Localizado às margens do rio Guamá, que batiza o complexo, o Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém (PA), conta com um ecossistema rico em biodiversidade, que se estende ao longo de seus 72 hectares, destinados a edificações e à Área de Proteção Ambiental da Região Metropolitana de Belém (APA Belém). O Parque é um exemplo da conexão entre as áreas urbanas e de conservação ambiental no meio dos dois bairros mais populosos da capital, Guamá e Terra Firme.
A presença de empreendimentos de alta pesquisa e fomento à inovação, como laboratórios, startups e uma escola técnica, coexiste com a área de preservação ambiental. As áreas cedidas pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) ao Governo do Pará para a construção do PCT possuem diversos pontos de conservação essenciais para a circulação da fauna nativa e manutenção de sua vegetação.
É a partir dessa biodiversidade que o parque se tornou parte dos estudos desenvolvidos no projeto de extensão Conviva do Labev. O projeto, coordenado pela professora Maria Cristina, busca conscientizar a população universitária acerca da fauna silvestre, promovendo a boa convivência com os animais na universidade e nos arredores do campus.
A pesquisadora explica que as capivaras, que hoje são os animais mais famosos do complexo, começaram a aparecer na área durante a pandemia da Covid-19, quando as universidades e o Parque tiveram sua rotina alterada por conta da necessidade de isolamento social. “Esses animais vieram de outras áreas, como Parque do Utinga e Embrapa, e chegaram a um ambiente com muita água, alimentos e pouca presença humana naquele momento. Isso foi favorável para o estabelecimento do bando no local. São cerca de 64 capivaras”, conta.
Floresta e pesquisa
O PCT Guamá conta com 11 laboratórios de alta pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos, vinculados à UFPA e à Uepa. Para o pesquisador Marlynson Rodrigues, do Centro de Estudos Avançados da Biodiversidade (Ceabio/UFPA), instalado no PCT, a diversidade da fauna encontrada no Parque é ‘importante para a educação ambiental e para descobrir os diferentes papéis que os animais exercem nos ecossistemas’.
De acordo com Marlyson, a área arbórea do complexo abriga uma variedade animal e vegetal, o que facilita os estudos acerca da ocupação de espécies na floresta amazônica. “É um espaço próximo e seguro para que os alunos conheçam o ambiente florestal. Conseguimos capacitar futuros pesquisadores na dinâmica ecológica dos vertebrados terrestres, que é nosso foco. É possível descobrir como as espécies exibem diferentes modos de explorar o ambiente, desde os que se utilizam do solo aos diferentes modos de uso do estrato arbóreo”, explica o pesquisador.
A coleta de espécies de escorpião encontradas no PCT Guamá auxiliou cientistas do Ceabio a descobrirem as diferenças genéticas no gênero Tityus, a partir de amostras locais. No estudo, publicado na revista científica BMC Genetics, os pesquisadores constataram que existem diferenças no cariótipo, nome dado ao conjunto de cromossomos, dos animais de Belém e Santarém.
Já no Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA/UFPA), voltado à pesquisa de plantas oleaginosas, a coleta da flora é parte essencial para o avanço de novas pesquisas. Uma amostra da planta guarumã, coletada próxima ao prédio Espaço Inovação do PCT Guamá, permitiu que a cientista Joana Siqueira, professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e doutoranda no LOA, descobrisse uma nova possibilidade de biocarvão, originado da planta amazônica.
O guarumã, planta abundante em regiões de várzea no Pará, como rios e igarapés, é muito utilizado por povos indígenas e ribeirinhos como matéria-prima para a fabricação de utensílios domésticos e artesanatos de cestaria. Na pesquisa de Joana, o objetivo é estudar os resíduos de plantas da Amazônia como biossorvente. Esses absorventes obtidos por meio de material vegetal ou animal são usados para a remoção de substâncias inorgânicas e íons metálicos do meio ambiente.
Áurea Santos, gerente de Projetos de Sustentabilidade da Fundação Guamá, gestora do Parque, destaca que a área é propícia para o desenvolvimento de capacitações para estudantes e profissionais que desejam atuar com consultoria ambiental, aplicando a prática com os estudos de impacto ambiental e monitoramento. “Além das pesquisas e capacitações, a área também irá receber uma trilha ecológica para proporcionar a integração da comunidade com a educação ambiental e imersão com a natureza, possibilitando o acesso às informações geradas por esses estudos e a conexão com a biodiversidade do Parque”, comenta Áurea.
*Com informações do PCT Guamá