Localizada dentro da Maternidade Celia Vilacrez, em Tabatinga (AM), foi inaugurada a primeira sala de parto humanizado que atende parturientes indígenas no Estado. A unidade regional recebe, desde agosto, pacientes do SUS e é responsável pela assistência de uma população de quase 60 mil indígenas, distribuídos em 189 comunidades, representantes de sete etnias. A maternidade é uma unidade gerenciada pela Secretaria do Estado de Saúde do Amazonas.
A criação da sala de parto humanizado – parto com realização mínima de intervenções médicas, como anestesias ou monitoramentos eletrônicos, apenas os autorizados pela gestante – é uma parceria a maternidade e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Solimões e já atendeu 35 gestantes indígenas.
Geralmente, segundo a Sesai, grande parte dos partos realizados em indígenas acontece na própria aldeia, com o auxilio da medicina tradicional indígena, com parteiras e pajés. “A criação da sala de parto tem como objetivo atender a uma reivindicação dos povos indígenas de terem um espaço apropriado, que respeite suas especificidades culturais, para quando necessitarem ser atendidos em uma unidade hospitalar fora da aldeia”, informou a Sesai ao Portal Amazônia.
“A ambiência da unidade é adequada às especificidades das parturientes indígenas. Com o funcionamento da unidade, a Sesai espera reduzir os partos tardios, que geram sofrimento para criança e para mãe, e, sobretudo, acabar com os óbitos por causas evitáveis, garantindo sempre um ambiente acolhedor para as parturientes indígenas”, afirmou o coordenador do DSEI Alto Rio Solimões, Weydson Pereira.
Procedimento
As pacientes são acompanhadas desde o início da gestação na própria aldeia pelas equipes de saúde. Na nota, a Sesai informou que se houver necessidade de remoção da paciente até a maternidade, em Tabatinga, “este deslocamento também é realizado pelo DSEI, na maioria das vezes por meio de voadeiras (barcos rápidos)”.
“A sala de partos garante ainda o direito do acompanhante e da parteira tradicional, buscando respeitar as práticas tradicionais e a autonomia da gestante indígena em garantir sua cultura. Permite, ainda, o uso de cuidados tradicionais com a parturiente indígena e com o recém nascido, além do batismo do nome indígena e da etnia indígena”, explicou Pereira. Segundo a Sesai, após a alta médica, equipes da DSEI são responsáveis de levar a mãe e o bebê até a aldeia de origem.
Segundo Pereira, os polos bases indígenas mais beneficiados são os mais próximos do município e, para estender os atendimentos, são realizadas visitas para fomentar a ideia de que as gestantes indígenas podem ter o parto na maternidade, para priorizar a redução de riscos. Para isso, a equipe do DSEI acompanha os pré-natais e avalia quais são mais propensas a ir para a maternidade, por exemplo. “O trabalho é de conscientização contante também com as parteiras. Tendo em vista essa maternidade, que é unica nessa especificidade, a Sesai e o Grupo Curumim vão fazer campanha de troca de saberes já nesse fim de semana, dias 3 e 4, junto com as parteiras e profissionais de saúde para trocar ideias e aproximar”, contou.
Expedições de Saúde
Outra ação que visa priorizar a saúde na região do Alto Solimões, no município de São Gabriel da Cachoeira, é o mutirão de cirurgias e atendimentos especializados em áreas indígenas. Realizado no último dia 26, a ação tem como objetivo promover uma assistência diferenciada às comunidades indígenas do Brasil.
Uma das expedições promovidas pela Sesai é a Tracoma/Triquíase, uma ação pioneira que tem o objetivo de erradicar os casos de tracoma entre os indígenas da região de Yauaretê, mediante a realização de um mutirão de cirurgias plásticas, reparadoras, para casos em que a doença já apresenta quadros mais avançados de deformidade (triquíase). Entre os dias 10 e 19, três cirurgiões plásticos atuaram no atendimento a cerca de 80 indígenas.
Já em Assunção do Içana, a Expedição realizou mais de dois mil atendimentos especializados e 250 cirurgias de cataratas e hérnias. O ministro da saúde, Ricardo Barros, e o secretário Especial de Saúde Indígena, Rodrigo Rodrigues, estiveram presentes e visitaram as instalações do centro cirúrgico montado no meio da floresta amazônica.Segundo Rodrigues, a ação em parceria com a entidade Expedicionários da Saúde e ministério da Defesa, por meio o Exército Brasileiro, é uma oportunidade de levar atendimento de média complexidade, sem que a comunidade tenha que esperar por dias para receber procedimentos cirúrgicos nos centros urbanos.