Voluntários monitoram ninhos para evitar extinção de harpias em Rondônia

Do banho ao acasalamento de harpia, o projeto Núcleo RO monitora os ninhos para saber mais sobre o comportamento da espécie.

Há 14 anos atuando em Rondônia, o Projeto Harpia Núcleo RO já fez os mais diversos flagrantes do gavião-real no meio da floresta. Um dos mais recentes (e raros) foi o banho de uma harpia dentro de um pequeno rio. Dos 21 ninhos de harpias monitorados pelo projeto no Estado, atualmente há 10 em atividade. 

De acordo com o coordenador do projeto, Carlos Tuyama, além da coleta de dados sobre os hábitos do animal, a pesquisa busca evitar a extinção dessa que é considerada uma das maiores aves de rapina do mundo.

O projeto é formado por 15 voluntários que possuem especializações nas mais diversas áreas, como biologia e medicina veterinária. Professores e estudantes de outras áreas também ajudam na preservação.

Harpia tomando banho é registro raro realizado em Rondônia. Foto: Carlos Tuyama

Projeto Núcleo Rondônia

O coordenador do projeto em Rondônia, Carlos Tuyama, conta que antes de surgir o Núcleo de Rondônia, os primeiros estudos sobre as harpias no Brasil foram realizados por cientistas ligados ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). À época, o projeto levava o nome de Programa de Conservação do Gavião-Real.

“Em 2008, um grupo de graduandos de biologia de Cacoal fundou um grupo de trabalho que posteriormente veio a integrar o projeto nacional, tornando-se o Núcleo Rondônia, que é composto por 15 colaboradores voluntários, que de acordo com a possibilidade de cada um, contribui com as ações do projeto. Não é uma atividade remunerada, cada um faz por amor a causa”, 

conta.

Os ninhos das harpias ficam em lugares remotos e de difícil acesso, as câmeras ajudam na captura de informações os hábitos dessa ave. Foto: Carlos Tuyama

Além dos 15 colaboradores em Rondônia, o projeto tem o apoio de outros grupos ligados a instituições de pesquisa e universidades em outros estados da Amazônia e da Mata Atlântica. “São biólogos, veterinários, professores, estudantes e pessoas sem formação específica na área, porém que desejam contribuir com a conservação ambiental e da fauna da região”, fala Tuyama.

Mesmo com os 14 anos do Núcleo Rondônia mostram, Tuyama diz que o projeto é novo. Segundo ele, por haver poucos estudos sobre a ave de rapina (que é uma espécie de baixíssima densidade populacional) e por ela ter hábitos discretos em um território vasto, isso acaba dificultando a captação dos dados.

“Estudar espécies assim é por si só um enorme desafio. Existem aspectos do comportamento que ainda são desconhecidos em função da dificuldade de se observar ou registrar. Além disso, dada a raridade da espécie, algumas conclusões só são possíveis com alguns anos de estudo, já que o número amostral sempre tende a ser bastante baixo. Nesse aspecto, qualquer dado coletado pode ser importante para pesquisas atuais ou futuras, pesquisas essas que em alguns casos nem estão planejadas, mas que surgem em função de descobertas ou evidências que se apresentam até inesperadamente”, declara.

Quanto mais informação, ressalta o coordenador, mais estratégias podem ser adotadas na luta contra a extinção da harpia: “Evidentemente, a coleção do máximo de aspectos permite um raio-x cada vez mais apurado das características da espécie e da sua relação com o seu habitat, o que é de grande importância também para desenvolver estratégias de ação, visando a conservação”.

Dos 21 ninhos conhecidos pelo Projeto Núcleo Rondônia, somente 10 estão ativos e seguem sendo suporte para a reprodução da espécie. O coordenado destaca que esforços são concentrados para que ninhos alternativos, próximas as localidades, sejam descobertos para serem mapeados.

“Nos sítios reprodutivos ativos fazemos o monitoramento, buscando acompanhar as nidificação [que a ação de construir o ninho] e conhecer o índice de sucesso ou não de cada uma dessas áreas”,

pontua.

Na luta contra a extinção

A harpia é uma ave em extinção e o objetivo principal do projeto é evitar o fim da espécie. Para isso, o estudo realizado no projeto analisa os hábitos da ave, que segundo Tuyama, é uma das mais lentas quando se refere a reposição.

“Um casal de harpia cria, em média, um único filhote a cada três anos. O nascimento é apenas uma etapa do desafio. Nos 14 anos que monitoramos ninhos, contabilizamos cerca de duas dezenas de nascimentos ou descobrimentos de ninhos com filhotes”, diz.

Os dados coletados pelo projeto analisam as informações e buscam alguns pontos como: época de acasalamento, nascimento, dispersão do filhote, dieta usada na alimentação, qualidade da floresta do entorno, e interação com as outras espécies.

O monitoramento dos ninhos acontece de forma individualizada por causa de suas localizações. Alguns deles mais distantes acabam recebendo a visita dos especialistas uma vez por ano. “Existem também alguns poucos ninhos que nos permitem fazer uma visita por semana. Portanto, são situações que requerem métodos diferentes de trabalho”, diz Tuyama.

Métodos esses que tem a tecnologia como principal aliada. Câmeras instaladas perto dos ninhos, GPS carregados pelo filhotes que tenham sido capturados (ou resgatados), marcados e soltos novamente na natureza, telemetria ou rádio transmissor são alguns dos equipamentos utilizados pelo grupo.

“Esses diferentes métodos nos trazem informações que nem sempre podem ser comparáveis, contudo, permite-nos uma visão de como a espécie se comporta e quais os riscos que ela corre em ambientes mais ou menos alterados pela ação humana”, afirma.

Diante de todo o esforço, dedicação aos estudos, e o objetivo na luta contra a extinção da harpia em Rondônia, quando há o nascimento de um filhote, a equipe de voluntários vibra e comemora.

“É uma vitória da natureza. Afinal, na grande maioria dos casos, essas aves deparam-se com enormes desafios para criar com sucesso seus filhotes. A caça e a perda de habitat promovida pelos desmatamento são os principais motivos do declínio populacional da espécie, o que tem levado a extinção em vários estados do Brasil e em algumas regiões do estado”, fala Tuyama.

Desmatamento que destrói

Além das dificuldades de logísticas, apoio para manutenção de equipamentos, questões financeiras, o desmatamento é a principal ameaça para a extinção do gavião-real. O coordenador pontua que trabalhar com ações que visam diminuir o risco da extinção do animal em Rondônia é um desafio. 

Dos 21 ninhos mapeados pelo Projeto Núcleo Rondônia, apenas 10 estão em atividade. Foto: Carlos Tuyama

“Estamos encarando hoje exatamente as situações que levaram à extinção da harpia em outras regiões do país, algumas décadas atrás. As causas principais continuam sendo as mesmas: o desmatamento, a caça e o desconhecimento”, 

revela.

Desde o inicio do projeto foram monitorados 21 ninhos da ave. No entanto, com o aumento do desmatamento nas áreas de floresta, cerca da metade desses ninhos foram destruídos: “Em alguns deles ocorreram a queda da árvore ou o desmatamento da floresta onde se localizavam. Existem ainda aqueles ninhos que não se têm mais a presença das aves. Atualmente, dos 21 ninhos conhecidos, somente 10 estão ativos e seguem sendo suporte para a reprodução da espécie”.

A principal estratégia no combate da extinção dessas aves está em atividades de educação ambiental e sensibilização que, segundo Tuyama, é promovido pelo Projeto. “Talvez estejam entre as mais importantes para que possamos, no futuro, continuarmos tendo as harpias voando entre as copas das árvores nas nossas florestas”, declara.

Por Jheniffer Núbia, do g1 Rondônia 


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