Queimadas no Acre cresceram 32% em relação a 2023. Foto: Neto Lucena/Secom AC
Com o município de Sena Madureira em segundo lugar, pelo menos cinco cidades acreanas apareceram no ranking das 10 mais poluídas do país em 2024, de acordo com um levantamento da plataforma IQ Air, que mede a qualidade do ar em vários pontos do planeta e disponibiliza os índices online.
A região Norte como um todo foi o destaque negativo do levantamento. Além de Sena Madureira, também apareceram no ranking os municípios de Rio Branco (3º), Xapuri (8º), Manoel Urbano (9º) e Santa Rosa do Purus (10º). A lista foi liderada pela cidade de Porto Velho, em Rondônia. Além das cidades do Norte, as demais estão localizadas no estado de São Paulo.
O monitoramento utiliza o Índice de Qualidade do Ar (AQI, na sigla em inglês), métrica usada internacionalmente no acompanhamento da poluição do ar no mundo todo. O AQI consiste nos microgramas de partículas por metro cúbico (µg/m³).
- 0 a 5 µg/m³: a qualidade do ar é considerada inofensiva pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
- 5.1 a 10 µg/m³: a qualidade do ar é aceitável, no entanto, pode haver um problema moderado de saúde para uma pequena parcela das pessoas com doenças respiratórias;
- 10.1 a 15 µg/m³: índices são preocupantes para um número elevado de pessoas com doenças respiratórias. O público geral ainda não é afetado;
- 15.1 a 25 µg/m³: índices são pouco saudáveis, e a maioria das pessoas é afetada. Pessoas com doenças respiratórias podem ter sintomas graves;
- 25.1 a 35 µg/m³: muito prejudicial à saúde. Toda a população tem maior probabilidade de ser afetada;
- A partir de 35 µg/m³: perigoso, todos podem sofrer efeitos mais graves para a saúde.
O levantamento indica que a cidade acreana com pior qualidade do ar, Sena Madureira, teve média de 27.3 µg/m³. A capital Rio Branco ficou com 23.6 µg/m³. Confira o ranking:
Porto Velho (RO) – 29,5 µg/m³
Sena Madureira (AC) – 27.3 µg/m³
Rio Branco (AC) – 23.6 µg/m³
Osasco (SP) – 22,1 µg/m³
Rio Claro (SP) – 20,8 µg/m³
Ribeirão Preto (SP) – 19,9 µg/m³
Carapicuiba (SP) – 19,4 µg/m³
Xapuri (AC) – 19,1 µg/m³
Manoel Urbano (AC) – 18,7 µg/m³
Santa Rosa do Purus (AC) – 18,7 µg/m³

Queimadas e poluição
Um dos principais fatores que contribuíram para a poluição do ar de cidades acreanas foram as queimadas. O ano de 2024 fechou com 32% de aumento na comparação com 2023.
Durante o verão, período em que o estado também enfrentou a seca de rios e igarapés devido à falta de chuvas, os números de incêndios urbanos e rurais foram alarmantes, e fizeram com que a qualidade do ar fosse prejudicada.
Rio Branco chegou a ter a pior qualidade entre as capitais e as aulas chegaram a ser interrompidas em municípios do estado por conta do avanço da fumaça.
O geólogo da organização não-governamental (ONG) SOS Amazônia, Hugo Monteiro, destaca que o cenário das queimadas foi preocupante em todo o país. O Brasil teve aumento de 46% no número de queimadas na comparação com 2023, o que ocasionou em uma maior concentração de CO² (dióxido de carbono) na atmosfera.
“De acordo com o Copernicus (observatório europeu), o Brasil emitiu mais de 180 megatoneladas de carbono na atmosfera e todas essas emissões foram em decorrência dessas queimadas”, acrescenta o especialista.
Ainda segundo Monteiro, as cidades do Norte ocuparam a maior parte das posições do ranking de cidades mais poluídas graças aos altos índices de queimadas registrados na região.
“A região que mais registrou focos de queimada, de acordo com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)- e o bioma amazônico foi o mais atingido – registrou mais de 140 mil focos de queimada. E aí, mesmo com a queda do desmatamento, a gente sabe que teve uma queda no desmatamento. Mas o número de desmatamento ainda é muito grande, e a gente sabe que essa queda não tem muito o que comemorar, porque mesmo que não haja desmatamento, se há queimada, não tem como a árvore se recuperar após o fogo”, afirma.
Além das consequências sociais e de saúde ocasionadas pelos incêndios, o especialista chama atenção para os principais efeitos ambientais que as queimadas podem causar. O aumento na poluição atmosférica pode prejudicar os chamados “rios voadores”, como são chamadas as correntes de vapor de água que saem da Amazônia em direção a outras regiões do continente.
“Então, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, foram registrados também chuva ácida, chuva tóxica, por conta dessa contaminação desses rios voadores. Tudo isso por conta da grande quantidade de CO² que foi liberada na atmosfera por conta das queimadas”, finaliza.
*Por Victor Lebre, da Rede Amazônica AC