Foto ilustrativa, 2022. Foto: Reprodução/Acervo Governo do Maranhão
Com o objetivo de analisar a saúde mental e a cognição das comunidades quilombolas, pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) conduzem um estudo que busca envolver comunidades quilombolas em pesquisas sobre a doença de Alzheimer. A pesquisa está sendo desenvolvida pelos professores Gilberto Sousa Alves e Bruno Luciano Carneiro Alves de Oliveira, do Departamento de Medicina da UFMA, em colaboração com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a Universidade de Columbia e a Escola de Medicina Icahn, no Monte Sinai.
Recentemente, resultados da investigação foram apresentados no Alzheimer’s Association International Conference (acesse aqui).
De acordo com os pesquisadores, os quilombos, geralmente localizados em áreas rurais remotas, enfrentam desafios significativos, como saneamento básico deficiente, altos níveis de analfabetismo e acesso limitado a serviços sociais e de saúde, especialmente entre os idosos. Estes fatores tornam a população quilombola socialmente vulnerável e potencialmente em maior risco de demência, embora, frequentemente, sub-representada em pesquisas sobre envelhecimento e demência.
O estudo, parte do projeto “Pesquisa Populacional sobre Condições de Vida e Saúde de Idosos Residentes em Comunidades Quilombolas da Baixada Maranhense (IQUIBEq)”, desenvolvido na UFMA em parceria com a Universidade de Columbia e o Mount Sinai Hospital, ambos de Nova Iorque. O projeto tem por objetivo principal analisar vulnerabilidades, níveis de bem-estar, variantes de riscos genéticos e biomarcadores associados às doenças ao envelhecimento em quilombolas da cidade de Bequimão, a 76,5 km de São Luís, na Baixada Maranhense.
A pesquisa foi realizada em onze comunidades quilombolas do Maranhão, incluindo 221 idosos com idades entre 60 e 104 anos. Os participantes foram selecionados em parceria com serviços sociais locais e agentes comunitários de saúde.
O professor e pesquisador da UFMA Bruno de Oliveira explica que a escolha do grupo de idosos como foco do estudo se justifica pela escassez de pesquisas direcionadas a essa faixa etária.
“Tradicionalmente, alguns estudos de quilombolas tendem a olhar crianças e mulheres, não havia um estudo importante no Brasil que olhasse sistematicamente diferentes dimensões da vida e saúde de idosos. Então escolhemos a cidade de Bequimão, que é um ponto equidistante entre o Cujupe e o Câmpus de Pinheiro, onde a UFMA mantém os cursos de Medicina e Enfermagem. O projeto surge em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, Igualdade Racial e prefeitura municipal de Bequimão”, pontua.
O professor destaca que o projeto é importante por abordar especificidades locais, como as populações quilombolas, além de contribuir para a formação de recursos humanos e produção acadêmica significativa.
“A formação de graduação em geral tende a não olhar as especificidades locais, homogeneiza muito a população e esquece as especificidades, como os quilombolas. Então, a gente formou recursos humanos, foram quase dez trabalhos de conclusão de curso entre alunos de graduação de Enfermagem e Medicina. Tem uma tese de doutorado já defendida, uma tese de doutorado em encaminhamento, que já coletou os dados e, a qualquer momento, começa a parte de análise para seguir para a defesa. Também, tem uma outra dissertação de mestrado a caminho. Além dos alunos de iniciação científica com concedida dada pela Universidade, pelo CNPQ e pela Fapema. São vários alunos, em torno de 7 a 8 alunos de iniciação científica desde 2018”, comenta.
Pesquisa
Os idosos realizaram um teste cognitivo utilizando o Miniexame do Estado Mental. Foram coletados dados demográficos, fatores de risco cardiovascular (como relação cintura-quadril e índice de massa corporal), desempenho cognitivo e envolvimento social. A análise buscou relacionar o engajamento social com a cognição, levando em conta idade, sexo, raça, escolaridade, renda familiar e fatores de risco cardiovascular. A pesquisa também investigou se idade e sexo influenciavam essa associação.
Os resultados revelaram que um maior envolvimento social está associado a uma melhor cognição, independentemente da demografia e dos fatores de risco cardiovascular. As atividades sociais que mais contribuíram para esses resultados foram a participação em reuniões comunitárias e em serviços religiosos. Não foram encontradas diferenças significativas na associação entre envolvimento social e cognição em relação à idade e ao sexo dos participantes.
A conclusão do estudo sugere que o engajamento social pode ser um aspecto fundamental da saúde cognitiva na população quilombola, que enfrenta condições de vida desafiadoras. O envolvimento social não apenas proporciona apoio social e emocional, mas também facilita o acesso a necessidades básicas, como habitação e saneamento. Outros mecanismos potenciais incluem a estimulação cognitiva presente nas interações sociais e os efeitos do envolvimento espiritual e religioso.
*Com informações da Universidade Federal do Maranhão