Conhecer de perto a cultura indígena é uma experiência que todo brasileiro deve ter. O fotojornalista Alexandre Noronha participou do Festival Yawa e relata a vivência com os indígenas da etnia Yawanawa. Confira:
Há alguns anos cultivava a vontade de conhecer e fotografar o Festival Yawa – evento do povo Yawanawa que celebra sua cultura e recebe convidados em sua aldeia, em Tarauacá. Admito que quando vim trabalhar na agência Notícias do Acre, ser convocado pra essa pauta era um meus principais interesses como fotojornalista.
Faltando apenas dois dias para o início do festival sou informado que havia dado certo, que eu iria cobrir o Yawa e sairia na manhã seguinte. Minha esposa, que também é fotógrafa, quis ir junto. Mas precisaríamos arrumar tudo, comprar a passagem pra ela ir de ônibus e torcer pra quando chegar lá ter vaga no barco, caso contrário ela teria que voltar pra Rio Branco; sendo assim decidimos: Vamos!
No dia seguinte acordei às 5h para levá-la à rodoviária e mais tarde encontrar a equipe para pegarmos estrada: seis horas de carro de Rio Branco a Tarauacá onde dormiríamos, e mais sete horas de barco até chegar à aldeia. Na ida de barco a natureza já começa seu show, em um rio estreito e cercado por uma floresta grandiosa, me senti em um programa da National Geographic.
Chegamos ao fim da tarde, exatamente enquanto se iniciava a abertura. Os Yawa se reúnem em uma grande roda que se estende por todo o terreiro onde rodam e cantam. Logo depois se inicia um momento sagrado onde apenas pajés ficam ao centro do espaço enquanto se purificam na fumaça de uma fogueira de ervas, todos em estado de concentração.
Passado esse momento de abertura, pude parar e olhar a aldeia com mais calma. Organização, crianças brincando, sorrisos. E eu próprio me senti contente em finalmente estar lá, estava tudo dando certo, era tudo muito bonito.
A noite chegou com uma ameaça de temporal, mas que não passou disso. Apenas uma pequena chuva pra deixar tudo ainda mais colorido para o dia seguinte. Essa noite foi a primeira vez em que consegui fotografar um raio.
Acordei animado e segui para o barranco para fotografar a neblina que cobre a mata logo cedo. Naquela manhã, todos estavam dedicados a se pintar com os kenês, uma forma de se prepararem para as brincadeiras que viriam à tarde.
Pouco depois do almoço, estávamos dentro da floresta admirando a imensidão da Samaúma, e enquanto duas meninas brincavam, ouvimos um som alto. Elas se entreolharam e disseram: “vai começar!”. E saíram em disparada da mata. Foi uma tarde de alegria, brincadeiras, todos se divertindo e rindo muito. À noite eu estava exausto, mas satisfeito de estar participando daquele momento.
Nos primeiros raios de sol estávamos de pé, terminando de arrumar a mala para seguirmos viagem. Naquele dia eu e minha esposa completávamos cinco meses de casados, e comemorar em meio a natureza foi uma experiência incrível. Espero muito poder repetir essa vivência ano que vem.