Quando os socorristas chegaram ao local para socorrer o dono, Negão foi correndo ao lado do veículo até o hospital. Ficou sentado na entrada do pronto-socorro, certo de que o amigo estava lá dentro. O catador de papelão morreu, e não houve despedida.
— O dono morreu, e as enfermeiras se arrependem de não terem mostrado morto para ele. Esses anos todos (ele ficou) na esperança de o dono estar lá dentro. Dormia no papelão ali fora. Estive no hospital e soube, aí levamos casinha, coberta, ração. O hospital permitiu. Um vez por semana, levávamos para banho. Todo mundo conhecia ele — explicou Beatriz Machado, fundadora da ONG Viva Bicho, que prestava assistência ao cãozinho.
Rejane Emedaglia, voluntária da ONG Viva Bicho, contou que a mulher do dono de Negão tentou levá-lo para casa, porém o cachorro continuou fugindo de volta para o hospital atrás do dono.
— Ele achava que o dono estava no hospital e ficou por lá. A gente também tentou trazê-lo para o abrigo, mas ele fugia e voltava para lá. Era vacinado, tomava banho toda semana, ia no veterinário.
Segundo Beatriz, Negão estava no estacionamento quando foi atingido por um motorista. Desde o acidente com o dono, o cão vivia no grande pátio do hospital, e era celebrado por profissionais de saúde do local. Uma vez, tentaram adotá-lo, mas o animal acabou fechado em uma garagem e fugiu de volta para o Ruth Cardoso.
— Me ligaram cedo que ele tinha sido atropelado no hospital. Saí correndo para socorrer e levar ao veterinário. No caminho, me avisaram que ele tinha morrido. Ai, é um desespero. Ele era muito lindo, era uma história muito triste que tinha por trás da dele — destacou Beatriz, emocionada. — Põe lealdade nisso. Agora eles vão se encontrar.