Conheça 10 afrodescendentes símbolos de resistência no Amazonas

Referência na luta contra a escravidão no Brasil, Zumbi dos Palmares faleceu no dia 20 de novembro de 1695 e, como homenagem, foi instaurada a Lei nº 12.519 que declarou a data como o Dia da Consciência Negra.

Referência na luta contra a escravidão, Zumbi dos Palmares é um dos protagonistas quando se fala sobre representatividade entre os povos escravizados e afrodescendentes no Brasil. Com suas habilidades e estratégias militares, Zumbi dos Palmares era conhecido por sua determinação, coragem e liderança, características que eram admiradas pelo Grupo Palmares. 

No dia 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares faleceu. Como homenagem, foi instaurada a Lei nº 12.519 que declarou 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. Nesse sentido, o Dia da Consciência Negra surgiu com o intuito de valorizar não só a história de Zumbi, mas também a resistência da cultura e história afro.

A data ficou marcada como representação das lutas dos povos antepassados e daqueles que resistem até hoje, sendo uma forma de enfrentar a intolerância, racismo e também promover reflexões sobre a luta contra desigualdade racial.

Pensando em viabilizar a história que perpetua sobre gerações, o Portal Amazônia conversou com o mestre em História, pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Juarez da Silva Júnior, que explicou a trajetória de 10 personagens afrodescendentes símbolos de resistência no Amazonas e a história da formação de dois bairros de Manaus originados através de povos afrodescendentes. 

Eduardo Gonçalves Ribeiro

Uma das avenidas mais conhecidas de Manaus é a que leva o nome de Eduardo Ribeiro, localizada no Centro. A origem do nome é em homenagem ao primeiro negro a governar um Estado no Brasil. Eduardo Gonçalves Ribeiro, que nasceu no dia 18 de setembro de 1862, em São Luís, no Maranhão, era conhecido como pensador e militar republicano, que governou o Amazonas por anos.

Durante seus anos de governo, o político foi responsável por liderar a construção de alguns monumentos históricos, como o Teatro Amazonas, o Reservatório do Mocó, a Ponte de Ferro da Sete de Setembro e o Palácio da Justiça. 

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Eduardo Gonçalves Ribeiro. Foto: Reprodução/Sec-AM

Francisco Bernardo Sena

No século XIX, o movimento Cabanagem chegou às margens do Amazonas, sob comando do líder Francisco Bernardo de Sena, com cerca de 2 mil cabanos que ocuparam a cidade de Manaus. Francisco Bernardo era um líder negro, admirado por seus planos estratégicos para se infiltrar, sendo confundido até mesmo com moradores locais.

Manoel Urbano da Encarnação

O perito em navegação Manoel Urbano Encarnação, é considerado um dos primeiros exploradores do Rio Purus, responsável por ligar o território peruano e o Acre. Manoel tinha um vasto conhecimento a respeito dos povos indígenas e da geografia da região amazônica.

Com seu conhecimentos sobre a geografia local, o afro-brasileiro Manoel auxiliou diversos cientistas e pesquisadores dentre eles João Martins da Silva Coutinho, William Chandless e Paul Ehrenreich que obtiveram informações através de Manoel Urbano, sendo considerado o desbravador do Rio Purus e Acre.

Em 1874 fundou o povoado de Canutama, atualmente município do interior do Amazonas. Recebeu a patente de Tenente-Coronel do Governo Brasileiro, por ser responsável pelos índios Paraná-Pixuna.

Leia também: https://portalamazonia.com/historias-da-amazonia/abrahim-baze-manoel-urbano-da-encarnacao-o-explorador-do-rio-purus 

Manoel Urbano da Encarnação. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Manoel da Motta Monteiro Lopes

O primeiro Deputado Federal Negro do Brasil, Manoel da Motta Monteiro Lopes e defensor da causa operária, ganhando visibilidade por instaurar as primeiras legislações trabalhistas no país e o 1º de maio como Dia do Trabalhador. Em 1892, se tornou Promotor Público em Manaus, onde viabilizou projetos federais em benefício do Amazonas.

“Sua intenção anunciada era abrir escritório de advocacia, porém acabou se tornando promotor público e, estabelecendo boas relações na cidade, não ficou contudo muito tempo por aqui. Em 1893 já se encontrava advogando na então capital federal, onde ganhou grande reputação entre as classes operárias e mais humildes, se lançando na política e se tornando um tipo de ‘popstar’ nacional”, explica Juarez Silva.

Manoel da Motta Monteiro Lopes.
Foto: Juarez da Silva/Acervo pessoal

Alcides Bahia

Referência na imprensa do Amazonas, o jornalista e Deputado Federal Alcides Bahia nasceu no Pará e foi o fundador da Academia Amazonense de Letras (AAL). Dirigiu diversos jornais em Manaus e publicou o livro ‘A Imprensa no Amazonas’. É referido por Nelson de Senna como um dos ‘ilustres homens de cor’ brasileiros. 

Alcides Bahia. Foto: Juarez da Silva/Acervo pessoal

Josephina Mello 

Destaque como enfermeira e provedora da Santa Casa de Misericórdia de Manaus durante 20 anos, a amazonense Josephina Mello, ganhou reconhecimento nacional e internacionalmente por sua intelectualidade, sendo uma das poucas mulheres negras nortistas a ingressar na universidade.

Com doutorado em Enfermagem, Josephina foi professora da Escola de Enfermagem da UFAM. Referência no Amazonas, a enfermeira foi homenageada com a inauguração da Escola Professora Josephina de Mello. 

Josephina Mello. Foto: Reprodução/Centro Histórico Cultural da Enfermagem Ibero-Americana

Domingos Lima 

O violinista e compositor Domingos Lima foi um dos artistas mais famosos das décadas de 50 e 60, formando orquestras e liderando os músicos do programa ‘Carrossel da Saudade’, transmitido na televisão em formato educativo. 

Domingos também colaborou com a composição da música ‘Coração Indeciso’, conhecida na voz de Abílio Farias. Com essa colaboração e visibilidade, ele se tornou referência para alguns cantores nacionais como Nelson Gonçalves.  

Domingos Lima. Foto: Reprodução/Arquivo pessoal da família Domingos Lima

Irmã Helena Augusta Walcott

Conhecida como “mãe dos sem teto”, Helena Augusta Walcott representava a luta por moradias em Manaus, principalmente em áreas periféricas, onde ocorriam disputas com grileiros em busca de terras em alguns bairros da capital amazonense. 

Frente aos processos de ocupação, Irmã Helena lutava pelo direito à terra entre as décadas de 1970 a 1990. Entre os bairros que liderou a ocupação estão: Compensa, Terra Nova, São José, Novo Israel, Armando Mendes, Redenção e Japiim. 

Irmã Helena Augusta Walcott. Foto: Reprodução/Clóvis Miranda

Nestor Nascimento

Conhecido como o “pai” dos movimentos negros do Amazonas, Nestor Nascimento era de uma tradicional família da Praça 14 de Janeiro, tendo também uma forte ligação com a cultura do Samba, que o levou a ser o cofundador da Escola de Samba Vitória Régia. Nestor também adquiriu um reconhecimento internacional que o levou a ser convidado a visitar a Casa Branca, onde se encontrou com o ex-presidente norte-americano Bill Clinton.

De acordo com Juarez, o advogado, jornalista e ativista Nestor Nascimento recebeu uma homenagem com a inauguração da Escola Municipal Nestor Soeiro do Nascimento, uma estátua e premiação oficial da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam). 

Nestor Nascimento na Casa Branca à convite de Bill Clinton. Foto: Reprodução

Mãe Zulmira

Conhecida como sacerdotisa de Culto-Afro-brasileiro em Manaus, a Mãe Zulmira possui uma ligação com a memória do bairro Morro da Liberdade. É nacionalmente conhecida em rodas de samba, nos enredos da Escola de Samba Reino Unido da Liberdade. 

Em 1979, a roda de samba fez sucesso com o enredo ‘Mãe Zulmira, o amanhecer de uma raça’. Em 2019, a escola ganhou o título de campeã com o enredo sobre a Mãe Zulmira, lembrou o mestre em História,.  

Mãe Zulmira.
Foto: Reprodução/ Manaus Antigamente

Praça da Saudade e Morro da Liberdade

Durante a formação de alguns dos bairros mais antigos de Manaus, foram reconhecidas influências de povos afrodescendentes. Entre eles estão a Praça da Saudade e o Morro da Liberdade, ambos localizados na zona Sul da cidade.

“O nome da praça pode ter origem na presença de um espanhol de sobrenome Saudade ou de um negro que viveu por volta de 1837, morador da área vizinha à praça, de nome José Pedro Saudade. O negro seria um escravo de forro, devido aos bens que possuía, segundo pesquisas do historiador Mário Ypiranga. Particularmente, acho difícil ter sido um espanhol, já que a palavra saudade é genuína e exclusivamente portuguesa. Por outro lado, ali pertinho, havia o bairro ‘Costa D’África’, assim nomeado por ter muitos ‘africanos livres’ ali residindo. Talvez até por alguma relação com as propriedades do negro Saudade, justamente na região”, comentou o historiador Juarez.

E vale lembrar que existem estudos que afirmam que em 1884 houve a abolição da escravatura no Amazonas, documento assinado pelo governador Theodoreto Souto. “Antes o bairro se chamava ‘Morro dos veados’, e também foi conhecido como ‘Areal’. O nome ‘Liberdade’ foi dado não imediatamente, mas justamente pelo deslocamento de ex-escravizados para a área. Lá tem a rua São Benedito e também o Beco dos Pretos”, destacou o especialista.

Praça da Saudade. Foto: Reprodução/Prefeitura de Manaus

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