Segundo o coordenador cultural da Festa do Çairé, Osmar Vieira, a edição de 2018 será nostalgica, pois haverá o resgate de elementos do rito religioso que foram se perdendo ao longo dos tempos e que serão reincorporados na programação.”Este ano, a nossa missão é buscar ainda mais a essência do Çairé e vamos fazer um resgate de importantes elementos da nossa tradição que já não eram mais realizados”, destacou.
Um dos elementos que voltarão será ao Çairé 2018 será a “busca nas casas”, que acontecerá nas primeiras horas da manhã da quinta-feira (20), onde o Juiz, a Juíza, a Sairaipora, o Procurador e a Procuradeira sairão de casa em casa para chamar as pessoas, para uma procissão, que será acompanhada com toque de caixa, para o local de abertura do Evento, este momento foi realizado até meados de 1999.
De acordo com Osmar, serão montadas duas casas ao lado do Barracão do Çairé, uma para o Juiz e outra para a Juíza, que ficarão durante toda a festa para recepcionar os visitantes e turistas.
Outro elemento que será resgatado será o talco na cabeça do Juiz e da Juíza, no dia da “levantação” do mastro e no dia da “derrubação”. Esse momento será para demonstrar o poder que os Juízes têm na Festa do Çairé, que estão iluminados pelo Espirito Santo.
Antecedendo a Festa, serão realizadas oficinas de varinhas do Çairé e ornamentação do barracão, ministradas pelos mordomos, que serão abertas para quem se interessar em participar do aprendizado.
Festa do Çairé
O Çairé é uma festa que representa o resgate da cultura do povo Borari, que remonta o processo de colonização dos portugueses na região, que tem destaque, principalmente, na religiosidade dos antepassados de Alter do Chão. O evento é um forte atrativo cultural que movimenta o turismo da região.
A Festa foi introduzida na Amazônia no século XVII. Era realizada em várias comunidades indígenas da região, quando os Padres Jesuítas utilizavam de vários elementos para a catequese dos índios, dentre esses elementos está o “Arco do Çairé”, que era, e ainda é, uma simbologia do mistério da Santíssima Trindade, que é a motivação para a realização do evento.
O “Arco do Çairé” é composto de um grande semicírculo, que representa “Deus Uno”, com outros três semicírculos internos que representam a Santíssima Trindade, “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo”, o Deus Trino. O símbolo representa ainda a Arca de Noé, que ao ser colocada de “cabeça para baixo”, dá formato a uma barca, outra evidência da catequese indígena. O Arco é feito com madeira e cipó, ornado com fitas coloridas, simbolizando o arco-íris que representa a aliança que Deus fez com a humanidade.