18% dos registros de envenenamento por serpentes estão incompletos no Maranhão

Casos registrados entre 2009 e 2019 apontam para a falta de informações essenciais à saúde pública, como a evolução do envenenamento.

Um estudo pioneiro sobre o atendimento a vítimas de picadas de animais peçonhentos no Maranhão identificou relatos clínicos com incoerências. Em 18% dos casos, não houve registro da evolução do envenenamento; em 10%, não houve a classificação dos sintomas; e em 6%, a espécie não foi reportada. O artigo com as constatações foi publicado na sexta, 6 de outubro, na ‘Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical’ por pesquisadoras da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Foram analisados registros de 17.658 acidentes causados por serpentes de importância médica no Maranhão entre 2009 e 2019 por meio das fichas de notificação compulsória fornecidas pela Secretaria de Saúde do estado. O preenchimento das fichas é obrigatório no território nacional desde 1986, mas os dados faltantes podem resultar em tratamentos inadequados.

Foto: Chokniti Khongchum/Pixabay

O preenchimento correto das fichas de notificação permite que informações importantes sejam coletadas pelos profissionais da saúde. Thaís Guedes, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas, comenta que “as fichas fornecem informações cruciais que podem ser reunidas e analisadas para que o planejamento de saúde para tratar esse tipo de agravo seja feito de forma eficiente em nível estadual, como o caso do Maranhão, mas também no país todo”.

Outros fatores evidenciam a falta de treinamento e possíveis inadequações na terapêutica adotada. 

“Identificamos fichas relatando sintomas que não coincidem com o gênero da serpente informado como causadora do acidente, indicando incoerência sobre o reconhecimento clínico dos sintomas dos acidentados”,

diz Guedes.

O tempo entre a picada e o início do atendimento médico está diretamente associado à gravidade do envenenamento por picada de cobra, de forma que o acesso precoce a cuidados médicos especializados é fundamental.

A autora destaca a necessidade de ações de curto prazo para capacitar profissionais de saúde a lidar com acidentes provocados por serpentes. 

“Quando a vítima busca os centros médicos logo após a picada, a vida dessas pessoas é responsabilidade deles, é inadmissível perder vidas se temos tratamento”,

diz.

O próximo passo, segundo os pesquisadores, é preparar as informações para divulgação acessível aos maranhenses e às Secretarias de Saúde. O tema também está sendo investigado em escala nacional, e estudos voltados ao Rio de Janeiro e à Amazônia devem estar disponíveis em breve. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori 

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