Largo de São Sebastião, Teatro Amazonas e cinemas antigos são pontos turísticos citados em livros de autor.
Teatro Amazonas e Largo São Sebastião são pontos turísticos no Centro de Manaus. Foto: Leandro Tapajós/G1 Amazonas
Dizem que ler um livro é viajar sem sair de casa. Mas para quem vive em Manaus, no Amazonas, essa máxima é comprovada ao abrir qualquer obra de Milton Hatoum, autor amazonense que fez de sua infância na capital inspiração para uma premiada carreira literária.
Mercado Municipal
“No Mercado Municipal, [Galib] escolhia uma pescada, um tucunaré ou um matrinxã, recheava-o com farofa e azeitonas, assava-o no forno de lenha e servia-o com molho de gergelim”.
(Dois Irmãos, página 36)
Teatro Amazonas
“Tio Ran apontava o nome dos músicos, poetas e dramaturgos europeus: os artistas mais famosos do mundo estavam ali, nos estandartes de gesso em forma de lira, encardidos e empoeirados (…). Quando o pano de boca subiu, o piano preto do conservatório apareceu no centro do palco”.
(A Cidade Ilhada, páginas 54 e 55)
Largo São Sebastião
“Ao lado de uma moça, ele mirava a nau de bronze do continente Europa; olhava o barco do monumento e desenhava com uma cara de espanto (…). Parei parsa ver o desenho: um barquinho torto e esquisito no meio de um mar escuro que podia ser o Rio Negro ou o Amazonas”.
(Cinzas do Norte, página 8)
Cemitério São João Batista
“Ele se aproxima de militares que acompanham um féretro. Não sabe por que o caixão está aberto (…). O defunto com feições indígenas era inesquecível porque era o rosto de um herói”.
(A Cidade Ilhada, página 23)
Hotel Amazonas
“Ele parou diante da banquinha de tacacá da Dona Deúsa, tomou duas cuias, sorvendo com calma o tucupi fumegante, mastigando lentamente o jambu apimentado, como se quisesse recuperar um prazer de infância”.
(Dois Irmãos, página 85)
Igarapé do Educandos
O igarapé do Educandos é citado em mais de uma obra de Hatoum. Em “Relato de Um Certo Oriente”, livro vencedor do primeiro prêmio Jabuti do amazonense, o local era mais um dos ‘ouvintes’ do narrador da história, que discorria sobre os passeios matinais de Emir.
Casas flutuantes e palafitas são encontradas nos igarapés em Manaus.
“Também não entendia o passeante solitário que de manhãzinha deixava o hotel Fenícia, acordava um catraieiro na beira do mercado, e na canoa os dois remavam até a outra margem do igarapé do Educandos”.
(Relato de Um Certo Oriente, página 56)
Cinemas antigos
“O Tarso era o mais triste e envergonhado: nunca disse onde morava (…). Raro sair com a gente para um arrasta-pé (…). Um cineminha, sim: duas moedas de cada um e pagávamos o ingresso do Tarso. E íamos ao Eden, Guarany ou Polytheama”.
(A Cidade Ilhada, página 8)
Igreja Nossa Senhora dos Remédios
“Emilie parava de viver cada vez que o eco quase imperceptível das badaladas da igreja dos Remédios pairava e desmanchava-se como uma nuvem sobre o pátio onde ela polia os anjos de pedra após extrair-lhes o limo e os carunchos acumulados na temporada de chuvas torrenciais”.
(Relato de Um Certo Oriente, página 30)
Rua dos Barés
“‘Sou filho do Halim.’ ‘O da rua dos Barés? Minha Nossa Senhora… Aquele menino? Olha… como cresceu! Espera um pouco.’ Ela trouxe uma fotografia em preto e branco: Yaqub e minha mãe juntos, numa canoa, na frente da palafita, o Bar da Margem”.
(Dois Irmãos, página 86)
Avenida Eduardo Ribeiro
“As mulheres da casa se assanharam para admirar o espadachim. Madrugaram na avenida para conseguir um lugar próximo à passagem das bandas e pelotões. Levaram chapéu de palha, suco de abacaxi e uma sacola cheia de tucumãs. Esperaram três horas sob o sol forte de setembro”.
(Dois Irmãos, página 31)
*Por Camila Henriques e Leandro Tapajós, acervo do G1 Amazonas