O hidrogel curou cerca de 95% de úlceras nos pés do paciente, durante um tratamento terapêutico que durou 53 dias
Um pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) desenvolveu um hidrogel à base de gengibre amargo, capaz de evitar amputações das extremidades em pacientes diabéticos. A ideia foi produzida pelo pesquisador Carlos Cleomir de Souza Pinheiro que possui doutorado em biotecnologia e recursos naturais e em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Faculdade de Medicina do ABC, a Universidade Federal do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas e a Fundação de Controle da Oncologia do Estado do Amazonas O extrato do gengibre amargo tem potencial cicatrizante, anti-inflamatório, citotóxico para células necrosadas, microbiano, analgésico e vasodilatador.
O processo do gel se desenvolveu há cerca de 20 anos e foi testado em 27 pacientes diabéticos que sofriam com úlceras nos pés, com agravamento para amputação.
Os primeiros testes do hidrogel de gengibre amargo com humanos foram feitos durante 90 dias, em pacientes diabéticos com indicação de amputação da Unidade Básica de Saúde José Amazonas Palhano, no bairro São José 2, Zona Leste de Manaus.
O resultado curou pelo menos 95% das úlceras nos pés em um tratamento terapêutico que durou 53 dias, destacando que esse teste fez parte da dissertação de mestrado em biologia urbana do enfermeiro Maurício Ladeia, orientado por ele.
O hidrogel pode ajudar, também, na cicatrização de úlceras causadas por outras doenças, como o câncer.
Para produção do medicamento, Carlos criou a Biozer da Amazônia, empresa incubada no INPA, a fim não só de produzir o gengibre amargo como de possibilitar a chegada do hidrogel ao mercado.
Diabetes
O diabetes é uma doença metabólica caracterizada pela incapacidade do organismo de processar a glicose de maneira rápida ou suficiente. Apesar de necessária à vida, a glicose em excesso na corrente sanguínea pode causar danos aos rins, cegueira e levar à amputação dos membros inferiores.
A doença se divide entre os tipos 1 e 2. No primeiro caso, o diabetes se relaciona ao sistema imunológico e costuma ser identificado na infância ou adolescência. As células imunológicas acabam atacando outras, entre elas, as responsáveis pela sintetização da insulina. Já o diabetes tipo 2 se caracteriza pela produção insuficiente ou inexistente de insulina, fazendo com que o organismo não seja capaz de controlar o nível de açúcar no sangue. No Brasil, a estimativa é de que 90% dos casos de diabetes sejam do tipo 2.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 11 pessoas no mundo é diabética. Em 2014, as estatísticas da OMS apontavam para 422 milhões de diabéticos, um aumento de 290% em relação a 1980. No Brasil, o diagnóstico entre 2006 e 2016 passou de 5,5% para 8,9% da população, um aumento de 61,8%. Os dados nacionais da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) apontam ainda que a tendência de crescimento é observada em todo o mundo, influenciada por fatores como mudanças nos hábitos alimentares, prática de atividades físicas e envelhecimento da população.