Tradução inédita de cartas em tupi antigo é publicada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi

Cartas de indígenas potiguar, que datam do Brasil Colônia e guardadas na Real Biblioteca de Haia, na Holanda, são traduzidas do tupi antigo em trabalho inédito de filólogo da USP. 

Um trabalho de tradução inédito de autoria do filólogo Eduardo de Almeida Navarro, especialista em tupi antigo e em nheengatu é destaque da mais recente – e a última do ano de 2022 – edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi – Ciências Humanas. ‘Transcrição e tradução integral anotada das cartas dos Índios Camarões, de 1645, em Tupi Antigo‘ é o título da contribuição de autoria de Eduardo Navarro, e foi publicada na seção Memória da revista.

Trata-se de seis manuscritos de autoria de indígenas originalmente escritos na língua tupi antiga e que datam do período da invasão holandesa à costa brasileira onde hoje é o estado de Pernambuco e que perdurou por 15 anos (1630 – 1645).

A guerra contra a ocupação de parte do território do Brasil Colonial foi travada com a participação de indígenas potiguar (de potĩ – “‘camarão”‘ + “‘ûara” – “‘comedor’, “‘o que come'”: “‘comedores de camarão”‘) também chamados Camarões. 

Carta 1, de Felipe Camarão a Pedro Poti, de 19 de agosto de 1645. Foto: Reprodução/MPEG

As cartas traduzidas por Navarro são testemunho das lutas travadas à época. Como informa o autor das traduções: “Tais índios, parentes uns dos outros, conhecidos como ‘Camarões’, dividiram-se durante o conflito, ficando alguns ao lado dos luso-brasileiros e outros com os holandeses”. As cartas trocadas entre eles estão preservadas na Real Biblioteca de Haia, na Holanda.

Trata-se da primeira transcrição, tradução comentada desde que os documentos vieram à tona em 1885. A reprodução de parte da carta de Felipe Camarão a Pedro Poti escrita em tupi antigo em 19 de agosto de 1645 e a sua tradução também podem ser vistas na exposição ‘Nhe’e Porã: memória e transformação’, aberta no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

Na edição há também artigos sobre moradia popular no Maranhão e sobre memória e paisagem na Brumadinho pós-rompimento da barragem, este último publicado em formato bilíngue. Há também artigo sobre pesquisa colaborativa no campo da museologia, além de contribuições sobre linguística e arqueologia.

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