De planta ornamental a antioxidante natural: conheça a “raiz do sangue”

Justicia secunda, conhecida como “raiz do sangue” e “sanguinária”, é uma espécie de arbusto originária da região amazônica cujo chá é comumente utilizado na cultura tradicional popular para o tratamento de doenças como a anemia.

By Dick Culbert from Gibsons, B.C., Canada – Justicia secunda, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=32950997

O organismo do ser humano está sempre trabalhando para que o seu sistema permaneça saudável. Porém, muitas vezes, seja devido ao estresse, à má alimentação, ou a outros fatores externos, há um desequilíbrio das substâncias presentes nesse sistema, provocando danos que vão desde o envelhecimento precoce da pele até a doenças como o câncer.

É o caso, por exemplo, da presença em excesso de radicais livres no organismo. Essas moléculas são produzidas o tempo todo no nosso corpo, mas são instáveis e, em grande quantidade, podem causar prejuízos às células e, inclusive, ao DNA. A boa notícia é que, nessas situações, o uso de substâncias antioxidantes auxilia na neutralização dos radicais livres.

Isso demonstra a importância da investigação etnofarmacológica das plantas, a qual permite tanto a revelação de novas espécies para uso medicinal quanto a descoberta de novos compostos ativos que podem otimizar e orientar o uso popular em tratamentos de doenças. Para contribuir com esses estudos, a pesquisadora Allana Ataíde, de 22 anos, desenvolveu, sob orientação do professor Milton Nascimento da Silva, a pesquisa que visa à ‘Caracterização química via HRMS-LC e avaliação da capacidade antioxidante do extrato hidroetanólico das folhas de Justicia secunda Vahl M. (Acanthaceae)‘.

De acordo com a pesquisa, a Justicia secunda, popularmente conhecida como “raiz do sangue” e “sanguinária“, é uma espécie de arbusto originária da região amazônica, na América do Sul, mas também introduzida em países africanos tropicais e subtropicais. Apesar de ser ornamental, a planta tem o chá comumente utilizado na cultura tradicional popular para o tratamento de doenças como a anemia.

Foto: Alexandre de Moraes

O estudo promissor da Justicia secunda, a “sanguinária”

A principal motivação dos estudos da jovem pesquisadora foram os resultados de pesquisas anteriores realizadas pelo laboratório ao qual está vinculada, o Laboratório de Cromatografia Líquida (Labcrol), do Departamento de Química da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Observou-se que, por ser uma espécie rica em flavonoides, compostos que costumam apresentar atividade antioxidante, seria viável realizar uma investigação acerca da natureza antioxidante do extrato hidroetanólico de Justicia secunda.”

Para a análise das amostras das folhas, foram selecionadas folhas maduras e flores e/ou frutos com aproximadamente 30 a 40cm de comprimento. O material coletado foi enviado para o Herbário da Embrapa Amazônia Oriental, situado em Belém do Pará, a fim de realizar a identificação e o registro em vouchers.

“Foi realizado o preparo da amostra, então, o seu fracionamento, uma vez que o fracionamento permite melhor analisar a natureza dos metabólitos que garantirão o resultado. Posteriormente, foi feito um estudo no equipamento chamado de HPLC (High Performance Liquid Chromatography) para caracterizar, quimicamente, os metabólitos encontrados na amostra e nas suas frações. Para finalizar, foi feito o estudo qualitativo e quantitativo antioxidante (DPPH e ABTS) das amostras”, esclarece Allana.

Segundo a pesquisadora, os resultados obtidos na análise do extrato hidroetanólico das folhas da “sanguinária” são promissores e permitem afirmar que esta é uma espécie rica em compostos fenólicos. 

“Esse extrato e sua fração metanol (a mais promissora) possuem capacidade antioxidante”.

A expectativa da Allana Ataíde é dar continuidade ao estudo com a Justicia secunda, pois ainda não foram esgotadas todas as possibilidades e há muito a investigar sobre a espécie que pode proporcionar inúmeros benefícios para a sociedade em termos de futuros tratamentos fitoterápicos e aplicações biotecnológicas.

Sobre a pesquisadora

Allana Martins dos Santos Ataide, de 22 anos, é graduanda em Farmácia pela UFPA. Atualmente, é bolsista de Iniciação Científica no Laboratório de Cromatografia Líquida (Labcrol). Atua na área da fitoquímica, química orgânica, métodos cromatográficos. Também é diretora de produção do Projeto de Extensão na UFPA intitulado “Açaí com Ciência”. Allana tem interesse em continuar na área de pesquisa, ingressando no mestrado. Ler, se exercitar e ouvir música são as melhores formas de descontrair que a jovem destaca. Para as meninas e mulheres que desejam ingressar na pesquisa, ela dá a dica: “Apesar das adversidades vividas no cotidiano de uma mulher, principalmente na Academia, que é um local escasso de figuras femininas, ingressar na carreira de pesquisadora, para quem possui interesse, é algo fantástico quando se trabalha com o que você gosta de realizar. Produzir ciência em um país carente de investimentos nesse campo é algo que pode parecer árduo, mas, no final, quando você vê tudo dando certo, é recompensante”, defende.

Sobre a pesquisa

O trabalho intitulado ‘Caracterização química via HRMS-LC e avaliação da capacidade antioxidante do extrato hidroetanólico das folhas de Justicia secunda Vahl M. (Acanthaceae)‘ foi realizado sob orientação do professor Milton Nascimento da Silva (Icen/UFPA), com financiamento Pibic/CNPq. A pesquisa foi apresentada durante o XXXIV Seminário de Iniciação Científica da UFPA, realizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), e premiada pelo Edital Pibic Verão Destaque na Iniciação Científica da UFPA (edição 2023) como representante da área de Química.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, escrito por Julia Ladeira

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