Estima-se que o rio existe há pelo menos 9 milhões de anos, ao desaguar no oceano Atlântico
Uma pesquisa publicada em 2019 por um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasilia, em parceira com instituições de ensino europeias mostrou que o rio Amazonas deságua no oceano Atlântico há pelo menos 9 milhões de anos. A pesquisa também mostra que antes, o rio corria para a costa oposta, rumo ao Pacífico. Isso foi possível por meio de análises de sedimentos encontrados na costa do Pará, onde os geólogos observaram que as amostras tinham origem no Andes, que datam esse período.
Os pesquisadores e professores Roberto Ventura e Elton Dantas, responsável pelo laboratório de Geocronologia da UnB trabalharam em conjunto com Martin Roddaz, professor da Universidade de Toulose (França) ligado ao Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD), durante os estudos. O estudo faz parte do projeto Clim-Amazon, financiado pela União Europeia com o auxílio do Sétimo Programa-Quadro para a Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (FP7). Além de ter como coordenadores o organismo francês IRD e a UnB, o trabalho tem a colaboração de mais cinco universidades europeias – duas alemãs, duas holandesas e uma britânica.
Segundo o professor Ventura, a identificação dos sedimentos dos Andes foi certeira, pois têm a composição química muito distinta. “Nós identificamos a idade dos primeiros sedimentos provindos dos Andes. Provavelmente, antes de nove milhões de anos atrás, o rio desaguava no Pacífico”, conclui.
Os resultados do estudo mostram que a deságua do Rio Amazonas ocorre no oceano Atlântico ocasionado pelo movimento das placas tectônicas Nazca e Sul-Americana, sobre as quais a América do Sul se localiza.
O professor explica que os sedimentos andinos têm origem vulcânica e contêm diversos elementos químicos que ajudam a fertilizar o solo e foram essenciais para a biodiversidade amazônica e aponta que, por causa da erosão dos Andes, os sedimentos viajaram mais de mil quilômetros pelo rio Amazonas e foram depositados no oceano Atlântico, no Delta Amazônico, entre os estados do Pará e Amapá.
“Na verdade, há 9 milhões de anos o Amazonas era um lago que corria pelo norte, foi nessa época que ocorreu a transcontinentalização do rio. Os Andes começaram a se levantar e empurraram o Amazonas pelo continente fazendo com que ele carregasse sedimentos da cordilheira por toda a região, mudando a vegetação e a biodiversidade local.” Informou Ventura.
O projeto contou com núcleos que estudaram aspectos diferentes da Amazônia. Além da análise de sedimentos, investigou-se a presença de fósseis de plantas, pólen e animais marinhos encontrados na floresta. A partir desses estudos, foi possível fazer uma reconstrução da vegetação amazônica de milhares de anos atrás e analisar as mudanças geológicas da região. Acredita-se, por exemplo, que parte da Amazônia foi coberta pelo mar. Isso explicaria a presença de fósseis marinhos na região. Segundo os pesquisadores, essas mudanças relativamente rápidas para o estudo da geologia seriam explicações para o ambiente da Amazônia ser tão biologicamente diverso e dinâmico.