Estudo revela que quase 90% dos moradores do Acre não têm acesso à rede de esgoto

Saneacre diz que o estado fará investimentos na capital e no interior em parceria com o governo federal para ampliar a cobertura dos sistemas.

Foto: Aleksandro Soares/Saneacre

Um estudo da Feira Internacional para Água, Esgoto, Drenagem e Soluções em Recuperação de Resíduos (IFAT Brasil) mostrou que 89,5% dos moradores do Acre não têm acesso à rede de esgoto, em mais uma pesquisa que revela dados preocupantes sobre o saneamento básico do estado.

Segundo o levantamento, outros 52% dos moradores não são atendidos pela rede de água, ou seja, pouco mais da metade dos mais de 880 mil habitantes do estado.

A IFAT é um evento que reúne investidores e estudiosos do mercado de saneamento básico em todo o mundo. No Brasil, ela acontecerá em junho de 2025.

Cenário preocupa

Em 2023, a capital acreana perdeu três posições no Ranking do Saneamento, elaborado pelo Instituto Trata Brasil. Nesse levantamento, maior cidade do Acre ocupa a 97ª posição entre as 100 maiores cidades do país, com apenas 20,6% da população contemplada pelos serviços de esgoto, e outros 53,5% de moradores da capital com acesso à rede de água.

A diretora de planejamento e projetos do Serviço de Água e Esgoto do Estado do Acre (Saneacre), Daniela Tamwing, ressalta que, apesar de o órgão atuar nos serviços prestados no interior do estado, o governo reconhece a complexidade e importância do saneamento básico na capital. Por isso, foi assinado um termo de cooperação entre os executivos municipal e estadual em 2023.

Com isso, o estado aposta na revitalização da Estação de Tratamento de Esgoto Redenção (ETE Redenção), em Rio Branco e outros cinco elevatórios próximos. De acordo com o Saneacre, 40 mil moradores da região do Igarapé Rendenção serão beneficiados pelas obras.

Ainda segundo Daniela, os estudos que já estão sendo elaborados incluem o esgotamento sanitário do segundo maior município do Acre, Cruzeiro do Sul. O projeto deverá ser executado em parceria com o governo federal, com a estimativa de R$ 2 milhões em recursos. O estado também garantiu, dentro do Novo PAC, R$ 72 milhões para projetos de abastecimento de água.

“E em relação ao interior, é necessário investimento primeiramente para a parte de projetos e depois para a execução desses projetos”, completou.

Perda de água e pavimentação

Outro ponto abordado pelo Ranking do Saneamento e que foi ampliado pelo IFAT Brasil, é a perda de água em toda a rede do estado. No estudo de 2023, Rio Branco apareceu com taxa de 56,5% de volume perdido na distribuição ao consumidor. Em todo o estado, o índice é ainda maior, com 66% de perda.

Rede de tratamento de esgoto de Rio Branco atende 22,6% da população, aponta Trata Brasil. Foto: Alcinete Gadelha/g1 AC

De todo o esgoto gerado, ainda segundo a IFAT Brasil, apenas 0,7% é tratado. Dentro do volume que é coletado, 8,6% são tratados. A coleta de lixo chega a 74% dos domicílios do Acre.

Entre as vias que percorrem as áreas urbanas do estado, 68% contam com pavimentação e meio fio. No mesmo recorte, apenas 13,6% da área urbana tem cobertura de vias públicas com redes ou canais pluviais subterrâneos.

Municípios foram cobrados

O Tribunal de Contas do Estado (TCE-AC) notificou 20 cidades do interior do Acre e cobrou planos para o saneamento básico e resíduos sólidos. A decisão deu 180 dias para que prefeituras de 19 cidades apresentem diretrizes e cumpram as leis e decretos federais que instituem a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), e consta na edição de 25 de novembro do Diário Eletrônico de Contas.

Ainda conforme o tribunal, os administradores dos seguintes municípios devem apresentar projetos para a gestão de resíduos sólidos:

Acrelândia;
Assis Brasil;
Brasiléia;
Bujari;
Capixaba;
Cruzeiro do Sul;
Epitaciolândia;
Feijó;
Jordão;
Mâncio Lima;
Manoel Urbano;
Marechal Thaumaturgo;
Porto Acre;
Porto Walter;
Plácido de Castro;
Rodrigues Alves;
Senador Guiomard;
Sena Madureira;
Santa Rosa do Purus e
Tarauacá.

A decisão afirma que o objetivo é notificar os municípios “para que apresentem, no prazo de até 180 dias contados a partir da notificação, Plano de Ação para implementação do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PMGIRS, com definição de prazos, atividades e responsáveis, de forma a atender os dispositivos da Lei nº 12.305/2010 e Decreto Federal nº 10.936/2020, sob pena de aplicação de multa por descumprimento do art. 89, inciso IV, da LCE 39/93”.

Além disso, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) também foi notificada, ainda no âmbito da lei estadual, para que apresente um plano de ação com medidas que garantam o cumprimento do Plano Estadual de Gerenciamento integrado de Resíduos Sólidos (PEGIRS), em conjunto com os municípios. O Grupo Rede Amazônica entrou em contato com a pasta, e aguarda retorno até a última atualização desta reportagem.

Só a capital possui sistema

Foto: Aleksandro Soares/Saneacre

Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que apenas Rio Branco, Bujari e Brasileia possuíam serviço de esgotamento sanitário em 2021. A pesquisa que leva em consideração essas informações analisa a qualidade de vida no estado.

Porém, o Grupo Rede Amazônica conversou com o professor do Instituto Federal do Acre (Ifac), o engenheiro Florestal, mestre em ciências ambientais e especialista em direito ambiental, Clautevir Lima, que explicou que, apesar do estudo apontar três cidades com esse serviço, na verdade, apenas a capital tem esse sistema.

Ele diz ainda que falta, por parte dos gestores públicos, investimentos nesses empreendimentos que não têm muita visibilidade.

“Para os municípios, o principal empecilho é a indisponibilidade de recursos financeiros para custear a indústria do saneamento básico que, diga-se de passagem, é muito onerosa. Ora, os municípios acreanos são extremamente dependentes de recursos financeiros repassados pelos governos federal e estadual. De acordo com a Política Nacional de Saneamento Básico (Lei nº 14.026/2020), possuir o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) seria uma forma que o município tem de acessar recursos oriundos do governo federal para o referido setor”, destaca.

*Por Victor Lebre, da Rede Amazônica AC

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