Banhado pelo rio Tapajós, o ecoturismo em Alter do Chão é mantido pela comunidade. Não existem redes hoteleiras ou grandes resorts no vilarejo, a maior parte das pousadas e hotéis são familiares. “A gente vive numa comunidade onde tudo gira em torno familiar. Então é o pai que tem uma barraca, que coloca os filhos. A geração de emprego direto é familiar.”, explica Ronete Costa, dona de uma pousada na região.
De acordo com a Secretaria Municipal de Turismo de Santarém, cidade a qual o vilarejo está ligado administrativamente, em 2018 o município recebeu mais de duzentos mil turistas. Cento e noventa mil deles passaram por Alter do Chão.
Muitos desses turistas optaram por ter um contato mais direto com a natureza. A equipe de reportagem se desafiou a conhecer uma das trilhas que levam até a árvore mãe da Amazônia: a samaúma.
Floresta nacional do Tapajós
A maior delas está na Floresta Nacional do Tapajós (Flona), uma unidade de conservação ambiental com 527 mil hectares. Mais de 20 mil famílias moram dentro da área e a maior parte delas vive do turismo.
O guia turístico Raimundo Vasconcelos, vive com a família há quarenta e sete anos na Flona. Ele acompanhou a equipe de reportagem por uma caminhada de sete quilômetros, repleta de surpresas e ensinamentos sobre a floresta. No caminho, ele apresentou o Jatobá: “Ela seria uma árvore medicinal, porque dentro dela tem uma água chamada “seiva de jatobá”. E essa água, ela serve também para alguns tipos de doença” explicou o guia.
Ao fim da caminhada que durou mais de três horas, o ribeirinho apresentou, com orgulho, a vovózona, como eles chamam a árvore gigante. “ Mil e cem anos que tem ela aqui”, mostra. Raimundo conta que quando passa uma semana sem visitar a árvore de 60 metros e que precisa de cerca de 30 pessoas para ser abraçada, sente saudade. “A gente sente muita falta, ela faz parte da vida da gente”, conclui.
Cultura local
O contato com as comunidades locais também motiva quem decide conhecer Alter do Chão. A pouco mais de 40 minutos de barco, pelo rio Arapiuns, um afluente do Tapajós, encontramos Nivaldo da Silva. Morador da comunidade Nova Sociedade, ele explica que o respeito que os ribeirinhos têm pela mata vem de ensinamentos que passam de pai para filho.
E ele é categórico, a Mata tem uma dono, o Curupira, e é preciso respeitá-la. “O meu pai, ele foi perdido diversas vezes e a gente acha que é o curupira né? Porque a pessoa se arrisca a ir pro mato, em busca de uma caça, e quando chega determinado lugar lá você já tá perdido no mato, você já não consegue mais achar a trilha que você veio, você já fica sem direção”, explica.
É da mata que Nivaldo tira o sustento para os filhos e a família. Com uma casa simples, entre o rio e a mata, ele prova que é possível viver em total sintonia com aquilo que o rio Arapiuns traz de presente. E afirma: os conhecimentos da floresta devem ser transmitidos a todos. “É, isso já veio do meu pai. Passou pra gente e a gente já passa pra outras pessoas. É como eu falo, com fé em Deus a gente fica bom.”, conclui.