A falácia do planejamento estratégico das organizações lineares

As organizações continuam usando as cartas náuticas da época dos colonizadores, enquanto soluções inovadoras baseadas na navegação por GPS estão disponíveis.

A falácia do planejamento estratégico se torna cada vez mais evidente no atual ambiente de negócios contemporâneo, atualmente repleto de desafios complexos e dinâmicos – impulsionados por mudanças tecnológicas, emergências climáticas, avanços em inteligência artificial generativa, computação quântica e outras inovações disruptivas. No entanto, muitas organizações continuam a depender de abordagens tradicionais que apresentam limitações para enfrentar a incerteza inerente ao cenário global. É imperativo explorar alternativas que abordem de maneira eficaz o contexto no qual todos nós estamos inseridos.
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As organizações se predispõem e investem reunindo seus executivos, gestores e consultores externos para elaborar estratégias, métricas e objetivos para o ano seguinte e/ou um espaço temporal de dois a cinco anos. Entretanto, o resultado desse esforço não está relacionado a uma visão de futuro! 

Planejamento Estratégico: Uma Abordagem Insuficiente e Ultrapassada 

O modelo convencional de planejamento estratégico tem sido uma prática comum em organizações, baseado em premissas lineares, extrapoladas do presente e com uma visão de que o futuro é uma continuidade do presente. Executivos como o ex-CEO da GE, Jack Welch, ainda são referências de gestão para executivos limitados e incapazes de reconhecer que essa abordagem já se mostra inadequada para lidar com as incertezas associadas aos desafios emergentes. 

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Ao longo das últimas décadas atuando como consultor e mentor, o que mais encontro são organizações e executivos que não conseguem cumprir as ações do planejamento estratégico. E, quando cumprem, não atingem o resultado almejado porque ao longo da jornada, ocorrências de “força maior” não foram mapeadas e provocaram, além da mudança de percursos, prejuízos. Ou seja, as organizações continuam usando as cartas náuticas da época dos colonizadores, enquanto soluções inovadoras baseadas na navegação por GPS estão disponíveis.

A persistência no uso de ferramentas e procedimentos lineares para realizar o planejamento nas organizações pode ser atribuída a vários fatores:

  1. Tradição e Inércia Organizacional: muitas empresas têm uma tradição estabelecida de usar métodos lineares de planejamento. A resistência à mudança e a inércia organizacional podem levar à continuidade de práticas ultrapassadas que conduzem, em alguns anos, as organizações a um período de dificuldades;
  2. Familiaridade e Simplicidade: abordagens lineares são, muitas vezes, simples de entender e implementar. A familiaridade com esses métodos pode levar as organizações a preferirem a simplicidade em detrimento da complexidade associada a métodos mais avançados;
  3. Cultura Empresarial Conservadora: empresas com culturas conservadoras tendem a resistir a mudanças radicais, por isso adotam métodos convencionais – mesmo que haja evidências de que abordagens mais inovadoras poderiam ser mais eficazes;
  4. Foco no Curto Prazo: algumas organizações, especialmente aquelas pressionadas por demandas de curto prazo, podem optar por métodos lineares por sua suposta rapidez e eficiência, ainda que sacrifiquem a capacidade de antecipar e lidar com mudanças futuras;
  5. Falta de Consciência ou Educação: em alguns casos, as empresas podem não estar plenamente cientes das alternativas disponíveis ou falta educação sobre métodos mais avançados;
  6. Pressão por Resultados Imediatos: a pressão por resultados imediatos, especialmente em ambientes competitivos, pode levar as organizações a optarem por abordagens lineares que aparentam fornecer respostas mais rápidas, mesmo que isso signifique negligenciar a preparação para o futuro.

Para superar esses desafios, é fundamental promover a conscientização sobre a importância da adaptabilidade e inovação nos métodos de planejamento. As organizações que conseguem integrar abordagens mais flexíveis e prospectivas têm maior probabilidade de prosperar em um ambiente empresarial dinâmico e incerto, criando novas oportunidades de negócios. 

Os Desafios das Mudanças Tecnológicas 

Mudanças tecnológicas, como inteligência artificial generativa e computação quântica, estão redefinindo os limites do que é possível. Organizações que não incorporam essas mudanças em sua visão de futuro e, consequentemente, em seu plano de ações, correm o risco de ficar para trás, pois as inovações transformam a maneira como as empresas operam e interagem com seus clientes. 

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É notório que as conquistas incríveis da computação nas últimas décadas abriram caminho para a criação de novas arquiteturas e aplicativos de computação. O metaverso foi uma das grandes trends desse ano que certamente adormecerá em 2024, pois ainda são necessários avanços significativos e implementação de tecnologias de computação e conectividade. Mas isso não significa que essa tecnologia deixará de existir, pelo contrário. Paralelamente, os computadores quânticos serão capazes de invadir qualquer computador criptografado convencionalmente.

Como está o plano de ações estratégicas da sua organização para este tema em especial? 

Emergências Climáticas e Sustentabilidade 

 Há poucos dias, foi realizada a COP 28. Muitas expectativas foram criadas e é verdade que houve alguns avanços, mas o saldo é negativo. E, pessoalmente, acredito que o principal ponto para isto é a insensatez dos líderes em entender que as principais tendências exponenciais que afetam o planeta e a sociedade são um tema complexo – envolvendo não apenas desafios científicos e tecnológicos, mas também questões sociais, políticas e econômicas.

Ao abordar questões como emissões de gases de efeito estufa, perda de biodiversidade e resíduos globais, é crucial analisar criticamente as bases para acreditar ou duvidar da capacidade da humanidade de enfrentar esses desafios de maneira produtiva. A crescente preocupação com as emergências climáticas exige que as organizações adotem estratégias sustentáveis, oportunizando envolvimento com a circularidade da economia local e global.

Planejamentos lineares muitas vezes ignoram a necessidade de adaptabilidade em face das mudanças climáticas, o que pode resultar em impactos negativos tanto para as empresas quanto para o meio ambiente. Logo, plantar árvores e doar cestas básicas por si só, como ações isoladas, não resolvem absolutamente nada.

Como está a matriz de materialidade da sua organização?

A Importância do Strategic Foresight 

O Strategic Foresight oferece uma abordagem mais dinâmica e adaptativa para o planejamento das organizações. Ao invés de depender de projeções lineares, as organizações que incorporam o Strategic Foresight exploram cenários alternativos, antecipam mudanças disruptivas e aprimoram habilidades para construírem o futuro preferido ante aos futuros prováveis, possíveis e plausíveis.

A capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças é uma vantagem competitiva crucial na atualidade. Ao integrar o Strategic Foresight, as organizações podem antecipar tendências, identificar oportunidades emergentes e mitigar riscos de maneira proativa.

É importante ter a capacidade de compreender que as tendências reforçam-se mutuamente e não são ocorrências isoladas. Consequentemente, é relevante debruçar-se e examinar o potencial das tendências em relação à situação específica de cada organização e identificar como mitigar os riscos e/ou maximizar as oportunidades provocadas pelos possíveis impactos.

Por fim, em um mundo caracterizado por mudanças rápidas e imprevisíveis, o planejamento estratégico linear mostra-se inadequado para guiar as organizações rumo ao sucesso. A incorporação do Strategic Foresight não é apenas uma resposta necessária, mas uma estratégia vital para prosperar na era das incertezas tecnológicas – Sociedade 5.0. As organizações que adotam essa abordagem estão melhor posicionadas para navegar pelos desafios futuros, moldando um caminho sólido e adaptável para o sucesso sustentável.

A minha provocação final é: a sua organização está focada em mitigar a pobreza ou em criar prosperidade?

Vitor Raposo é Humanista e Empreendedor. Fundador da Hayashi Consultoria, Sócio-Diretor da TravelCorp e da Sala VIP Harmony Lounge.

Atua como empreendedor, mentor e consultor. Foi gestor de grandes organizações no Brasil e no exterior. Articulista sobre Sociedade 5.0, Novos Negócios, Revolução Humana Individual, Sustentabilidade e ESG no Portal Amazônia. Idealizador e apresentador do Ser Humano Podcast, um programa sobre a essência das pessoas de valor e o impacto de ser genuíno.

Idealizador e realizador do Amazonia Forest Summit – fórum para debater as oportunidades para a Amazônia com diversidade e um olhar para o futuro da região com foco na inovação, na sustentabilidade, nos recursos humanos, no ESG, nos negócios, na tecnologia e nas tendências.

Doutor em Administração e Mestre em Ciências da Educação para a Sociedade 5.0 pela Facultad Interamericana de Ciências Sociales – FICS; Foresight Practitioner; Especialista em Sustentabilidade pelo MIT; em Inovação e Negócios pela Nova Business School, em Gerenciamento de Projetos pela FGV e em Gestão Estratégica de Negócios pela UCB.

Paralelamente, atua como voluntário e Presidente no Capítulo Amazônia do Project Management Institute (PMI-AM), foi por 14 anos como Diretor de Programas e Projetos Ambientais do Instituto Soka Amazonia. Recentemente, foi indicado e conduzido à função de Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Opção Verde. 

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