Testes rápidos para detecção de anticorpos da Covid-19 auxiliam comunidades da Amazônia no controle de transmissão do vírus

Procedimento é realizado a partir da amostra de sangue do paciente e resultado sai em minutos; vantagem para comunidades que carecem de complexos laboratórios e clínicas.

Mais ágil e fácil do que o exame convencional, o teste rápido é uma estratégia que tem se mostrado eficaz na detecção de anticorpos do novo coronavírus desde o início da pandemia, principalmente em se tratando de comunidades ribeirinhas na Amazônia. Com isso em mente, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) realizou a entrega de 65 desses testes, doados pela Embaixada da França no Brasil, para apoiar o trabalho de profissionais da saúde que atuam, principalmente, nas comunidades Tumbira e Três Unidos, localizadas às margens do Rio Negro, no Amazonas.

O kit, importado da fabricante chinesa Wondfo, foi distribuído ao polo base de atendimento da comunidade indígena Três Unidos, para ser aplicado por profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena de Manaus (DSEI). O mesmo acontece na comunidade Tumbira, que tem uma profissional microscopista devidamente treinada para efetuar os testes rápidos e onde a maior parte dos testes foram entregues à Secretaria Municipal de Saúde de Iranduba, responsável por atender as comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro.

Foto: Rodolfo Pongelupe

Controle no diagnóstico

Para localidades que não dispõem dos aparatos complexos de laboratórios e clínicas médicas, é vantajoso identificar pessoas que já tiveram contato com o vírus por meio dos testes rápidos. O procedimento é simples, realizado a partir da amostra de sangue do paciente, e o resultado sai em poucos minutos. Em Três Unidos, a técnica de enfermagem Neurilene Cruz da Silva, do povo Kambeba, é uma das responsáveis por realizar a aplicação naqueles que apresentam sintomas suspeitos e afirma que a doença está mais controlada na comunidade atualmente.

“A Covid está estabilizada nessa área e não vejo mais as pessoas sofrendo como no início da pandemia. Mas, mesmo assim, de vez em quando ainda aparecem alguns com sintomas, aí eu vou até a pessoa para avaliar, converso com o médico, enfermeiro e até psicólogo, se precisar”, afirma Neurilene, reiterando o fato de que o teste rápido facilita tal processo. Ela insiste que é recomendado que o teste seja realizado pelo menos 10 dias após o início dos sintomas, já que fora do período indicado pode resultar em um resultado de falso negativo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% dos pacientes com Covid-19 podem ser assintomáticos ou adquirir poucos sintomas. Por isso, o teste rápido serve como um “termômetro” para se conhecer as condições de contágio nas comunidades e, a partir disso, tomar as medidas necessárias no controle de transmissão do vírus, como lembra a técnica em enfermagem, reiterando a eficiência do diagnóstico rápido. “Usando esse teste, conseguimos orientar o paciente e dizer para ele não ficar sem máscara, que tem que ficar isolado e ter todo o cuidado para não transmitir para os outros”.

Foto: Rodolfo Pongelupe

De olho na Covid

A carreira da agente de combate a endemias, a microscopista Liliane Mendes de Oliveira, deu uma grande reviravolta durante a pandemia. Acostumada a trabalhar no combate à malária, doença infecciosa presente na região amazônica cujos casos têm diminuído significativamente, Liliane agora tem a sua atenção voltada à Covid-19. “Fico feliz por aproveitar o trabalho que eu já fazia e poder ajudar. Minha família, que mora em Manaus, diz que nem lá eles conseguem fazer o teste com tanta facilidade quanto aqui, então já é uma vitória a gente aqui no interior poder contar com essa facilidade”.

Por ser uma doença de rápida disseminação, as dinâmicas de uma comunidade podem significar um desafio de contenção da pandemia, o que justifica ainda mais a necessidade da realização de testes rápidos. É o que explica Liliane: “Às vezes é difícil ter um controle maior nas comunidades, porque as pessoas vivem muito próximas e, por mais que tentem manter o distanciamento, podem acabar precisando de algo e aí vão até a casa do vizinho, por exemplo, então isso facilita a dispersão do vírus”.

Além dos testes rápidos, foi entregue também um kit contendo um termômetro digital, aparelho de pressão e máscaras, doado pela Embaixada da França. Kelly Souza, analista de educação ambiental da FAS, afirma que a utilização de testes rápidos nessas duas comunidades se mostra como uma estratégia importante, já que reúne o “envolvimento de diversos profissionais capacitados e exalta a importância de agentes de endemia para a realização dos testes”. 

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