Em Manaus, canadense que viaja o mundo seguirá para Venezuela

Quem não gostaria de viajar pelo mundo, conhecendo os mais diversos países e lugares? Uma boa parte das pessoas responderia que sim, agora, quem gostaria de fazer isso sentado no selim de uma bicicleta durante dias, semanas, meses, anos? O canadense Curtis Flock, 47, está fazendo isso há dois anos. Ele saiu da cidade de Calgary (a terceira mais populosa de seu país, com pouco mais de um milhão de habitantes), na província de Alberta, no Canadá, passou pelos Estados Unidos, México, América Central, desceu por toda a costa pacífica da América do Sul e subiu pela Argentina, Bolívia, Peru, Colômbia e Brasil. Na última semana, ele chegou a Manaus onde pretende ficar até a próxima segunda-feira (23). Mas a viagem de Curtis ainda está longe de acabar.

De Manaus o canadense pretende seguir para a Venezuela, Bahamas, Guianas, depois volta ao Brasil pelo Amapá, chega a Belém e pedala por parte do litoral brasileiro de onde seguirá rumo ao Paraguai, Uruguai e Buenos Aires, de onde pegará um avião e voltará para o Canadá porque, afinal, ninguém é de ferro. Curtis calcula o tempo dessa parte da viagem, a partir de Manaus, em mais um ano.

Foto: Reprodução
Na década de 1990 Curtis, então com menos de 20 anos de idade, começou a praticar Ironman (uma modalidade de triathlon de longas distâncias que compreende provas de aproximadamente 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42,195 km de corrida). No esporte ele desenvolveu a resistência para pedalar por milhares de quilômetros sem jamais desistir antes de chegar ao seu destino. A primeira das longas pedaladas de Curtis aconteceu em 2005, quando ele viajou de Buenos Aires para o Canadá. Desde então resolveu abandonar o Ironman e se dedicar a essas intermináveis viagens.

42 países e cerca de 125 mil km

E dinheiro para custear longas temporadas de andanças pelo mundo? Curtis disse que trabalha com escavações de petróleo e gás em solo e em alto mar, onde controla plataformas. “E ganho muito, muito dinheiro para fazer esse trabalho. Trabalho alguns meses, acumulo bastante dinheiro e depois viajo sem preocupações quanto a isso”, explicou. Para completar, Curtis não é casado e nem tem filhos. “Sou livre e gosto dessa vida”, garantiu. A província de Alberta, uma das dez do Canadá, produz mais de 70% do petróleo e do gás natural do país que é o maior fornecedor de petróleo do mundo para os Estados Unidos. Daí pagarem tanto a Curtis.

Desde que começou a sua sina de viajar pelo mundo sobre duas rodas, Curtis já passou por 42 países e calcula já ter pedalado cerca de 125 mil quilômetros. “Já circulei pela África, América e Oceania (Austrália e Nova Zelândia). Já estive na Europa, mas competindo no Ironman. Quando acabar essa viagem que estou fazendo agora, pretendo começar um percurso pelo continente europeu”, adiantou.

Entre os perigos encontrados pelo caminho, Curtis cita os cachorros, o tráfego, os acidentes e os bandidos, que surgem em alguns países. “Nesses mais de dez anos já sofri cinco acidentes graves. Em três deles tive que ser hospitalizado no país onde estava, mas em dois, fui obrigado a voltar para me tratar no Canadá. Quanto aos bandidos, em 2007 fui esfaqueado na Austrália; em 2009 uma das gangues da Guatemala me agrediu; e em 2011, os guerrilheiros zapatistas, de Chiapas, no México, quiseram me sequestrar. Ainda assim o que me fica na mente são as alegrias, os lugares bonitos que conheço e as experiências positivas pelas quais passo em cada pedacinho do planeta”, falou.

Dormindo na estrada

Apesar de tantas viagens feitas pelo mundo, é a primeira vez que Curtis vem ao Brasil e Manaus a primeira capital que ele conhece no país. “Era um sonho de infância conhecer a Amazônia”, declarou. Nessa viagem de três anos ele já está na terceira bike. Além da bicicleta, o canadense leva um arsenal de apoio: uma infinidade de ferramentas e pneus sobressalentes. Desta feita, como passaria pelos Andes, trouxe um imenso saco de dormir térmico, que agora está mandando de volta ao Canadá para não atrapalhar, devido ao tamanho e o peso. “Diria que 80% do tempo durmo na beira da estrada; 10% em hostels e 10% em casa de amigos, que faço pelas redes sociais e, como eu, também amam essa vida de liberdade, sem se preocupar com o dia de amanhã”, explicou.

Em Manaus, Curtis está na casa do professor de inglês, italiano e espanhol Huberlon Medeiros que, não da forma como o canadense, também adora viajar. “Eu o conheci no site www.couchsurfing.com, um site de viajantes, onde você conhece todo tipo deles, e há essa disponibilização de casas para se ficar entre os praticantes”.

O anfitrião

Quando era solteiro Huberlon aventurou pela Itália, México, Argentina e Venezuela. Em 1996, de bicicleta, foi de Manaus a Presidente Figueiredo, numa época em que a estrada ainda não estava asfaltada. “Levei umas seis horas, pedalando em alguns trechos e tendo que empurrar a bicicleta noutros”, recordou. Em 2001 cobriu todo o litoral brasileiro vendendo artesanato nas praias.

“Voltei a fazer esse percurso bem depois, agora de carro, com minha mulher e meus filhos. Falei para o Curtis não casar, porque depois que você casa e tem filhos, pode-se despedir desse tipo de aventura”, riu. “Hoje gosto de hospedar os viajantes que me pedem um lugar para ficar, porque vários me hospedaram em minhas viagens. Além de recebe-los muito bem em minha casa, ainda faço um city tour, para eles conhecerem um pouco de Manaus”, disse.

Hospedagem couchsurfing

O modelo de hospedagem como couchsurfing segue a linha colaborativa. Os couchsurfers (anfitriões e hóspedes, dependendo da ocasião) abrem suas casas e compartilham suas vidas. As estadias são gratuitas e o couchsurfer conhece viajantes em outras cidades ou em sua própria. Para saber mais, acesse www.couchsurfing.com.

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