Mari Wapichana, de 19 anos, foi escolhida para estampar campanha sobre beleza livre de estereótipos. Jovem foi eleita a primeira Miss Indígena de Roraima em 2021.
“Nunca tinha visto uma mulher me representando em comerciais de beleza e, hoje, estou lá representando a mulher indígena”. É o que resume a primeira Miss Indígena de Roraima, professora, estudante, digital influencer e agora garota-propaganda de uma marca de perfumes, Mari Wapichana, de 19 anos, sobre a mais nova conquista profissional.
Mari, que é do povo indígena Wapichana, estampa a campanha ‘Exótica’ ao lado da publicitária Karina Aparecida, representando a mulher negra; a jornalista Camila Sawamura, asiática; e a influencer Mariam Chami, muçulmana.
“A sensação de ter sido escolhida é muito gratificante porque eu trago uma história de luta, sabe? Eu trago em mim a força e a garra da mulher indígena. Sou muito grata à marca por dar esse espaço de fala para eu levar o nome da mulher indígena e mostrar quem de fato nós somos”,
afirmou.
A ação é a primeira campanha nacional da roraimense. O vídeo da campanha também foi feito por um produtor de Roraima, Lucas Santos, conhecido como “LifeLucas”, que também integra a equipe do programa ‘Fala Macuxi’, da Rede Amazônica.
A Miss Indígena nasceu na comunidade indígena do Raimundão, no município de Alto Alegre, região Norte do estado, mas vive na capital Boa Vista , onde estuda matemática, na Universidade Estadual de Roraima (UERR).
Mari utiliza as redes sociais para abordar — com uma mistura de humor e informação — a rotina, os costumes, a cultura e a luta das comunidades indígenas roraimenses, e foi devido a isso que ela teve seu rosto na campanha. Ela tem 93 mil seguidores nas redes sociais e soma mais de 9,7 milhões de visualizações em seus vídeos.
A empresa explicou que a campanha em que Mari é uma das estrelas faz parte do movimento Diversa Beleza, lançado em janeiro deste ano, e tem o objetivo de promover um compromisso com a beleza livre de estereótipos.
A ideia surgiu após uma análise de conteúdo, escuta ativa das redes sociais e do comportamento da comunidade nos canais da marca sobre a beleza asiática e outras etnias. Segundo eles, Mari Williams estava no radar há algum tempo e, nesta pauta, ela fez toda a diferença.
“Acreditamos e admiramos muito o conteúdo dela, além de ser alinhado aos nossos objetivos e propósito. Nosso propósito é de contribuir para a sociedade e fazer com que o público repense sobre esse falso elogio de beleza exótica”, explicou a marca.
Essa não é a primeira vez que a miss é cotada para participar de uma campanha de beleza. Antes de ser escolhida pela marca, Mari participou da seletiva de outra empresa de cosméticos, mas não foi escolhida.
“A marca foi a segunda [empresa] a entrar em contato comigo, só que a empresa me queria. Eles já tinham me escolhido, eu não precisei fazer seleção, nada. Foi muito gratificante ter recebido o convite, porque uma coisa é tu participar de uma seleção e outra coisa é tu seres escolhida, que foi o que a marca fez comigo. Eles me escolheram”, ressaltou.
Para a miss, a campanha aborda a representatividade indígena e permite que ela mostre a beleza, garra e a força da mulher que ela representa. A campanha também usa o nome “Baydukuryaba”, que significa onça em Wapichana, um dos nomes usados por Mari.
“Nós [mulheres indígenas] podemos falar com propriedade sobre o que é escutar esses falsos elogios que eles nos dão falando que a nossa beleza é exótica só porque não é uma beleza que a sociedade está acostumada a ver”, afirmou.
“Cada pessoa tem uma beleza única e essa beleza não deve ser tratada como exótica”, diz ela num dos vídeos da campanha.
*Por Yara Ramalho, g1 Roraima