O ato reforça a conscientização ambiental, pois, a cada árvore retirada, uma muda da mesma espécie é plantada no lugar.
A tradicional retirada dos mastros acontece na comunidade quilombola do Curiaú, na zona rural de Macapá, o ritual faz parte de um dos momentos mais tradicionais do Ciclo do Marabaixo. O evento homenageia o Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade.
Na cadência das caixas de percussão, no balançar das bandeiras e ao som dos “ladrões”, os mastros são derrubados nas matas do Curiaú pelos integrantes dos grupos Berço do Marabaixo.
A diretora-presidente da Fundação Marabaixo, Josilana Santos, ressalta que o ato também reforça a conscientização ambiental, pois, a cada árvore retirada, uma muda da mesma espécie é plantada no lugar.
“Preservar a natureza, a mata, é algo sagrado. Então, dentro desse ritual, os grupos retiram os mastros, derrubam a árvore e replantam. Além disso, também há o cuidado de revezar os locais de retirada dos mastros, em um ano se tira em um lugar, depois tira em outro, para que haja o reflorestamento da mata”
frisou Oliveira.
Para a marabaixeira Danniela Ramos, de 42 anos, membro da Associação Raimundo Ladislau, participar da retirada dos mastros é honrar a tradição e possibilita o envolvimento das novas gerações.
“Pra gente, é uma honra muito grande participar desse ritual, que já foi vivido pelo mestre Julião Ramos, pelo mestre Pavão e tantos outros, que hoje são nossos ancestrais. As crianças compartilham desse momento e isso é importante porque elas são a garantia da perpetuação do marabaixo”
destacou Danniela Ramos.
A tradição cultural geralmente se inicia na semana santa, a partir do domingo de Páscoa e se encerra no Domingo do Senhor, primeiro domingo após o Corpus Christi. A celebração conta com promessas, missas, novenas e ladainhas. Além de bailes, com a dança do marabaixo.
Marabaixo
Reconhecido como patrimônio cultural imaterial e principal manifestação cultural do Amapá, o Marabaixo faz referência a experiências culturais vivenciadas pelos amapaenses, sendo fundamental para a identidade cultural negra brasileira.
O nome da manifestação cultural é uma forma de reparo às mortes dos negros vindos da África em navios que traziam centenas escravos. Existem também hinos de lamento aos escravos, um deles era cantado ‘mar abaixo, mar acima’. Alguns anos depois, passou a ser considerado um ritual religioso nas comunidades negras do Amapá.
Todas essas festividades são conhecidas como o Ciclo do Marabaixo. Mistura elementos religiosos afro-brasileiros com o catolicismo. A música ficou conhecida como ‘ladrão’, sendo executada através do som de percussão artesanal com as caixas de marabaixo. É dançada por mulheres com saias rodadas floridas, colares, toalha no ombro e flores nos cabelos, e por homens que usam camisas coloridas, sempre em formação de círculo, no sentido anti-horário.
Por ter surgido em um contexto de negros escravizados, a manifestação possui força principalmente em comunidades negras do Amapá, sendo evidente nos bairros do Laguinho, Santa Rita, Mazagão Velho, Campina Grande, Lagoa dos Índios, Coração, Curiaú e Maruanum.