Peças arqueológicas da Amazônia brasileira revelam relações entre indígenas do Amapá e do Caribe

O material vem sendo analisado por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa)

Um estudo produzido a partir de achados arqueológicos em Laranjal do Jari apontou que indígenas que habitavam na área onde hoje é o estado do Amapá tinham algum tipo de interação com os índios da Guiana Francesa e da região do Caribe. Este trabalho integra um livro de circulação internacional que propõe mostrar o que a arqueologia já descobriu nessa área da América Latina.

É certo que as populações indígenas já usufruíam destas terras antes da chegada dos portugueses ao Brasil, visto que no sítio arqueológico explorado no Sul do Amapá haviam objetos datados do século 12 ao 15, entre 1150 e 1450.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica

 O material vem sendo analisado por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), como o doutorando em arqueologia Bruno Barreto. Ele explica que os estudos comprovaram que as peças têm traços de materiais também encontrados nas Guianas, demonstrando que povos indígenas dessa região, apesar da distância, mantinham algum tipo de conexão.

“Provavelmente elas estavam inseridas em intensas redes de interação que não só envolviam a troca, mas também outros tipos de relações, como movimentação de pessoas, casamentos exogâmicos – relações entre indivíduos de diferentes grupos étnicos – e que poderiam ter possibilitado essa distribuição muito ampla dessa cerâmica”, comentou Barreto.

As peças foram encontradas durante escavações iniciadas no ano de 2009. Algumas características chamam a atenção como, por exemplo, uma espécie de bacia que pode ter sido usada para misturar alimentos, e pequenos jarros usados no transporte de alimentos e ainda em rituais religiosos.

“A gente acha que ela pode ter ainda uma relação linguística como são essas populações que têm hoje, nos seus remanescentes da região do Oiapoque, do Tumucumaque, embora essa relação não possa ser estabelecida de forma direta porque as populações mudaram de lugar também e passaram pelo processo de decréscimo demográfico decorrente das doenças trazidas pelos europeus”, citou o pesquisador.

Outros dois pesquisadores amapaenses integram o livro chamado “Koriabo: from the Caribbean sea to the Amazon River”, que foi lançado no último dia de 2020. Ele é escrito em inglês e está disponível na internet. A obra foi resultado de um workshop internacional realizado em 2017, no Pará, sobre cerâmicas arqueológicas da Amazônia, reunindo especialistas do Brasil, França, Guiana Francesa e Holanda.

escrito por Wedson Castro e Danillo Borralho

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