Pesquisa com participação da UFPA alerta para o baixo índice de consumo de alimentos biodiversos no Brasil

O Pará é rico em alimentos biodiversos, como a Caapeba-Amazônica, a Urtiga vermelha, a Beldroega  e até mesmo o jambú.

Essencial para melhorar a nutrição e reduzir a fome da população, a biodiversidade alimentar está presente no mundo todo, mas alimentos biodiversos ainda não possuem um bom alcance de consumo. O Pará, por exemplo, é rico em alimentos biodiversos, como a Caapeba-Amazônica (Piper peltatum L.), a Urtiga vermelha (Laportea aestuans (L.) Chew), Beldroega (Portulaca oleracea L.) e até mesmo o jambu (Acmella oleracea), que, embora possua um grande consumo local e regional, a maioria dos brasileiros ainda o desconhece. Com essa realidade, pesquisadores de seis instituições brasileiras desenvolveram um estudo sobre o consumo de alimentos biodiversos no Brasil.

Para desenvolver a pesquisa, esses cientistas utilizaram dados de uma pesquisa nacional sobre alimentação, realizada com mais de 40.000 brasileiros pelo IBGE, entre 2017 e 2018, e estimaram a frequência de consumo de alimentos biodiversos, levando em consideração variáveis socioeconômicas, como idade, sexo, escolaridade e segurança alimentar. O estudo reuniu pesquisadores de diferentes áreas das Universidades Federais do Pará (UFPA), do Rio Grande do Norte (UFRN), de Campina Grande (UFCG), da Paraíba (UFPB) e de Pernambuco (UFPE), além da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Universidade Católica de Pernambuco.

O estado do Pará é rico em alimentos biodiversos – Foto: Envato/Divulgação

Ao analisarem o consumo de plantas alimentícias não convencionais (PANC), cogumelos comestíveis e carnes silvestres, como alimentos biodiversos, a pesquisa constatou que, apesar de o Brasil ser um país extremamente rico em biodiversidade, o consumo desses alimentos em território nacional é muito baixo, relacionado a apenas 1,3% da população. A coleta e a análise dos dados apontaram, ainda, que esta baixa utilização da biodiversidade está diretamente relacionada aos fatores socioeconômicos, pois há um importante descompasso entre a rica biodiversidade do país e sua representação na dieta humana, uma vez que o consumo de plantas alimentícias não convencionais esteve menos presente em populações mais pobres e vulneráveis socialmente.

A pesquisa também mostrou disparidades sociais no consumo de cogumelos e animais silvestres, sendo o consumo de cogumelos maior por pessoas com maior renda, enquanto a carne de animais silvestres é consumida por pessoas em insegurança alimentar grave. De acordo com a nutricionista Elenilma Barros da Silva, da Diretoria de Serviços de Alimentação Estudantil – Disae da UFPA, que integra a equipe pesquisadora que realizou o estudo, este é o primeiro levantamento sobre a contribuição de alimentos da biodiversidade realizado com uma amostra representativa da população brasileira.

“Os resultados deste estudo nos trouxeram novas perspectivas sobre a questão da biodiversidade alimentar no Brasil. Primeiro, nos mostrou a importância de considerar o contexto socioeconômico ao promover o consumo desses alimentos para a população. Segundo, foi possível enxergar a necessidade de se ter políticas públicas e campanhas de conscientização, devidamente adaptadas às culturas e regiões aplicadas, para aumentar o consumo consciente de alimentos biodiversos. Terceiro, esses dados podem ajudar no desenvolvimento de iniciativas voltadas para a melhoria da qualidade das dietas e promoção da segurança alimentar no país”

destaca Elenilma Barros da Silva.

Comida vegana à base de plantas – Foto: Envato/Divulgação

Biodiversidade Alimentar  

 Alimentos biodiversos são recursos alimentares pouco explorados no dia a dia da maioria das pessoas, estando quase que restritos a certos grupos e contextos geográficos. Por não serem comuns à região e à realidade de toda a população, muitas vezes são negligenciados, embora sejam essenciais para processos de reestruturação alimentar de uma população, podendo diminuir os altos índices de desnutrição e fome, por exemplo, por desempenharem um papel crucial na proteção da segurança alimentar, complementando as culturas de base e fornecendo micronutrientes essenciais.

“Esses alimentos são nutritivos, ricos em micronutrientes, vitaminas e minerais, ideais para diversificar nossa dieta e promover um estilo de vida saudável e sustentável”

afirma Elenilma Barros da Silva.

Mas, mesmo em países com uma rica biodiversidade, o consumo desses alimentos é extremamente baixo. O Brasil, por exemplo, é um país considerado megabiodiverso, lar de mais de 50.000 espécies nativas de plantas, fungos e algas, e mais de 100.000 espécies de animais, as quais são pouco utilizadas em benefício da dieta média do brasileiro.  

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