Após três noites de show, o boi-bumbá Caprichoso se consagrou campeão do 52º Festival Folclórico de Parintins, que acontece anualmente na Ilha Tupinambarana (distante a 369 quilômetros de Manaus). O touro negro conseguiu um total de 1257,9 pontos, enquanto o Garantido, que buscava o bicampeonato, marcou apenas 1255,5 pontos.
Com o bumbódromo lotado, o boi Garantido abriu a primeira noite da 52ª edição do Festival Folclórico de Parintins. A apresentação começou pontualmente às 21h30 de sexta-feira (30) e apresentou o tema Magia e Fascínio no Coração da Amazônia.
De um grande coração que se abriu no meio da arena, o boi vermelho apareceu agitando a galera, como é chamada a torcida. Nesse primeiro dia, o Garantido quis mostrar a criação da Amazônia e o encanto que isso gera nas pessoas. Uma grande floresta encantada foi retratada em uma alegoria que chamou a atenção pela mobilidade e expressões faciais.
O boi Caprichoso entrou na Arena quase uma hora da madrugada com o tema a Poética do Imaginário Caboclo. Com uma alegoria gigantesca, o boi azul apresentou as influências da cultura cabocla e o encontro de diversos povos. O “Cine Teatro Brasil de Parintins” foi representando na Arena pelo artista Glaucivan Silva e homenageou o cineasta Silvino Santos.
Segunda noite
A história da origem do Caprichoso foi o destaque da segunda noite de apresentações do boi bumbá azul na 52ª edição do Festival Folclórico de Parintins. A primeira alegoria, confeccionada pelo artista Jucelino Ribeiro, retratou a lenda de Dom Sebastião, rei de Portugal, que, aos 24 anos de idade resolveu ir para o Marrocos converter os mouros ao cristianismo. O monarca desapareceu misteriosamente, e reza a lenda que ele costuma surgir em noites de lua cheia, como um boi com uma estrela brilhante na testa, na praia dos Lençóis, na parte amazônica do Maranhão. Durante todo o espetáculo, o Caprichoso mostrou que investiu em tecnologia e inovação.
O Garantido entrou na Arena do Bumbódromo por volta de 23h15. O boi vermelho abordou na segunda noite o ‘Folclore e a resistência cultural’, como um clamor pela cultura do boi bumbá amazônico, suas origens e tradições. A degradação da floresta amazônica também foi lembrada em uma toada clássica ‘Lamento de Raça’ que emocionou a galera encarnada na voz do levantador de toadas Sebastião Júnior. O auto do boi, que é a lenda que deu origem ao festival, ganhou destaque com uma gigantesca alegoria do boi vermelho.
Terceira noite
A emoção marcou a terceira noite do festival. O primeiro a se apresentar no domingo foi o Garantido, que defendeu o tema ‘Amazônia, esperança e fé’, com uma mensagem de luta pela preservação da floresta. A padroeira da cidade, Nossa Senhora do Carmo, foi homenageada com uma grande alegoria, emocionando o público, embalado pela voz da cantora amazonense Márcia Siqueira. Os dançarinos também surpreenderam a plateia, com uma coreografia bem sincronizada durante a encenação de um ritual da etnia indígena Carajá. Flechas foram disparadas durante o ato.
O Caprichoso abordou a história da arte parintinense e o protagonismo do caboclo, o homem da Amazônia. Na alegoria ‘O calafate’, o boi azul ressaltou o trabalho dos artesãos navais de Parintins. Um dos maiores símbolos da cidade, a Catedral de Nossa Senhora do Carmo foi também representada. A imagem da santa ‘levitou’ sobre a arena, ao som da música Nossa Senhora, cantada pelo levantador de toadas David Assayag, emocionou o público. Outra surpresa da noite foi uma alegoria gigantesca do Boi Caprichoso, que surgiu do céu levado por um guindaste.
Emoção
Emocionado, o presidente do Caprichoso, Babá Tupinambá, ressaltou a harmonia da equipe e o esforço em promover mudanças este ano. “O nosso boi é uma família, o nosso boi é como se fosse sangue do nosso sangue. Todas as mudanças que nós fizemos foi para o bem do Caprichoso, não foi para denegrir ninguém porque nós vimos que estava em um momento de mudança. E nós vamos lutar cada vez mais para buscar o bicampeonato, pode acreditar. O Caprichoso vinha numa crescente a cada noite, trabalhou para ser melhor a cada noite. Ele superou a ele mesmo” afirmou Tupinambá.
Logo após o resultado, a galera do Caprichoso saiu pelas ruas de Parintins debaixo de muita chuva para comemorar a vitória. A festa vai continuar até o fim do dia no curral do boi azul.
Há dez anos, o torcedor azulado Felipe Aires, que é de Manaus, acompanha o festival na ilha Tupinambarana. Mesmo doente, ele vai festejar o título do seu boi preferido. “A gente lutou bastante. É aquela emoção. A gente sempre espera ser campeão e chegamos lá. Estou aqui gripado, com febre, mas já estou aqui nessa chuva saindo atrás da galera”, disse o torcedor.
O Caprichoso conquistou neste ano o 22º título de sua história no Festival Folclórico. Durante os três dias de festa, o boi mostrou que investiu em inovação tecnológica, iluminação, criatividade e ainda em números de ilusionismo.
Cultura
Todos os anos, o Festival Folclórico de Parintins narra a mesma história, mas sempre de um modo diferente. Uma lenda deu origem ao evento: a Mãe Catirina está grávida e sente o desejo de comer língua de boi, especificamente, aquele preferido do amo, o rico fazendeiro onde seu marido, Pai Francisco, trabalha. Para agradar a esposa, Francisco mata o animal. Quando o patrão descobre, ele é capturado. Um médico é chamado e confirma a morte do boi. Para trazer a vida de volta ao bicho, o amo chama um padre, que no festival é representando por um pajé. Com seus rituais, ele consegue ressuscitar o animal e isso vira motivo de festa. Pai Francisco e Mãe Catirina são perdoados pelo amo do boi.
Confira como ficou a pontuação dos bumbás:
Primeira noite
Caprichoso 419,1
Garantido 417,6
Garantido 417,6
Segunda Noite
Caprichoso 419,1
Garantido 419
Garantido 419
Terceira Noite
Caprichoso 419,7
Garantido 418,9
Garantido 418,9
Total
Caprichoso 1257,9
Garantido 1255,5
Garantido 1255,5