O mundo dos negócios vem passando por várias transformações por causa da evolução tecnológica. A internet começou a moldar esse futuro ainda na década de 60, mas com o ‘boom’ no início da década de 90. A tecnologia fez surgir novos negócios, mas também ajudou a enterrar muitas tendências. Mesmo agora, há novas ‘bolhas’ prestes a estourar.
Nas décadas de 80, 90 e 2000, as pessoas apostavam tudo o que tinham em novidades para ganhar algum dinheiro, como, por exemplo, na venda de livro de porta a porta, Lan House para jogos eletrônicos, serviços de tele mensagens, videolocadoras e outros negócios que hoje quase não se veem mais por conta da nova era tecnológica e de acesso a informações e serviços.
Para o especialista em marketing, Durval Braga, é natural que a tecnologia venha causando mudanças drásticas no modo como se faz negócios, nas carreiras e no jeito que as pessoas consomem. “É óbvio, tal qual uma citação dos livro ‘Amores Líquidos’, nós temos hoje negócios líquidos, quando as coisas estão muito fluidas e mudam rapidamente”.
Ele acredita também que automação vai roubar alguns negócios, mas as coisas que demandam criatividade, destreza e inteligência social, essas vão permanecer. “Lembro de profissões que ‘bombaram’ antigamente como o marceneiro, o sapateiro e o alfaiate. Pra mim, essas profissões têm umas características bem singulares, as que protegem esses negócios”, salienta.
Ainda sobre esses negócios singulares, Braga afirma que, mesmo que haja uma onda de contracultura ou saudosismo, quando as pessoas se voltam à hábitos e produtos do passado, é a revolução tecnológica que vai continuar moldando o mercado e o comportamento humano. Mesmo que de um outro lado as pessoas estejam voltando a escutar discos de vinil; comprando máquina de datilografar; fabricando câmeras digitais com modelo antigo (vintage), a tecnologia estará por trás desses produtos.
E para os empresários que ainda apostam em negócios do passado, o especialista indica que eles devem ficar de ‘olho’ no comportamento do consumidor. “Ele não deve ficar atento somente na mudança da tecnologia, mas sim no comportamento do cliente, de quem consome. E vejo que estamos entrando em uma onda vintage, em que as pessoas querem o resgate da tradição, porque a tecnologia tornou as relações, além de líquida, insípidas e inodoras”, conclui Braga.
Livro na porta dos anos 80
Após ser demitido da empresa em que trabalhava como vendedor de sapatos, o hoje, contador e escritor Carlos Romano, disse que investiu tudo o que tinha na venda de livros porta em portas.
“Comecei a trabalhar como vendedor de livros em 1983. Na época estava em uma situação meio difícil, tinha perdido o meu emprego, aí surgiu a oportunidade de vender livros escolares; de receitas como a Mamãe Dolores, e aqueles livros ilustrados feitos de madeira que contava a história da Branca de Neve e os Sete Anões. Mas o que vendíamos mesmo, eram os livros de redação e as Bíblias Católica em seis prestações. Gostava muito daquilo”, lembra o contador.
Romano lembra que trabalhou como vendedor de livros por oito anos. “Devo tudo o que tenho a essa profissão, que não exerço mais, pois depois fui estudar e me formei em Ciências Contábeis, que trabalho há mais de 20 anos”, disse.
Para o ex-vendedor, a profissão saiu de moda porque o tempo foi passando e com o advento da internet, ficou mais fácil as pessoas pedirem livros pelos sites. ” de livrarias de vários estados. E por conta disso, foram caindo as vendas aí ficou difícil, então parti para estudar.
Romano afirma, ainda, que hoje o empresário sofre muito com os impostos, que derrubam a produtividade das empresas. “Por isso, é preciso muita perseverança para conseguir se manter no mercado, até para os negócios antigos”, afirma.
E de tanto andar com livros de baixo dos braços e folheando algumas páginas em suas horas vagas, Romano se tornou poeta. “Já escrevi três livros “Vamos Falar de Amor”, “Amor Sublime Amor”, “Um Toque de Amor”. E hoje, estou prestes a lançar o seu quarto, “A Trilogia do Amor”. “Devo esse meu dom ao amor a leitura e a esse trabalho que foi um divisor de água na minha vida”, finaliza.
Vídeo Locadora dos anos 90
Já na década 90, o “boom” tecnológico eram os aparelhos de videocassetes e suas fitas pretas gigantes acondicionadas em capas com imagens e títulos de filmes. Nessa época, também surgiram as vídeos locadoras que alugavam as fitas nos valores de R$2 a R$5 dependendo do dia da semana, com direito a multa de para quem não o entregasse no prazo combinado.
E quem viveu de perto essa experiência das vídeo locadoras, foi o analista de T.I (Tecnologia da Informação) e Infraestrutura, Daniel Sátiro.
Ele conta que, com a parceria com sua mãe, chegaram a ter cinco locadoras em 1995. “Devido o crescimento tecnológico dos vídeos cassetes o mercado de aluguel de fitas cresceu colossalmente, pois observamos uma tendência aqui na cidade e entendemos que o incentivo da ZFM (Zona Franca de Manaus) impulsionava o mercado de importados, principalmente, dos Videos Cassetes, por isso entramos no mercado de locação”.
O analista lembra que na época as pessoas que alugavam as fitas eram de baixo poder aquisitivo, pois não podiam adquiri-las. “Assim era permitido cada um fazer o aluguel dos títulos que lhe interessava e também as lojas varejistas facilitavam muito o financiamento dos aparelhos de videocassete”,ressalta.
Com uma das cinco locadoras localizada no bairro do São Jorge, zona Oeste de Manaus, Sátiro conta que o estabelecimento alugava todos os gêneros de filmes como ação, romance, drama, terror, sexy e suspense. “Por causa da tecnologia quase nenhum negócio é perene, principalmente os que são ligados à TI. Muitos já tiveram sua ascensão e declínio e isso sempre será uma máxima, vieram: HVS/K7 – MD/DVD – PEN DRIVE e a NUVEM”, conclui Sátiro.
Mensagens fonadas e Lan House de 2000
Após o “boom” da internet no Brasil no início da década de 90, os anos 2000 começaram a sentir o poder da comunicação via transmissão discada pelo telefone (com a Intranet), possibilitando que as pessoas recebessem Telemensagens de amigos e parentes em datas especiais. E também levando com que as crianças, jovens e adultos enchessem as Lan Houses de jogos eletrônicos para acompanhar de perto a saga dos personagens Mário e Luigi, da fita Mario Bross, e dos lutadores do Mortal Kombat, que até hoje pode ser baixado de aplicativos pela internet ou jogado pelas cabines de fliperama encontrados nos comércio e espaços de jogos eletrônicos.
Nos anos 2000, as empresas de Telemensagens e a Lan House dos irmãos Jaime e Junior Ribeiro, proporcionaram os primeiros contato dos jovens do bairro do São Jorge com as novas tecnologias. Atualmente fotógrafo profissional, Júnior conta que a Telemensagem era realizada através de um telefone fixo que tinha um dispositivo ligado ao aparelho de som. E com os DVD´s com várias mensagens específicas para datas especiais como Dia dos Namorados, aniversários e etc, as pessoas ligavam para a empresa em busca de surpreender seus amigos, parentes, namorados e cônjuge. “Lembre que após as mensagens, a gente dizia quem era que tinha enviado a declaração. Era um negócio muito lucrativo, porque era novidade interligar o telefone ligado ao aparelho de som”, diz o fotógrafo, ao lembrar que a mensagem custava R$ 5 e a cobrança do serviço era feita por um motoboy que ia até a casa da pessoa que contratava o serviço,. “Na realidade, eu era o gerente e motoboy”, lembra com saudade do tempo.
E quando começou com os jogos de games,em 2003 Júnior lembra que cobrava R$ 2 a hora e ficava aberto até às 20h. “E o cliente ainda tinha direito de trocar três ou quatro vezes de jogo. E o videogame da época era o Nintendo, e suas fitas eram Mário Bross, Marios Kart, Donkey Kong, Street Fighter, Mortal Kombat e Futebol. Acho que tínhamos 25 jogos ao todo”, recorda.
Para o fotógrafo, a internet surgiu para derrubar muitos negócios da década de 80, 90 e 2000. “Mas na época, o acesso a rede pela lan house ainda era muito ruim, porque era discada. Porém, hoje, o acesso é disponível de qualquer lugar, o cara joga com o outro de qualquer lugar do mundo. E até as lans, que ainda existem, as pessoas vão só para jogar porque não tem um computador ou celular bom, mas em um número reduzido. E a telemensagem, por sua vez, é porque as pessoas não viam mais graça. Daí surgiu os carros de mensagem que, geralmente eram acompanhados de uma festa para o homenageado. Aí foi perdendo o brilho do negócio”, lamentou.