Não sou jornalista e esta coluna não é policial

Aqui falamos sobre segurança pública, cidadania e responsabilidade social.

Caros leitores, passei mais de um mês sem escrever nesta coluna. Desculpem-me. Como devem saber, sou professor, advogado, pesquisador, além de pai, filho e companheiro.

Inevitavelmente, no meio e no final de cada ano acabo dedicando algum tempo para curtir o período de recesso escolar com a família, por mais curto que seja. Não tive um mês de recesso, apenas 15 dias. No entanto, quando voltei às atividades de rotina, faltou-me disposição para escrever nesta coluna. Não que falte assunto, muito pelo contrário. Sempre tem algo acontecendo envolvendo a segurança pública, principalmente questões de ordem policial. Infelizmente a criminalidade não dá trégua.

Ocorre que não sou um jornalista policial, sou um coronel da reserva da Polícia Militar, advogado, professor e pesquisador do tema segurança pública. E esta coluna não é uma “coluna policial” dedicada a relatar os crimes recentemente praticados na região amazônica e no Brasil. Não é isso que nos propomos a fazer quando aceitamos esse desafio. Queremos mais, propomo-nos a falar sobre segurança pública e cidadania, com a finalidade de conscientizar as pessoas sobre a importância da segurança pública ´para a vida em sociedade; que o Estado existe para promover o bem-estar social e proteger a sociedade; mas que nós, enquanto cidadãos, também temos nossas responsabilidades. Temos que fazer nossa parte para que a vida em sociedade seja boa, digna, decente, segura, pacífica e ordeira.

Por mais de um ano tenho escrito nesta coluna, tentando passar essa mensagem para meus leitores, mesmo que sejam poucos, ou que tenham assimilado a mensagem. Mas não importa, tenho uma responsabilidade social e vou continuar a falar. Talvez alguém tenha lido e assimilado minhas ideias, pensamentos, opiniões… Se consegui conscientizar pelo menos uma pessoa, já estou satisfeito.

Foto: Sávio Lessa/Acervo pessoal

Esse período para mim, tem sido de muita reflexão. Não é novidade, pois estou sempre refletindo, pensando, pois como já dizia o filósofo francês, René Descartes: “Penso, logo existo“. Jamais renunciarei a minha existência.

Este mês de agosto, no entanto, é especial. Exatamente no último dia 10, minha turma de Oficiais da Polícia Militar de Rondônia (CADOF-92), completou exatos 30 (trinta) anos. Impossível não lembrar de quando iniciei minha vida na PMRO depois de 4 (quatro) anos como oficial temporário do Exército Brasileiro.

Há exatos 30 anos, vinte e sete jovens tenentes do Exército Brasileiro, vindos dos mais diversos rincões deste país, incorporaram às fileiras da valorosa Polícia Militar do Estado de Rondônia e celebraram um compromisso de honra. Fizeram da farda azul sua segunda pele; deixaram na terra natal suas famílias e amigos e aqui, neste Estado maravilhoso e acolhedor, construíram novos núcleos familiares e círculo de amizades.

Ao longo de três décadas honraram o juramento que fizeram e se sacrificaram para proteger a sociedade rondoniense. Muito mais poderia ter sido feito, se mais recursos tivessem. As dificuldades eram muitas, mas não o suficiente para deixarem de lutar. Os sacrifícios foram muitos, chegando a acarretar danos existenciais.

Apesar de tudo, valeu a pena. Faria tudo novamente, só que um pouco melhor.

Foto: Sávio Lessa/Acervo pessoal

Aproveito o espaço e o momento para saudar meus colegas de turma por todo apoio e amizade, bem como, agradecer à PMRO, ao estado de Rondônia e à sociedade rondoniense, por terem nos acolhido tão bem. Hoje somos filhos desta terra.

No dia do aniversário de nossa turma o Comando da Polícia Militar agraciou a todos nós com a comenda “VETERANIS HONOREM“, uma moeda criada para homenagear os veteranos da Polícia Militar do estado de Rondônia, pelos relevantes serviços prestados à Segurança Pública e a sociedade rondoniense.

Ser tratado como um veterano, como alguém que dedicou a vida a promover a segurança pública e proteger a sociedade é muito bom, uma verdadeira emoção. Relembramos dos momentos de convívio com os colegas e os enormes riscos e desafios que enfrentamos ao longo de três décadas. Infelizmente, nem todos conseguiram chegar ao fim dessa jornada e tornarem-se veteranos: morreram no combate ao crime, ou por doenças e sequelas de doenças adquiridas em razão das adversidades inerentes à carreira policial militar.

No entanto, é impossível não pensar sobre o que mudou em tanto tempo: será que a segurança pública melhorou, será que a sociedade está mais segura? Lamentavelmente, a resposta é NÃO.

Mas, por que as coisas não mudaram, por que nossos esforços não mudaram o mundo ao nosso redor, tornando-o mais seguro e melhor para se viver?

Para quem se dá ao trabalho de ler esta humilde coluna, vai saber que as respostas não são tão simples. Discutimos muito sobre isso, principalmente sobre a complexidade de se planejar segurança pública.

Como já dissemos em artigos anteriores, no que diz respeito a segurança pública, “vivemos um eterno presente”, ou seja, passado, presente e futuro são a mesma coisa, nada muda. O que era (passado), continua sendo; o que é agora (presente), será amanhã (futuro); e o amanhã (futuro) será igual ao presente. Obviamente, não é isso que queremos, nem o que pensamos. É um pessimismo que não tenho. Acredito que a sociedade possa evoluir e aprender. Mas, infelizmente, assim tem sido. Se quisermos um futuro diferente, com mais segurança pública, precisamos fazer diferente, sair dessa inércia, deixar o papel de mero expectador e passar a agir como protagonista nesse cenário político. O povo precisa participar da vida pública. Se não sabem como, aprendam. Tenham a humildade de buscar o conhecimento.

O grande filófoso grego Epicteto, questionava, o que deveríamos fazer para aprender:

Qual é a primeira coisa que deve fazer quem começa a aprender? Rejeitar a presunção de saber. De fato, não é possível começar a aprender aquilo que se presume saber”.

Epicteto

Quanto a mim, não tenho a presunção de achar que sei de tudo, pois “tudo o que sei é que nada sei”. Sendo assim, na qualidade de veterano da segurança pública, cidadão consciente de meus deveres, e de professor, continuarei buscando o conhecimento e transmitindo o pouco que aprendi, pois esta é a tarefa que me foi confiada, como ensinado por Epicteto:

Queiras ser livre. Para essa liberdade, só há um caminho: desligar-se das coisas que não dependem de ti. A tua tarefa é a de representares corretamente a personagem que te foi confiada. Quanto a escolhê-la, não depende de ti”.

Epicteto

Devemos aproveitar as eleições e provocar as mudanças, votando consciente, em pessoas que tenham compromisso com a sociedade, com o Estado e com a lei, e que tenham competência para planejar e executar estrategicamente a segurança pública.

O eterno presente.

Nós mudamos, evoluímos, queremos que a realidade também mude, que a segurança evolua.

Sobre o autor

Sávio A. B. Lessa é Doutor em Ciência Política; pós graduado em Ciências Penais, Segurança Pública, Direitos Humanos e Direito Militar; Advogado Criminalista; Professor de Direito Penal e Processual Penal da FCR; Pesquisador do PROCAD/MIN. DEFESA; e Coronel da Reserva da PMRO.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista


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