O Potencial Amazônico!

 “Empresa 100% brasileira desenvolve plástico 100% biodegradável para aplicação em todos segmentos da indústria”.

“Estamos na Amazônia e temos o apelo e o potencial amazônico”, esta frase, normalmente, é enaltecida pelos teóricos entusiasmados das terras Manauara! Realmente, as oportunidades que se vislumbram são tão grandiosas como o espetáculo do nascer do sol no rio mais caudaloso do mundo, o rio Amazonas (recomendo a todos).

Sem sombra de dúvidas, o potencial da Amazônia é muito maior do que todos nós juntos podemos imaginar em todos os cenários, mas infelizmente, a realidade é muito menor do que o pior cenário já pensado!

Ao longo dos últimos anos, mais precisamente, 12 anos (período que resido em Manaus), eu percebi que, lamentavelmente, as ideias mais incríveis e com potencial de revolucionar a cidade aconteceram somente nas mentes daqueles que hoje estão nos cemitérios!

Nos dias atuais, pode parecer estranho e até mesmo macabro, mas o lugar mais rico e mais inovador é o cemitério. Pois, lá estão aqueles que tinham como prisma a sociedade manauara como um todo, ao invés das brigas de egos e por privilégios que contaminam a cidade.

Nascer do Sol no Rio Amazonas. Foto: Vitor Raposo/Arquivo Pessoal

Todas as ideias que trariam inovação e transformação para a cidade de Manaus, para o Estado do Amazonas e para a nação brasileira, rompendo com os limites que cerceiam a capacidade desta terra, não foram realizadas pelos diversos EGOssistemas que estão incrustados tanto na gestão pública quanto na iniciativa privada e nos institutos de tecnologia.

A Amazônia, o Brasil e o mundo depende de uma nova geração que tenha acima de tudo gratidão! Caso contrário, continuaremos limitados pela incapacidade dos gestores públicos e pela soberba de grande parte da iniciativa privada.

Pelo lado da gestão pública, a falta de perspectiva é tanta que, vez ou outra, surgem ideias pitorescas como o Projeto de Lei 298/20 que visa transformar Manaus em um pólo de compras, assim como foi a Zona Franca nas décadas de 1970 e 1980.

Quando refletimos sobre este PL, percebemos que falta uma visão mínima de tudo!

Indago aos leitores, quem hoje, em sã consciência, sairia de qualquer lugar do país só para comprar alguma coisa em Manaus, mesmo que tenha um custo mais barato, sabendo que: 

(a) passagens para Manaus sempre são caras; 

(b) não existe uma estrutura de equipamentos turísticos que seja atrativa; 

(c) mobilidade urbana é um problema gigante nesta cidade; 

(d) qualidade no atendimento em bares, restaurantes e hotéis é muito complicada; 

(e) Amazon e Mercado Livre, são capazes de lhe entregar tudo com comodidade e na porta da sua casa.

Eu nem viria, e olha que morando aqui, eu compro grande parte do que preciso pelas plataformas pois é muito mais cômodo do que enfrentar um trânsito caótico e fora a possibilidade de ser mau atendido nos estabelecimentos.

Contudo, como diz o ditado “de boas intenções….”, então a ideia não é completamente ruim, mas ela é insuficiente e é retrógrada da forma que foi concebida!

Curauá é uma bromélia amazônica, a fibra extraída das folhas é resistente, macia, leve e reciclável. Foto: Vitor Raposo/Arquivo Pessoal

É preciso uma visão sistêmica e a estruturação de um programa que seja capaz de proporcionar condições para que todos possam desfrutar do Potencial Amazônico. Mas, para isso se faz necessário:

  1. Que a gestão pública tenha coragem para atravessar a ponte da maturidade e da responsabilidade social e assim, parar de seguir na contramão da história;
  2. Que a iniciativa privada que, normalmente, faz o mínimo para “cumprir a tabela” das contrapartidas referente aos benefícios da Zona Franca de Manaus, invista no desenvolvimento de inovação para a sociedade manauara fora dos campos designados pelas regras de PD&I da Suframa;
  3. Que os famosos institutos de tecnologia possam entregar benefícios concretos e reais para os cidadãos da cidade porque até o momento nada foi feito de concreto no tal ecossistema de inovação e tecnologia, perdão têm os prêmios que parecem ser a razão pela qual todos lutam;

Possuímos, enquanto cidade, Estado e nação, uma diversidade de recursos naturais da floresta que são atualmente subaproveitados. 

E, mesmo com toda pujança do Polo Industrial de Manaus, são raríssimas as iniciativas direcionadas para o desenvolvimento interdisciplinar envolvendo a bioeconomia, a inteligência artificial, a nanotecnologia, o blockchain, a internet das coisas (IoT) e a educação criativa.

Um exemplo interessante é que há mais de 10 anos o INDT (na época vinculado à Nokia), produziu toda a parte plástica de um telefone utilizando 100% de uma planta amazônica chamada Curauá.

O protótipo foi aprovado em todos os testes internacionais e nacionais, mas não havia na época capacidade de produção por falta de plantios da planta na região amazônica. Mas, a tecnologia avançou e poderia ser desenvolvido este modelo de produção através da engenharia genética.

Como seria interessante ler a seguinte manchete no Portal Amazônia e nos mais diversos canais de comunicação do mundo:

“Empresa 100% brasileira, criada no Polo de Tecnologia e Inovação da Amazônia, desenvolveu um plástico 100% biodegradável para aplicação em todos segmentos da indústria”.

Seria um orgulho da nossa terra! Seria fantástico, não é mesmo?

Já imaginou que, a partir de uma iniciativa aqui do coração da Amazônia brasileira, poderíamos desenvolver soluções dos mais diversos problemas da humanidade?

Isso sim, seria utilizar o Potencial Amazônico! Mas, algumas pessoas, principalmente as que estão no poder e as que detém o poder financeiro, acham que isso se restringe à pesca esportiva, ao encontro das águas e ao festival folclórico de Parintins.

Quem pensa diferente, que lute. Então, sigo lutando!

Existem tantas outras oportunidades: óleos essenciais, frutas com grande riqueza nutricional que podem ser implementados em dietas de alto rendimento como o camu-camu, o açaí, o guaraná, o cumaru (baunilha amazônica), potenciais fármacos e muitos outros que ainda desconhecemos!

Por fim, é preciso que os representantes do povo e a iniciativa privada, principalmente, as empresas dos Pólo Industrial de Manaus ajudem a construir uma Nova Amazônia em gratidão à toda riqueza que vem sendo extraída desta terra desde o seu estabelecimento.

Enquanto isso não acontecer, o cemitério continuará sendo o melhor representante do tal Potencial Amazônico. Que possamos refletir sobre isso, e claro que cada um possa fazer a sua parte!

Até breve!

Sobre o autor

Vitor Raposo é empreendedor em diversos segmentos, mentor, consultor e professor. Doutorando em Humanidades e Artes pela Universidade Nacional de Rosario – UNR, na Argentina; especialista em inovação e negócios pela Nova Business School em Portugal, em Gerenciamento de Projetos pela FGV e em Gestão Estratégica de Negócios pela UCB. Atua como voluntário no Instituto Soka Amazonas e no Capítulo Amazônia do Project Management Institute (PMI-AM).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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