Quatro anos da morte de Ari Uru-Eu-Wau-Wau: relembre o legado do ‘guardião da floresta’

O caso foi tratado em âmbito federal, quando indícios apontaram a suspeita de que o assassinato tinha envolvimento com crimes ambientais. No entanto, o relatório final da Polícia Federal descartou a possibilidade.

No dia 17 de abril de 2020, Ari-Uru-Eu-Wau-Wau saiu de casa e nunca mais voltou. Na manhã do dia seguinte, familiares receberam a notícia de que ele foi encontrado morto em uma linha rural do distrito de Tarilândia, em Jaru (RO). Quatro anos depois, o executor foi condenado, mas a dor da ausência permanece em quem conviveu com Ari.

Ari tinha 33 anos quando foi morto. Ele era casado e tinha filhos. Seu nome ecoava pela Amazônia como uma das pessoas que estavam na linha de frente pela proteção dos territórios e povos indígenas, especialmente do seu povo: o Uru-Eu-Wau-Wau.

Ari-Uru-Eu-Wau-Wau. Foto: Reprodução/Kanindé

“Ari era um defensor da floresta, um guardião da floresta, uma pessoa alegre, uma pessoa que era carinhosa com todos e tinha o maior respeito pelo seu povo, pelos mais velhos e que lutava pelos direitos humanos”, relembra a indigenista e amiga de Ari, Ivaneide Bandeira.

Ari também foi professor. Ele deixou ensinamentos e um legado sobre a defesa incansável dos direitos e da preservação dos povos e terras ancestrais. Por causa do trabalho, também se tornou inspiração de resistência e arte.

Em janeiro de 2023, uma pintura de 600 m², exposta no centro da cidade de São Paulo, homenageou Ari Uru-Eu-Wau-Wau. Terra e cinzas de queimada da Amazônia foram matérias-primas para fabricação das tintas utilizadas pelo artista, Mundano. Até hoje o mural faz parte do cenário da cidade, como memória da luta de Ari. 

Ari-Uru-Eu-Wau-Wau é homenageado em pintura de 600 m² no Centro de São Paulo — Foto: André D’Elia

O Território Indígena Uru-Eu-Wau-Wau é um dos maiores de Rondônia, com mais de 1,8 mil hectares, espalhado por 12 municípios rondonienses. A maior parte do território fica em Guajará-Mirim (RO) e São Miguel do Guaporé (RO). Povos de nove etnias vivem na TI, entre eles, diversos indígenas isolados (aqueles que optaram por viver sem contato com a sociedade em geral).

A área é alvo frequente de crimes ambientais, como ações madeireiros e grileiros. Ari trabalhava denunciando essas invasões e a retirada ilegal de madeira de dentro do seu território.

Parte do seu trabalho foi registrado no documentário ‘O Território’ (vencedor do Emmy 2023), que narra a luta do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau para defender sua terra em Rondônia. 

Ari Uru-eu-wau-wau foi encontrado morto em RO. Foto: Reprodução/Kanindé

O caso de Ari foi tratado em âmbito federal, quando indícios apontaram a suspeita de que o assassinato tinha envolvimento com crimes ambientais. No entanto, o relatório final da Polícia Federal descartou a possibilidade.

Há três dias, o acusado de matar Ari foi condenado a 18 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado: por motivo fútil e utilizando meio que dificultou a defesa da vítima.

Quatro anos após a morte de Ari e depois da condenação do acusado, a luta pela proteção do território continua.

“O território continua sendo invadido. Pra você ter uma ideia, lá a barreira da Funai precisa ter polícia o tempo inteiro porque se não os invasores entram lá e destroem tudo. A luta não para com julgamento, nem com condenação. A luta continua até que todos os invasores, todos os grileiros, todos que causam dano a indígenas paguem pelo seu crime”, 

aponta Neidinha.

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