‘Empate’: conheça a estratégia utilizada pelos seringueiros do Acre para impedir o desmatamento

A estratégia era baseada em formas pacíficas de resistências: a comunidade se organizava, sob a liderança do sindicato, e seguia para a área que seria desmatada pelos pecuaristas.

Os seringueiros acreanos criaram, entre 1970 e 1990, um método de luta para impedir o desmatamento: o ‘empate‘. A estratégia era baseada em formas pacíficas de resistências. A comunidade se organizava, sob a liderança do sindicato e seguia para a área que seria desmatada pelos pecuaristas. Os extrativistas se colocavam à frente dos peões e jagunços, com suas famílias, mulheres, crianças e velhos. Em um segundo momento, as lideranças do movimento explicavam a eles que, desmatando a floresta, também estariam ameaçados. 

Em 1980, o movimento dos seringueiros espalhou-se por toda a região. Até aquele momento, a luta era liderada por Wilson Pinheiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. No mesmo ano, Pinheiro foi assassinado dentro do sindicato a mando dos fazendeiros locais, quando assistia a um programa de televisão.

Chico Mendes, figura icônica da época, acreditava que a emoção do discurso acarretaria em resultados uma vez que os peões também eram pessoas simples, que cumpriam ordens dos patrões. De março de 1976 até 1988, ano da morte de Chico Mendes, os seringueiros promoveram 45 empates. O próprio Chico Mendes contou que foram 30 derrotas e 15 vitórias dos extrativistas nos processos de tentativa de convencimento dos peões a baixarem suas motosserras.

O ‘empate’ mais tenso da história do Acre ocorreu em 14 de maio de 1988, quando policiais e jagunços se preparavam para entrar nas comunidades de Xapuri. Chico Mendes e outros seringueiros já haviam esgotado todos os argumentos para tentar evitar um conflito. 

Partiu de Marlene Mendes, prima de Chico, uma proposta inusitada: colocar as crianças e as mulheres à frente dos homens para defender a floresta da qual tiravam o sustento e partir ao encontro da polícia e dos jagunços. Assim que os encontraram, os moradores cantaram o Hino Nacional.

Foto: Reprodução/EBC

Tema de estudo

A resistência criada por Chico Mendes se mantem viva, seja na memória dos acreanos ou por meio de jovens pesquisadores, como o caso da auxiliar administrativa da Universidade Federal do Acre (UFAC), Ormifran Pessoa Cavalcante, que escreveu uma dissertação sobre o ‘empate’. 

Na dissertação ‘Carmem: era uma vez um seringal’, Ormifran conta a história dos acreanos que participaram da primeira resistência do ‘empate’ de 1976. O estudo analisa a trajetória de vida de ex-seringueiros do Carmem, que contribuíram para conquistas do movimento. Confira:

“A luta desses trabalhadores marcou minha memória de infância em Brasiléia, onde nasci. Na universidade, fui militante estudante e me identifiquei com a luta. Então, sempre quis contar uma história sobre os trabalhadores da minha terra natal”,

destacou Ormifran.

Na opinião de Ormifram, a atual situação da resistência dos seringueiros do Acre para continuarem se sustentando a partir do extrativismo é um assunto abrangente e complexo. Ela destaca que existem autores (as) que têm se dedicado a abordar sobre a continuidade da luta de resistência dos povos da floresta em se manterem vivendo em seu ambiente original.

“‘Povos da floresta’ foi o termo que serviu para incluir também outros moradores e trabalhadores como ribeirinhos, indígenas e seringueiros, dentro outros, que vivem da caça, pesca e do extrativismo”, lembrou. 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Maior taxa de alfabetização da Região Norte é de Rondônia, aponta IBGE 

Apesar de se destacar na taxa de alfabetização, Rondônia ainda possui disparidades de raça e idade.

Leia também

Publicidade