Matéria-prima promissora: pesquisa desenvolve nanoemulsão com óleo de manga

Em Belém, as mangueiras (árvore da qual a manga se desenvolve), refrescam e embelezam as ruas, por isso a capital paraense ficou conhecida como “cidade das mangueiras”. 

Fruto originário da Ásia que se deu muito bem em solo brasileiro, a manga é popular, afrodisíaca e refrescante. A combinação entre o verde, o amarelo e o vermelho lhe confere uma característica única que a faz ser conhecida ao redor do mundo. No Brasil, especificamente em Belém (PA), as mangueiras (árvore da qual a manga se desenvolve), refrescam e embelezam as ruas.

Foto: Alexandre de Moraes

Muito se sabe sobre o sabor e as inúmeras sobremesas que podem vir da utilização da fruta, porém a farmacêutica Rosa Alcione Rodrigues Sodré foi além: com o óleo de manga, ela produziu uma nanoemulsão que pode ser aplicada na indústria cosmética e trazer inúmeros benefícios para a população.

‘Obtenção e caracterização de uma nanoemulsão contendo óleo de manga para aplicação tópica’ foi o título da dissertação de Rosa Alcione, a qual teve como objetivo desenvolver e caracterizar a nanoemulsão para, no futuro, buscar uma parceria com quem possa desenvolver produtos que a tenham como base. A pesquisadora conta que, graças às características do óleo de manga, surgiu a ideia de desenvolver um produto com aplicabilidade capilar ou tópica, mas, para se chegar a esse resultado, primeiramente, era necessária a matéria-prima – a nanoemulsão, que foi desenvolvida durante sua pesquisa de mestrado.

Uma das vantagens apresentadas com a utilização da nanoemulsão foi o aumento da hidratação da pele e de sua elasticidade, pois estamos falando de uma partícula de escala nanométrica, com maior capacidade de adentrar na pele. 

“O mercado já apresenta bastantes emulsões, mas elas possuem o tamanho de gotas maiores e têm dificuldade de penetrar uma superfície pequena, ficando retidas na primeira camada da pele. Dependendo do tamanho e do objetivo que se quer alcançar, a nanoemulsão pode chegar até a área em que está o colágeno”, 

ressalta a farmacêutica.

Obtenção do óleo requer trabalho minucioso 

O aproveitamento de constituintes não convencionais da manga pode oferecer uma alternativa ao descarte nas indústrias de sucos, em que cerca de 60% do fruto, em peso total, é descartado em grande quantidade como resíduo, por exemplo, as cascas e as sementes. O óleo utilizado no estudo para a produção da nanoemulsão advém do endocarpo da amêndoa, região fina e mais interna do fruto que protege a semente. Devido a essa característica, a obtenção desse óleo demanda um processo minucioso que exige atenção. Por esse motivo, Rosa Alcione Rodrigues Sodré contou com o apoio de empresas que lhe forneceram a matéria-prima durante o desenvolvimento da pesquisa.

A nanoemulsão contendo óleo de manga foi obtida em laboratório, em duas etapas. Rosa Alcione explica que, para chegar ao produto final, existem dois componentes que não se misturam: o óleo de manga (fase oleosa) e a água destilada (fase aquosa). Para obtenção da nanoemulsão, óleo e água são aquecidos separadamente em até 75ºC, um tensoativo é adicionado ao óleo de manga para homogeneizar óleo e água, que, ao serem misturados, não se separam mais.

Foto: Reprodução/Alepa

Em seguida, a parte aquosa é derramada lentamente sobre a fase oleosa, em agitação constante, em um agitador magnético a 600 rpm, durante dez minutos, formando, assim, uma pré-emulsão, que é retirada rapidamente do aquecimento (após dez minutos) e submetida à agitação a 10.000 rpm, em outro equipamento, o ultraturrax, por 12 minutos. Logo após, vem o processo de resfriamento e, ao final, tem-se a nanoemulsão. Depois desse processo, a nanoemulsão é submetida a uma série de análises, denominadas físico-químicas, as quais indicarão se o produto final está ou não de acordo com o Guia de Estabilidade de Produtos Cosméticos.

O produto obteve excelentes resultados nas análises submetidas, o que indica a possibilidade e, futuramente, a nanoemulsão ser explorada comercialmente pela indústria. Contudo, para que se tenha o aval final, alguns testes ainda precisam ser realizados. 

“Para que a nanoemulsão com óleo de manga possa ser utilizada na indústria, é necessário fazer algumas testagens, como as de prateleira, aplicabilidade, atividade antifúngica e a de ação anti-inflamatória”, 

ressalta Rosa Alcione Sodré.

A pesquisadora explica que, se os resultados continuarem bons, o produto de sua dissertação servirá de base para inúmeras aplicabilidades cosméticas, como hidratantes, condicionadores e protetores térmicos para a pele e o cabelo.

A autora, que também é profissional da área da beleza, explica que é difícil encontrar nanocosméticos no mercado e os poucos que existem têm os preços excessivamente elevados. Por esse motivo, Rosa Alcione considera o seu produto promissor e vantajoso em relação ao custo/benefício para o consumidor final. “No mercado, você encontra produtos com micropartículas, mas não com nano. Meu desejo é que essa tecnologia saia do laboratório e chegue logo ao consumidor”, finaliza.

Vantagens do uso de nanoemulsões em cosméticos 

  • Devido ao seu tamanho reduzido, proporcionam uma melhora na eficiência da penetração cutânea de ativos presentes na formulação (PEREIRA et al.,2016).
  • Promovem uma melhor hidratação e elasticidade da pele, possuem toque agradável e de fácil espalhabilidade (NGAN et al.,2015; BRESOLINI et al., 2016).
  • Têm a possibilidade de proporcionar aumento na permeabilidade de ativo pouco solúvel (DAUDT, et al.,2013).
  • Previnem a ocorrência de floculação e coalescência das gotículas mantendo o sistema disperso e estável (TADROS et al.,2014, AGOSTINHO 2017). 

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, n° 169, escrito por André Furtado

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