Pesquisa apresenta as desigualdades raciais e de gênero e os impactos das mudanças climáticas em Boa Vista

Os dados foram lançados na publicação Caderno Iyaleta Vol. 01

De 70 a 80% de todos os casos notificados de Dengue, Zika e Chikungunya, em Boa Vista, Roraima, de 2016 a 2018, concentraram-se entre a população negra, é o que aponta a pesquisa do “Projeto Amazônia Legal Urbana – Análises Socioespaciais de Mudanças Climáticas Ano 2″, estudo sobre a configuração territorial, demográfico, físico e ambiental, que traz análises sobre desigualdades raciais, étnicas e de gênero no ordenamento territorial de Boa Vista. Os dados foram lançados na publicação Caderno Iyaleta Vol. 01″Desigualdades étnico-raciais e de gênero e os impactos das mudanças climáticas no espaço urbano de Boa Vista, Roraima”. Confira a publicação.

A pesquisa foi realizada pela confluência de pesquisadoras IYALETA – Pesquisa, Ciência e Humanidades, em parceria com o Instituto Mídia Étnica (IME) e com apoio institucional do Instituto Clima e Sociedade (iCS).

Segundo a confluência de pesquisadoras, as desigualdades étnico-raciais nas condições de saneamento básico e moradia, com concentração da população negra e indígena nos indicadores de maior vulnerabilidade habitacional evidenciadas neste estudo, justificam, em parte, estes achados, dada a estreita relação estabelecida entre condições de moradia e incidência de arboviroses como Zika, Dengue e Chikungunya.

No período analisado, em Boa Vista, a maior taxa de incidência de Dengue ocorreu em 2019 (248,24 casos/ 100.000 habitantes) e a da Zika (179,81 casos/100.000 habitantes) e Chikungunya (1511,35 casos/100.000 habitantes) em 2017. Destaca-se também que o ano de 2020 foi o período com as menores taxas de incidência de Zika e Chikungunya, mas não de Dengue, durante a série histórica analisada.

Foto: Divulgação/UFRR

Estado mais violento para adolescentes e mulheres

Roraima assume a primeira posição como o estado mais violento para as adolescentes (15 e 19 anos) e jovens (20 e 24 anos), com taxas de 22,74 para o primeiro intervalo etário e 10,24/100 mil habitantes, para o segundo. Esta taxa é quatro vezes maior para as adolescentes e quase o dobro para as jovens quando comparadas aos dados do Brasil (5,35 e 6,25, respectivamente), o que denuncia uma linha exponencial de crimes de feminicídios tanto no estado de Roraima quanto no município de Boa Vista.

Saneamento e moradia

O estudo fez um grande levantamento e a utilização de cruzamento de dados para gerar novos dados, tendo como foco principal as análises de racismo ambiental. Desigualdades étnico-raciais e de gênero são observadas no acesso inadequado ao esgotamento sanitário, considerando o maior número de usuárias de fossa rudimentar e o descarte de dejetos no mar, rio e lagos, entre mulheres indígenas (50,15%) e negras (45,61%) sendo as que menos têm acesso a esse serviço básico.

Mulheres indígenas (17,61%) e negras (9,62%) estão entre aquelas que residem em casas de alvenaria sem revestimento e de taipa ou madeira aproveitada. Já entre os homens, os Brancos, seguido dos Indígenas, são os que apresentam as maiores proporções desse tipo de revestimento domiciliar. Aliado a isto, o município é a capital brasileira com pior percentual de infraestrutura urbana de calçadas (18%) no seu entorno.

Sobre a pesquisa de Boa Vista – Roraima

O estudo aprofunda a reflexão sobre desigualdades raciais, étnicas, de gênero e as intersecções, e como os eventos climáticos na área urbana de Boa Vista (Roraima) precisam ser enfrentados por políticas de adaptação que efetivam direitos humanos considerando a vulnerabilidade territorial, social, econômica e ambiental, pela urbanização desigual na Amazônia Legal. Para tal, fez-se um levantamento de documentos públicos e dados administrativos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e dos sistemas de informação em saúde do DATASUS, visando a análise socioeconômica, epidemiológica e do ordenamento territorial da capital. Os resultados apontam um cenário desfavorável nas condições de saneamento básico e moradia da população Negra e Indígena, em particular das mulheres, que se reflete nos piores indicadores de saúde e na incidência de arboviroses, como Zika, Dengue e Chikungunya, a capital também apresenta uma precária cobertura da Estratégia Saúde da Família e Visitas de agentes de endemias. Desigualdades que refletem o Plano Diretor (2006) distante das condições de vida da população urbana e climáticas do território municipal impactado por períodos concentrados de chuvas e de longa estiagem. 

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