de dispersão existe, mas ainda não há estudos sobre a abrangência da praga nem de sua real capacidade de dispersão na região”. 

Com a detecção da ocorrência dessa praga no Brasil, o Ministério orienta que os produtores de goiaba devem acrescentar medidas de controle para a cochonilha em sua rotina de manejo agronômico. Também informou que se o produtor encontrar em seu plantio sintomas ou casos suspeitos da infestação da praga, deve buscar informações sobre medidas de controle com engenheiros agrônomos e órgãos que prestam assistência técnica rural em sua região. Como a praga não é regulamentada, não há necessidade de notificação de sua ocorrência aos órgãos oficiais.

A chefe da divisão de pragas quarentenárias ausentes do Mapa, Juliana Ribeiro Alexandre, explica que após a notificação da presença da praga no Brasil, o setor responsável do Ministério avaliou o risco que a Capulinia linarosae representaria para o País e chegou à conclusão de que a praga não tem potencial quarentenário, considerando os seguintes aspectos: 

“Não foi identificado impacto inaceitável, é restrita a um único hospedeiro e manejável, ou seja, existe controle viável para manter a produção mesmo em situação de convivência. Ainda não é clara a sua abrangência, pois há indícios de que já esteja disseminada na região Norte do país, considerando os problemas taxonômicos envolvendo o gênero que é nativo da região, a Capulinia jaboticabae“. 

Diante dessas considerações, ela explica que não se verificou a necessidade de criação de programa de controle oficial, por parte do Mapa, para conter a praga na região indicada pela notificação.

Foto: Divulgação/Embrapa

Como foi identificada no Brasil

Amostras da praga foram coletadas em uma fazenda com cultivos de goiabeira no município de Iranduba próximo à Manaus (AM). Depois de desvitalizadas e conservadas em álcool 70%, foram enviadas para identificação no laboratório da Estação Quarentenária da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Foram montadas 20 lâminas, um espécime por lâmina, com fêmeas adultas. 

As cochonilhas foram identificadas como sendo da espécie Capulinia linarosae (Hemiptera: Coccoidea: Eriococcidae). As lâminas estão guardadas na coleção de Referência de Insetos e Ácaros da Estação Quarentenária.

O que é uma praga quarentenária?

Praga quarentenária é todo organismo de natureza animal e vegetal, que estando presente em outros países ou regiões, mesmo sob controle permanente, constitui ameaça à economia agrícola do Brasil ou região importadora exposta. Já a praga quarentenária ausente não está presente no País, mas tem potencial de causar importantes danos econômicos, se introduzida. (Fonte: Embrapa)

Foto: Divulgação/Embrapa

 Sobre as cochonilhas em goiabeiras

De acordo com o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Adauto Tavares, cochonilhas são um grupo importante de insetos devido aos impactos econômicos que produzem na agricultura em todo o mundo. “No Brasil as cochonilhas que têm sido registradas com destaque em plantios de goiabeira são a cochonilha-branca, cochonilha-verde, cochonilha-rosada, escama cabeça-de-prego, cochonilhas-de-cera, cochonilha-vermelha, cochonilha pérola-da-terra e cochonilha-da-raiz”, informa.

A nova espécie de cochonilha encontrada no Amazonas foi detectada pela primeira vez na Venezuela, em 1993, porém só em 2016 foi reconhecida como uma nova espécie que passou a ser denominada Capulinia linarosae Kondo & Gullan. Nos anos seguintes, plantios de goiabeira na Venezuela foram severamente afetados pela praga.

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