Saberes e práticas: pesquisa analisa avanço na produção do artesanato feito de palha de tucumã em Santarém

A produção de objetos em palha de tucumã é confeccionada por artesãs que vivem às margens do rio Arapiuns, em Santarém.

A produção de objetos em palha de tucumã elaborada por artesãs que vivem às margens do rio Arapiuns, em Santarém, passou por mudanças nos últimos anos, entre elas “a valorização enquanto artesanato tradicional”. 

A pesquisa buscou analisar as mudanças na produção do artesanato trançados do Arapiuns e como modificaram os saberes e as práticas das artesãs com os tucumanzeiros, além das paisagens da própria comunidade.  
Artesanato feito de palha de tucumã – Foto: Agência Santarém

Historicamente, a produção de objetos em palha de tucumã é feita, principalmente pelas mulheres mais velhas. Antigamente, eram produzidos principalmente chapéu, cesto/balaio e a pintura das palhas era feita com anilina. Mas, atualmente, nas mãos das artesãs e nas lojas é uma infinidade de outros tipos de peças, com palhas coloridas naturalmente. Também é comum ver crianças e homens tecendo 

“A produção de peças em palha de tucumã se transformou, principalmente, devido à constante atuação de organizações dentro da comunidade. Após os primeiros projetos de intervenção com o artesanato, deu continuidade ao processo de “descoberta” do artesanato em diferentes espaços e com diferentes parceiros. Como consequência desse processo, a histórica utilização de tucumanzeiros também se modificou”

afirmou Ana Carolina Vitorio Arantes, doutoranda responsável pela pesquisa.

Artesanato feito de palha de tucumã – Foto: Agência Santarém

A pesquisadora detectou também que, com a valorização do artesanato e dos tucumanzeiros, as práticas de plantar e cuidar das árvores tornaram-se mais comuns. Também houve um crescimento na quantidade de árvores de tucumã utilizadas pelas artesãs, bem como mudança dos locais de acesso a elas. Atualmente estão em áreas mais próximas das casas. 

“O ato de descartar as sementes, que já era feito antigamente, também possui um significado na atualidade: não é apenas para se livrar das sementes, mas se orienta também pelo interesse de que essas sementes germinem e, futuramente, forneçam frutos e folhas aptos para utilização” 

diz.

Conhecer individualmente as árvores leva a uma economia de tempo e a uma presença frequente de artesãs em determinadas áreas do território. Para a pesquisadora, são criados lugares familiares. Na caminhada à procura de tucumãzeiros, são registrados na memória das artesãs, os diversos vegetais, o relevo, as estruturas e as distâncias. Com as idas frequentes até os tucumãzeiros que fornecem palha boa, as artesãs passam a conhecer detalhes da paisagem.

Saberes e práticas do tucumanzeiro 

Quando se fala de tucumanzeiros, é preciso saber que existe uma variedade deles. Basicamente são identificados três tipos: tucumã-açu/tucumã-uaçu, tucumãí e tucumã (também chamado de tucumãpiranga, tucumãzinho, tucumã-comum e comunzinho, tucumãroba, tucumãnormal e tucumã-tradicional). 

Na ciência, os tucumanzeiros são identificados pelo nome Astrocaryum (que significa caroço estrelado) e todos possuem uma característica marcante: longos espinhos. 

Mas os três tipos possuem características que os fazem ser diferentes entre si. A grande quantidade de informações que artesãs e familiares conhecem sobre eles, as frutas dos tipos de tucumã têm tamanhos diferentes, a carne varia em sabor e textura e há diferentes formas de comê-los, sendo que o tipo tucumanzinho, geralmente, é o mais apreciado pelas pessoas.

Artesanato feito de palha de tucumã – Foto: Agência Santarém

Patrimônio histórico, cultural e imaterial  

Em 2022, os Trançados do Arapiuns foram declarados como patrimônio histórico, cultural e imaterial do município de Santarém, com a aprovação do projeto de lei n° 21.491. Essa declaração reconhece o saber fazer tecido como um bem a ser preservado, busca promover sua continuidade e eleva esse artesanato a um símbolo de identidade santarena.

Conclusão da pesquisa 

As fases de “descoberta” também afetaram os saberes e práticas com os tucumãs. Em um momento de pouca valorização da produção artesanal e pequena geração de renda, havia maior dependência dos produtos alimentares disponíveis na região. O desenvolvimento de projetos na região promoveu tanto a valorização artesanal, quanto a criação animal e de pomares, além da organização social. 

Foi por meio de parcerias que esse conjunto de novidades pôde se expandir e se consolidar para outras comunidades, como Vista Alegre e Aratapi.

Nesse processo, o acesso facilitado à renda, por conta da comercialização de peças, possibilitou maior interesse nas folhas dos tucumanzeiros, que são matéria prima para o artesanato.

A forma com que o artesanato em palha de tucumã tem sido produzido atualmente mantém características antigas como o uso do tucumanzinho, o ponto fechado e o predomínio de mulheres na atividade. Mas como um artesanato tradicional, também passa por mudanças, como no uso de vegetais para colorir as palhas, nos tipos de peças, nos saberes e práticas desenvolvidas recentemente.

Outro fator que tem levado ao aumento da quantidade de tucumanzeiros é o cuidado com as árvores, que pode ser feito de várias maneiras. Todas elas com o objetivo de preservar a árvore para consumo dos frutos, mas, principalmente, para uso das palhas.

A matéria foi feita a partir do resultado da pesquisa de doutorado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) de Ana Carolina Vitorio Arantes. Os resultados completos foram compilados numa publicação que está disponível AQUI e foi apresentada aos comunitários* 

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