Ver o desconhecimento dos manauaras pela história de Manaus foi o insight para que o jovem Thales Saraiva, de apenas 18 anos e já formado em design na Faculdade Fucapi, começasse a desenvolver, em setembro do ano passado, o jogo de tabuleiro ‘Passeio por Manaus’ como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Em fevereiro o jogo ficou pronto e se destacou entre os demais trabalhos apresentados pelos seus colegas, principalmente por destacar um pouco da cidade.
“Vi uma reportagem na televisão na qual mostrava alunos que não sabiam o significado do 5 de setembro. Então tive a ideia de fazer o jogo contando um pouco da história de alguns dos prédios históricos do centro de Manaus”, contou.
Thales partiu para a pesquisa, principalmente em livros, e foi montando um roteiro com alguns fatos relevantes sobre monumentos e prédios antigos da Manaus da belle époque (1890/1910). “Deu um pouco de trabalho, tanto que levei cinco meses desde a parte das pesquisas até concluir o jogo”, explicou.
O interessante do ‘Passeio por Manaus’ é que, além da ideia, Thales construiu o jogo em sua forma física. Na Fucapi uma das disciplinas é prototipação e modelagem na qual os alunos aprendem a tornar reais e palpáveis as suas ideias.
O jogo é composto por um tabuleiro, um conjunto de dados, peões, 35 cartas e uma maleta onde todas as peças são acondicionadas. “O tabuleiro é feito com papel Paraná e coberto com uma lona fina na qual imprimi o passo a passo do jogo. Os dados e os peões eu comprei, mas as cartas eu também fiz no computador. A maleta, toda em papel Paraná coberto com lona foi desenhada e depois montada por mim. Me inspirei na maleta do personagem Newt Scamander, do filme ‘Animais fantásticos e onde habitam’, daquelas tipo de viajante, porque a ideia do jogo é os jogadores serem viajantes querendo saber um pouco mais sobre Manaus”, disse.
O objetivo é industrializar
O ‘Passeio por Manaus’ é aquele típico jogo de tabuleiro onde os jogadores jogam dados e, de acordo com a numeração, pulam de casa em casa indo para a frente, voltando, ou permanecendo no mesmo lugar, de acordo com as regras.
Cada uma das 35 cartas tem uma pergunta e três alternativas de resposta. Quando o jogador cai num dos espaços onde existe uma interrogação, pega uma carta e tem que responder corretamente à pergunta, senão fica parado no mesmo lugar. Quando acerta, ganha notas de réis e permanece com os dados. O jogador que conseguir chegar à última casa, ganha um ingresso para assistir à ópera La Gioconda, de Amilcare Ponchielli, que marcou a inauguração do Teatro Amazonas, em 1896, por sinal, o teatro tem lugar de destaque no jogo. “A ideia é que tudo se passe no Largo de São Sebastião. Quis fazer aquele piso de pedras brancas e pretas da praça no tabuleiro, mas ficou muito forte, então escolhi essa cor, tipo sépia, comum nas fotos da época”, falou. Quando o tabuleiro é aberto, o Teatro Amazonas levanta no sistema interação pop up. “E pretendo torná-lo mais perfeito, como por exemplo, transformar os peões em cajados de São Pedro, no estilo dos antigos postes de iluminação do centro de Manaus”.
Para Alderlane Farias, professora do curso de design e coordenadora do laboratório de experiências em design, responsável em avaliar o TCC dos alunos, “é muito gratificante ter um aluno como Thales. Um garoto com 18 anos e já está formado. Ele entrou aqui na Fucapi com 15. Veio do interior, de Autazes, ficou longe da família, morando aqui com uma irmã e desde o começo sempre foi muito estudioso e dedicado. Taí o resultado de todo esse esforço, seu trabalho sendo reconhecido e elogiado por todo mundo”, falou.
Agora o objetivo de Thales é industrializar a sua criação, e criar outras, sempre mostrando Manaus, o Amazonas e a Amazônia. “É difícil, mas se eu não conseguir aqui em Manaus alguma empresa interessada, vou pra São Paulo mostrar minhas ideias”, adiantou.
Pouco conhecimento sobre Manaus
Segundo Thales, o tabuleiro foi desenvolvido para quatro jogadores ou quatro equipes e é considerado de nível difícil. “A ideia do projeto surgiu a partir de uma pesquisa preliminar feita com um pequeno número de participantes onde se constatou que o conhecimento a respeito da história de Manaus era muito escasso”.
“Pensamos num jogo que falasse de Manaus sem ser repetitivo. Por isso fizemos uma pesquisa de campo com dez perguntas aplicadas a um público com faixa etária entre 20 e 30 anos. A partir dos resultados, aprimoramos a ideia e desenvolvemos o produto”, detalhou. “O trabalho também abrangeu um estudo aprofundado bibliográfico sobre os prédios e lugares de Manaus que quase ninguém conhece”, acrescentou.
“O conhecimento que a maior parte dos participantes tinha era muito escasso, não havendo aprofundamento sobre fatos históricos”, disse, e concluiu, “outra observação feita foi que a forma como o referido tema é apresentado nas escolas não gera interesses em conhecer mais sobre o assunto e que todo o conhecimento que se tem a respeito do tema foi adquirido nas aulas de história ainda no ensino médio”.
O que foi a belle époque
Belle époque (bela época em francês) começou no final do século 19 (1871) e durou até a eclosão da primeira guerra mundial em 1914. Foi considerada uma era de ouro da beleza, inovação e paz entre os países europeus e suas influências se espalharam pelo mundo chegando até a Amazônia.
Na Amazônica a belle époque deu-se por conta do boom provocado pela riqueza proveniente da extração do látex (borracha), e o período entre 1890 e 1910, foi uma época sem igual para Belém e Manaus, os centros da economia da borracha. Após a queda do império e a implantação da república, os ideais positivistas, modernizantes e progressistas do novo regime não demoraram a chegar a região, uma vez que com a implantação do federalismo os Estados ganharam autonomia para recolhimento e aplicação dos impostos, o que possibilitou às elites locais avançarem ainda mais no seu projeto de civilização europeia em plena região amazônica.