A enfermidade atinge principalmente as pessoas de descendência familiar africana.
Formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Rebeca vem desenvolvendo em sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente (PPGCiamb) uma investigação sobre o uso tradicional das plantas medicinais em pessoas acometidas pela doença no Tocantins, principalmente em crianças. “Estamos fazendo um levantamento desses dados porque não temos nenhum estudo registrado sobre isso aqui, no Tocantins, até o momento”, afirma Rebeca.
Uso de plantas medicinais
Os levantamentos da pesquisadora focam especialmente nas plantas medicinais endêmicas do ecótono Cerrado-Amazônia
“Trata-se de um estudo voltado para a nossa região mesmo, para que tenhamos um novo conhecimento local em relação a essas plantas, sobre o que já é usado culturalmente pelos pacientes, por suas famílias… Precisamos fazer esta correlação científica com o saber cultural, se realmente há algo científico estudado nisso; se não, que a gente estude, que façamos essa articulação entre o uso cultural e o uso científico das plantas medicinais nessa população”,
explica a pediatra e professora pesquisadora.
Alta ocorrência e subnotificação
No Brasil, a doença falciforme tem alta ocorrência, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Estima-se que, atualmente, haja entre 60 mil e 100 mil pessoas acometidas pela doença no país, que ainda é subnotificada, no entanto.
No Tocantins, para cada 10 mil crianças nascidas, até cerca de quatro delas podem apresentar a doença, cujo diagnóstico se faz principalmente pelo teste do pezinho. Nos adultos – que, por alguma razão, não foram diagnosticados ainda no nascimento -, o diagnóstico é feito por outro exame de sangue: a Eletroforese de Hemoglobina.
“Mas, no nosso estado, o diagnóstico da doença somente passou a integrar o teste do pezinho, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em 2013. E acreditamos que haja uma subnotificação: tem quem não leve o bebê para fazer o teste, quem leve e, depois, não receba o resultado do SUS ou mesmo não vá buscar o resultado. Enfim, são muitas as situações para a subnotificação e possivelmente este número de recém-nascidos diagnosticados no Tocantins possa ser bem mais elevado”,
destaca Rebeca.
Doença falciforme, o que é? Um guia fácil para entendermos
A doença falciforme é, na verdade, um conjunto de doenças causadas pela presença de hemoglobina anormal S – em homozigose ou heterozigose com outra hemoglobina anormal – nos glóbulos vermelhos do sangue, as chamadas hemácias.
A hemoglobina é a proteína responsável por transportar oxigênio aos nossos tecidos, e ela está presente nas hemácias. As hemácias são, originalmente, células arredondadas e flexíveis, que percorrem todos os vasos sanguíneos do nosso corpo, levando o oxigênio que está ligado à hemoglobina.
Só que, nas pessoas com doença falciforme, as hemácias sofrem alterações no seu formato original por conta de uma mutação na sequência do gene HBB, responsável por codificar a subunidade beta da hemoglobina. Quando mutado, esse gene HBB acarreta a formação anormal da hemoglobina, originando a hemoglobina S (HBS, sendo o S da palavra em inglês sickle, que significa foice).
A partir desta alteração, as hemácias também se modificam: de arredondadas e flexíveis, elas adquirem o formato de uma “foice” e ficam mais rígidas. Essas novas características acabam dificultando sua passagem pelos vasos sanguíneos e, como consequência, comprometem a circulação sanguínea da pessoa afetada pela doença e a oferta de oxigênio ao cérebro, pulmões, rins e outros órgãos.
“Na doença falciforme, a hemoglobina S, que é uma hemoglobina anormal, mutante, é transmitida geneticamente dos pais/mães para os filhos(as), ou seja, é uma doença hereditária”,
reforça Rebeca
Sintomas e complicações da doença falciforme
As hemácias mutantes, em formato de foice, são propensas a aderirem às paredes dos vasos, provocando a obstrução da circulação sanguínea da pessoa acometida pela doença. Esta falta de oxigênio na região onde as hemácias estão bloqueando a circulação do sangue leva o paciente a um quadro bastante doloroso, chamado de crise vaso-oclusiva.
A doença falciforme, ressalta Rebeca, é potencialmente grave e suas complicações podem ocasionar a morte – daí o acompanhamento médico ser indispensável na rotina dos pacientes.
Entre as complicações da doença, estão:
- Sequestro esplênico: mais frequente em crianças, podendo levá-las à óbito;
- Síndrome torácica aguda: quadro pulmonar grave e, por vezes, fatal;
- Doença renal: podendo necessitar de hemodiálise ou transplante;
- Retinopatia: se não tratada, causa cegueira ao paciente;
- Acidente vascular cerebral isquêmico: inclusive em crianças, podendo deixar sequelas ou mesmo levar à óbito;
- Osteonecrose: uma lesão óssea, que acarreta deformidade e dor crônica;
- Úlcera de membros inferiores: de difícil cicatrização.
“Temos este atendimento no Ambulatório do Hemocentro, disponível na capital Palmas e no município de Araguaína”,
informou Rebeca.