Ingrediente obrigatório da culinária local, pode parecer exótico, mas os paraenses dizem que a chamada farinha d’água vai bem com café, açaí, peixe, moqueca, mingau e até sorvete. Na cidade, a farinha é tão importante que tem até ‘casa própria’: “Casa de Farinha” é o nome que se dá ao local onde é fabricada. Durante o Festival Junino, turistas poderão conferir uma “grande casa de farinha” onde haverá produção, venda e degustação de receitas. A estimativa é que cerca de quatro mil quilos de farinha de mandioca sejam vendidos no evento, além das dezenas de receitas com farinha e da mandioca em suas variadas formas, comercializadas nas barracas do festejo.
A farinha de mandioca também leva o nome da cidade para o mundo, um verdadeiro “troféu” conquistado após arrematar o título de “melhor farinha do planeta” no maior festival mundial do movimento slow food, realizado na Itália. O caso de amor é tão sério que o município já trabalha para criar uma certificação de origem da farinha.
Recordações
Um dos responsáveis por isso é Benedito Batista da Silva, o Seu Bené, mais conhecido como Professor da Farinha. O agricultor de 70 anos trabalha com o cultivo da mandioca e produção de farinha desde os 12 e até hoje se emociona ao contar sua história. E não é para menos. O turista que visita sua casa conhece em detalhes o processo de produção que garantiu à farinha do professor Bené o título de “a melhor do planeta”, mas não só.
Ao lado do forno de cobre à base de pedra, ele fala com amor do seu ofício e do “currículo” que dá ainda mais valor ao seu trabalho: “Na qualidade de um ‘professor analfabeto’, pois só sei escrever meu nome, isso aqui é um dom meu e sou feliz por isso. Tem três coisas que fazem a vida da gente valer a pena – conhecimento, alegria de viver e educação/simplicidade”, emociona-se. Hoje, ele produz cerca de 500 kg de farinha por mês, o que nunca é suficiente para atender à demanda local e de clientes de outros estados e até de fora do País.
Festival
A força da cadeia produtiva do turismo e da gastronomia bragantina estão diretamente envolvidos no Festival Junino de Bragança. A preparação “silenciosa” começa seis meses antes, em dezembro, a partir do momento em que outros setores da economia – costureiras, coreógrafos, historiadores, artistas populares, músicos, artesãos e boa parte do comércio – passam a dedicar algumas horas do dia ou tempo integral à preparação da festa. Agora, enquanto uns afinam as rabecas, instrumento usado para tocar o legítimo xote bragantino, líderes de quadrilhas fazem os últimos ensaios para manter a performance de excelência do arraiá, sempre disputadíssimo.
Para o historiador Dário Benedito Rodrigues, a forte tradição junina no município renova a memória da cidade: “As quadrilhas, bois-bumbás e os cordões de pássaros [danças típicas] revelam um grande enredo de cultura local. Aliás, a praça onde o festival é realizado e onde os dançarinos se apresentam é um importante ponto histórico da cidade, pois ali passava a antiga estrada de ferro de Bragança. O festejo revela muito sobre a riqueza da cultura bragantina”.
Festas no Brasil
Bragança (PA) é um dos cinco destinos selecionados para receber ações de promoção e divulgação do Ministério do Turismo. Por meio de edital de chamada pública, a Pasta trabalha na transformação dos festejos juninos em um produto turístico com a cara do Brasil. Um total de 25 propostas de todo o Brasil foram encaminhadas para avaliação da Pasta. Além do município paraense, foram contempladas também Corumbá (MS), Campina Grande (PB), São Luís (MA) e Belo Horizonte (MG).
Segundo o ministro do Turismo, Marx Beltrão, “queremos que o São João tenha seu valor turístico reconhecido tanto no Brasil como no mundo. Trata-se de uma manifestação cultural extremamente rica que tem enorme potencial para se transformar em um produto turístico assim como o Carnaval”.