Indígenas elaboram plano para monitorar efeitos das mudanças climáticas em comunidades de Roraima

Primeiro Plano de Enfrentamento às Mudanças Climáticas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol é produzido com o auxílio tecnológico de um aplicativo de celular.

“O rio aqueceu? Quantos peixes a gente não vê mais aqui? Olhamos a questão climática desde o chão, das nossas comunidades, e percebemos que já estava impactando a questão da pesca, das roças.” Os questionamentos são da indígena Wapichana, Sinéia do Vale. Ela coordena a criação de um plano ambiental que busca soluções para os efeitos das mudanças climáticas nas comunidades em Roraima.

Sinéia do Vale é coordenadora do Departamento Gestão Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), onde as ideias para o plano são discutidas. Para monitorar os efeitos das mudanças climáticas na Amazônia, os 240 agentes territoriais e ambientais, todos indígenas, usam um aplicativo para celular.

Entre 2011 e 2014, Sinéia organizou a primeira publicação indígena brasileira sobre enfrentamento das mudanças climáticas: “Amazad Pana’Adinham: percepção das comunidades indígenas sobre as mudanças climáticas”, da Terra Indígena Serra da Lua, em Roraima.

“A gente conseguiu ter uma percepção em várias comunidades, em várias regiões aqui em Roraima. Isso nos levou a entrar nessa discussão do clima. O mais importante disso é a gente olhar pra todos esses impactos já sentidos nas comunidades indígenas e a gente poder criar planos, alternativas”, explica.

Aplicativo usado pelos indígenas para monitorar o clima. Foto: Reprodução

Todos os agentes indígenas que integram o projeto atuam como voluntários em suas comunidades. Eles trabalham pra produzir informação para dentro e fora das suas comunidades, com o auxílio de informações para o plano de enfrentamento.

“A gente teve a oportunidade de fazer esse estudo para nós. Nós mesmos, povos indígenas, produzindo informações para nós. São muitas siglas, muitas palavras difíceis, mas quando a gente volta para nossa realidade, não é nada que a gente não conheça. Seja na questão da percepção ou na questão do enfrentamento. Estamos quase finalizando o plano da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima”, pontuou Sinéia durante o anuncio do lançamento do plano na região.

O Plano Indígena de Enfrentamento às Mudanças Climáticas deve ser o primeiro no estado a ter ideias com base da tecnologia gerada por aplicativo. A gestora ambiental lembrou como as comunidades indígenas percebem localmente os impactos das mudanças climáticas.

“Os voluntários – muitas mulheres e jovens – fizeram todas as anotações de incêndios, desmatamentos e outros impactos com seus cadernos e canetas. Desta vez, tivemos o avanço tecnológico, que deu grande ajuda para coletarmos dados de incêndios e desmatamentos, de secas e de cheias, que vêm crescendo muito neste ano”, disse.

Aplicativo

A referência das informações é o aplicativo “Alerta Clima Indígena, desenvolvido em 2017 pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), e lançado, em parceria com CIR.

Segundo Sináia, o Plano de Enfrentamento às Mudanças Climáticas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol “já está saindo do forno” e, com o auxílio tecnológico, o próximo passo pode ser a elaboração de um plano para toda a região da Amazônia.

O assunto foi debatido no segundo encontro dos Diálogos pelo Clima. Sob o tema “Populações tradicionais, indígenas e quilombolas: alternativas econômicas, redes e reconhecimento do apoio na preservação”. O evento reuniu dois representantes do Ministério Público e um da sociedade civil, todos ligados às causas ambientais.

O ciclo de encontros faz parte do Programa COPAÍBAS – Comunidades Tradicionais, Povos Indígenas e Áreas Protegidas nos biomas Amazônia e Cerrado –, com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) como gestor técnico e financeiro e a Iniciativa Internacional da Noruega pelo Clima e Florestas (NICFI), como financiadora.
Segundo o superintendente do FUNBIO, Marcos Serrão, o foco da iniciativa é trazer a atenção para a importância da preservação florestal e como esses mecanismos podem auxiliar no processo.

“Muitas vezes a gente olha para a floresta como um passivo, como uma coisa que tá sendo destruída, e a gente precisa olhar para floresta como uma grande oportunidade. Então a gente precisa de mecanismos simples para traduzir para sociedade brasileira, tomadores de decisão, ministérios públicos, a importância dessas áreas e como a gente pode tirar o melhor enquanto brasileiros desse patrimônio incrível que nós temos”,

finalizou Serrão.

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