São mais de 120 milhões de usuários de internet no Brasil e 94,5% deles têm como principal atividade a troca de mensagens por meio de aplicativos como o WhatsApp. Os dados do IBGE colocam o país entre as quatro nações mais conectadas do mundo, ao lado dos Estados Unidos, Índia e China. Em meio a esse universo tecnológico, falar sobre selos postais pode até parecer démodé, mas se os selos forem tidos como documentos que até hoje contam parte da nossa história, isso deixa de ser simplesmente conversa de colecionador.
Apresentando um panorama dos sítios e objetos arqueológicos representados nos selos emitidos no Brasil, o Museu Paraense Emílio Goeldi inaugura, nesta quinta-feira (25), a sua mais nova exposição: “Postado! Arqueologia brasileira nos selos”. Unindo paixões, a arqueóloga e pesquisadora do Museu Goeldi, Edithe Pereira, assina a curadoria.
“A ideia da exposição nasceu de duas paixões que tenho: a arqueologia e a filatelia – o estudo e o colecionismo de selos postais e dos materiais relacionados. Eu coleciono selos com dois temas, arqueologia brasileira e arte rupestre do mundo. O objetivo dessa exposição é aproximar o público da arqueologia brasileira e também do universo dos selos e da filatelia. Os tempos são de comunicação imediata, mas o selo continua sendo usado na função para a qual foi criado, mas também são a matéria prima dos filatelistas. Através deles é possível conhecer um pouco de vários assuntos”, explica Edithe.
Peças e sítios arqueológicos
Entre 1966 e 2013, circularam pelo país 21 selos sobre a arqueologia brasileira, nove deles apresentando artefatos ou sítios arqueológicos da Amazônia. Circulando pela primeira vez no dia 6 de outubro de 1966, o selo em comemoração ao Centenário do Museu Goeldi foi o primeiro a fazer referência a arqueologia do Brasil, utilizando como imagem um vaso de gargalo da Cultura Santarém.
Os artefatos da região que foram representados integram o acervo arqueológico do Museu Goeldi. Além dos selos originais, os visitantes vão poder conferir na exposição réplicas das peças, resultado das atividades do projeto “Replicando o passado: socialização do acervo arqueológico do Museu Goeldi através do artesanato cerâmico de Icoaraci”, coordenado pelas pesquisadoras Helena Limae Cristiana Barreto. Para garantir a acessibilidade, algumas peças poderão ser tocadas pelas pessoas com deficiência visual.
Quase cinco décadas depois do primeiro, o selo mais recente é de 12 de agosto de 2013 e teve como tema a arte rupestre na Amazônia. Edithe Pereira foi quem propôs esse tema aos Correios. Na ocasião, foram reproduzidas a paisagem e duas pinturas do sítio arqueológico Serra da Lua, localizado em Monte Alegre (PA). Todas as referências nos selos à história da arqueologia e à pré-história do Brasil foram analisadas por Edithe no artigo A arqueologia brasileira representada nos selos. Publicado em 2014 na Postais – Revista do Museu Correios, o estudo serviu de base para a montagem da exposição.
“É necessário que a população brasileira tenha acesso a informação sobre esse patrimônio arqueológico para que possa entender a sua importância e, assim, ajudar na sua preservação. Exposições como esta são fundamentais para essa missão. Nos últimos anos, houve avanços significativos, principalmente em termos de legislação, visando a proteção do patrimônio arqueológico, mas a preservação desse patrimônio é um desafio permanente”, alerta a pesquisadora que há 30 anos se dedica a pesquisa arqueológica na Amazônia.
Visitas guiadas, oficina e postais
Além das tradicionais visitas guiadas, o Serviço de Educação do Museu Goeldi preparou uma oficina especial para estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio. Conduzida pela professora e filatelista Júlia Pinho, a oficina “Arte Postal” será realizada durante o período da exposição, de terça a sexta-feira (manhã e tarde) com escolas previamente agendadas. Com o envelope como suporte, a ação busca explorar o processo artístico dos estudantes, despertando nas novas gerações o cuidado com a escrita e a percepção das cores no papel. O agendamento das escolas para as visitas guiadas e para a oficina pode ser feito pelo e-mail nuvop@museu-goeldi.br.
Os visitantes da exposição também poderão enviar seus postais de dentro do Parque Zoobotânico, incluindo os cartões criados especialmente com o tema da exposição. A partir do dia 25, será instalada uma Caixa de Coleta dos Correios, próximo ao deck do Café do Museu, resultado da parceria do Museu Goeldi com os Correios. A caixa ficará disponível até o fim da exposição, previsto para o dia 31 de agosto, e as correspondências serão coletadas sistematicamente. A Sociedade Philatelica Paraense (SOPHIPA), entidade parceira na realização da mostra, vai disponibilizar selos com validade postal no dia da abertura da exposição. Uma oportunidade para aprender sobre a arqueologia e a pré-história do Brasil por meio dos selos e também de compartilhar suas impressões postando nas redes sociais e também na caixinha de Correios mais próxima!
“A exposição será inaugurada durante a nossa Semana dos Povos Indígenas, o que reforça o compromisso do Museu Emílio Goeldi com a valorização das culturas dos povos originários do país e também com a defesa do patrimônio material da Amazônia e do Brasil. Será ainda um momento muito bacana para os visitantes se reencontrarem com o gesto de escrever cartas e enviar cartões postais às pessoas queridas, ações afetuosas tão raras nos tempos de hoje”, afirma a coordenadora de Museologia do Museu Goeldi, Wanda Okada.