Foto: Bruna Martins
No Dia Mundial do Turismo, celebrado em 27 de setembro, o Turismo de Base Comunitária (TBC) se destaca como uma poderosa ferramenta para a geração de renda em comunidades amazônicas, além de ser um aliado na proteção das florestas, biodiversidade e rios, e no combate às mudanças climáticas.
A valorização econômica da floresta em pé é essencial para reduzir o desmatamento e a pobreza – dois dos principais objetivos do desenvolvimento sustentável para a região amazônica. Por isso, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) vem realizando iniciativas para fortalecer o empreendedorismo que vem da floresta, em comunidades da Amazônia, aliado a métodos inovadores de gestão.
A instituição apoia pousadas, restaurantes e a cadeia do artesanato na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro e nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro e do Uatumã. Por meio do Programa de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Amazônia e da Incubadora Negócios da Floresta, a FAS proporciona mentoria empresarial para mais de 20 empreendimentos.
Um dos projetos, que teve início neste ano, intitulado “Uma parceria pela conservação da Amazônia: uma Aliança entre Natureza e Criatividade”, visa apoiar os negócios da floresta com o objetivo de combater o desmatamento, promovendo proteção ambiental com desenvolvimento sustentável. A iniciativa é executada com o apoio do grupo LVMH – Moët Hennessy Louis Vuitton SE., e tem duração até 2025.
A superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS, Valcléia Solidade, enfatiza a importância dessa cadeia para a conservação do bioma:
“Essa é uma das principais atividades econômicas para famílias ribeirinhas, sem esquecer que ela ajuda na luta pela floresta em pé. O fortalecimento do turismo é essencial para a contribuição da renda familiar local. Não podemos esquecer que são eles os protetores do nosso bioma e também precisam ser prioridades nas políticas públicas. Infelizmente, desde o último ano, temos enfrentado uma severa estiagem, o que afeta a arrecadação dos negócios, estiagem essa que é resultado das mudanças climáticas, tão alertadas pelos cientistas”, destaca.
Em 2023, o Amazonas enfrentou uma das piores secas já registradas em sua história, quando o Rio Negro atingiu a marca de 12,70 metros, a maior vazante em 120 anos, dificultando a viagem de turistas e afetando os rendimentos dos empreendedores. O impacto foi de quase R$ 200 mil, pois reservas tiveram que ser canceladas e/ou remanejadas para outras datas. Neste ano, a previsão de especialistas é que a seca seja ainda mais severa.
No final de agosto deste ano, o Governo do Amazonas decretou “situação de emergência” em todos os 62 municípios do estado, por causa dos efeitos da estiagem. O Rio Negro, o sétimo maior do mundo em volume de água, chegou a 13,73 metros, neste dia 27 de setembro, ficando apenas a 1,03 metros do recorde registrado no ano passado, em 27 de outubro (12,70 metros), segundo dados do Porto de Manaus.
Na comunidade Tumbira, localizada na RDS Rio Negro, que vem sofrendo com os problemas gerados pela seca, o proprietário da Pousada do Garrido, Roberto Brito, ex-madeireiro e hoje empreendedor da floresta, afirma que sempre enfrentou desafios ambientais, mas que a seca se tornou um grande gargalo, econômico e social.
“Ano passado, parei de trabalhar no dia 26 de setembro. Esse ano eu trabalhei só na [Semana da] Pátria, até dia 7 de setembro. Depois, saí com 12 clientes que eu tinha aqui, já sofrendo muito com o rio seco. O nosso acesso é todo fluvial. Quando você não tem água, não tem acesso, não tem alimento, não tem como fazer as atividades, né?”, destaca. Roberto menciona que a pousada contribui para a renda de 25 comunitários.
Ele ressalta, ainda, que sem um planejamento adequado de órgãos públicos deve ir além do emergencial. “Não há um subsídio que atenda à nossa demanda como empreendedores. Essa atividade, especialmente o turismo de base comunitária, é fundamental para manter a floresta em pé. Mas nenhum turista vem para as comunidades quando elas estão sendo poluídas, derrubadas e queimadas”, explica.
Outro empreendedor da floresta afetado é José Monteiro, dono da pousada Mirante do Uatumã, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã. O empreendimento, que oferece experiências de ecoturismo e pesca esportiva, enfrenta cada vez mais desafios para se manter ativo.
“Ano passado já tivemos um problema com a seca, operamos para manter os compromissos, mas tivemos prejuízo por conta da logística que triplica. Porque para ir buscar os turistas para a pousada você precisa fazer uma volta que aumenta três vezes mais o tempo de ida e de vinda, sem contar com o prejuízo que o motor (do barco) sofre”, comenta.
Além da distância, José acrescenta que os pontos de pesca chegam a ser reduzidos em 80%, comprometendo o faturamento do negócio. A região onde fica a pousada é conhecida mundialmente pelo turismo de pesca esportiva.
“O turismo [de base comunitária] é uma cadeia produtiva muito boa aqui, uma das melhores cadeias de geração de renda para nossa reserva. Mas, a seca é um problema sério para nós, não sabemos mais o que fazer porque vivemos uma hoje, e na próxima temporada terá novamente. Fica muito difícil trabalhar nessas condições”, declara.
*Com informações da FAS