A grande questão é que as pessoas não reconhecem o próprio potencial, ficando à mercê das tendências da sociedade e da mídia.
As pessoas, de uma maneira geral, acreditam que os seus problemas serão solucionados por algum agente externo ou por um simples passe de mágica. Entretanto, é a busca pelo auto aprimoramento como ser humano que nos possibilita ultrapassar as circunstâncias que nos afrontam. O ilustre filósofo e sociólogo ítalo-argentino José Ingenieros (1877-1925) escreveu: “a inquietude de saber mais, de poder mais, de ser mais, renova o homem incessantemente”.
Portanto, qual seria um conceito fundamental para enfrentar as incertezas e os desafios do Século 21?
Quando analisamos o momento da sociedade contemporânea, percebemos que a lebre da inovação tecnológica superou em muito a tartaruga da inovação social. E este atraso é responsável, sem sombra de dúvidas, por todas as questões globais atuais. Ao longo de toda a história da humanidade, podemos recorrer a diversas histórias que corroboram com o viés do auto aprimoramento e da importância das relações humanas como meio de promover o desenvolvimento.
Gostaria de compartilhar com vocês a revolução promovida por Dave Brailsford, na equipe britânica de ciclismo. Em 2003, quando assumiu como diretor de performance, os ciclistas profissionais da Grã-Bretanha haviam suportado quase 100 anos de mediocridade. Para termos uma ideia, desde 1908, nenhum ciclista britânico havia vencido a maior corrida do ciclismo mundial, o Tour de France, e haviam conquistado apenas uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.
Tudo começou a mudar quando Brailsford implementou sua filosofia de autoaprimoramento diário e como resultado, durante os anos de 2007 a 2017, a equipe britânica dominou praticamente todas as competições. Foram conquistados 178 campeonatos mundiais e 66 medalhas de ouro olímpicas e paralímpicas, e, claro, 5 vitórias do Tour de France. Magnífico, não é mesmo? Mas, observe que tudo isso só foi possível pela transformação individual de cada membro da equipe, ou seja, pela revolução individual.
O termo Revolução Humana foi utilizado pela primeira vez pelo professor japonês Jossei Toda e foi disseminado para o mundo através do filósofo e educador Daisaku Ikeda. O princípio desta revolução não se refere à busca de algo incomum ou sobrenatural, mas sim em ter um novo olhar sobre as circunstâncias atuais, esforçar-se e promover um autodesenvolvimento com o objetivo de influenciar positivamente – mesmo que uma só pessoa.
No Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, a palavra “revolução” possui, entre outros significados: “ato ou feito de revolucionar(-se), de realizar mudanças profundas”, “ação de revolucionar”, “mudança profunda ou completa”, “subversão: revolução de costumes”. No mesmo dicionário, a palavra “humano” possui, entre outros significados: “que denota compaixão”.
Poderíamos, então, interpretar que a revolução humana é o ato de revolucionar e realizar mudanças profundas com compaixão. Concordam? Mas, como isso está relacionado com o Século 21? Calma, vamos construir juntos este entendimento!
Durante toda a minha trajetória profissional, tive a oportunidade de trabalhar com pessoas das mais diversas culturas, etnias, crenças, filosofias e premissas. O interessante foi perceber que, com o passar do tempo, mesmo que todas mantivessem o ritual de lançar metas anualmente, algumas estavam sempre renovando as metas enquanto outras ousavam em atingir novos patamares por já terem atingido as metas lançadas.
Ao codificar estas percepções, concluí que todas aquelas pessoas buscavam, sem exceção, se aperfeiçoar como ser humano – o que também incluía os desejos materiais e mundanos. Mas, existia um pequeno detalhe que fazia uma grande diferença entre as que tinham o hábito de renovar das que ousavam. E para exemplificar, vou trazer dois conceitos da cultura japonesa que utilizo há mais de 30 anos: Mokuhyou (目標) e Mokuteki (目的).
O Mokuhyou tem o sentido de objetivo comum, algo do cotidiano, o to do list de cada dia. Ou seja, as pessoas que estavam sempre renovando suas metas anos a fio, na verdade, buscavam ganhar bastante dinheiro, adquirir um belo apartamento, comprar o carro do ano, encontrar a mulher ideal ou ter boas roupas. Embora estas não sejam grandes realizações, as pessoas pensavam que alcançariam a felicidade com tais conquistas.
No outro extremo, encontra-se o Mokuteki, algo de significado profundo e genuíno. As pessoas que utilizavam este conceito, estavam em busca do aprimoramento como forma de transformar a própria realidade e daqueles que estavam em seu entorno. Como consequência, esse esforço genuíno e sincero as direcionou para oportunidades e resultados jamais imaginados. Superando, e muito, toda e qualquer expectativa.
Estaria mentindo se afirmasse que nenhuma pessoa que aplicava o conceito do Mokuhyou nunca tivesse obtido êxito em atingir as metas. A verdade é que, com raras exceções, até conseguiram atingir, mas não foi sustentável porque tal pessoa não havia evoluído para se manter no novo patamar.
Infelizmente, uma grande parte das pessoas estão presas dentro de um campo de visão limitada da vida. Poderíamos até compará-las a um cavalo que tem seu caminho restringido por um par de antolhos. A grande questão é que as pessoas não reconhecem o próprio potencial, ficando à mercê das tendências da sociedade e da mídia.
Existem alguns pontos que são fundamentais para que cada um possa buscar o seu novo olhar e novos horizontes. Na próxima coluna, darei continuidade neste tema que me encanta e é o grande direcionador da minha vida pessoal e profissional.
Gostaria muito de saber a sua opinião sobre esta e as demais colunas! Se puder, deixe um comentário no post da coluna no meu instagram.
Até breve!
Vitor Kurahayashi
Vitor Kurahayashi é mentor e consultor, fundador da Hayashi Consultoria & Soluções em Sustentabilidade, diretor no grupo Travel Corp, professor em MBA nos cursos de Gerenciamento de Projetos e Gestão Estratégica de Negócios, atua como voluntário no Instituto Soka Amazonas e no Capítulo Amazônia do Project Management Institute (PMI-AM). Administrador pela Universidade Católica de Brasília – UCB, Master em Business Administration pela FGV e em Gestão Estratégica de Negócios pela UCB; doutorando em Educação Superior pela Universidade Nacional de Rosario – UNR, na Argentina.