Soltura de quelônios no Rio Araguaia chega a marca de 6 mil espécimes em 2023

A desova dos tracajás começa em julho e prossegue até agosto. Já o período de postura das tartarugas-da-Amazônia é de setembro a outubro.

Um dos maiores rios brasileiros, o Araguaia, é berço de incontáveis espécies de peixes, aves e de animais ameaçados de extinção. É o caso das tartarugas-da-Amazônia (Podocnemis expansa) e dos tracajás (Podocnemis unifilis). Até há pouco tempo, a presença desses quelônios já era quase inexistente na região de São Geraldo do Araguaia, município do sudeste paraense, na divisa com o Estado do Tocantins.

Com o trabalho desenvolvido pelo Instituto Ambiental Xambioá (IAX), em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), por meio da Gerência da Região Administrativa do Araguaia (GRA), está sendo possível reverter essa situação. Nesta terça-feira (6), iniciativa que começou com a soltura de 160 animais chega à marca histórica de 6 mil quelônios integrados à natureza em um único dia.

Foto: Vinícius Leal / Ascom Ideflor-Bio

A liberação dos animais ocorre, especificamente, em três pontos do Rio Araguaia: na praia em frente ao porto do IAX, nas comunidades de Ilha de Campos e Santa Cruz, às proximidades de duas Unidades de Conservação (UC) do Ideflor-Bio; no Parque Estadual Serra dos Martírios/Andorinhas e na Área de Proteção Ambiental (APA) Araguaia.

O trabalho do IAX é coordenado pelo aposentado Alípio Murici, junto com seus familiares. O piauiense veio para o sudeste paraense aos 2 anos de idade, e com o passar do tempo notou o sumiço dos quelônios no Rio Araguaia. O principal motivo constatado era a caça ilegal dos animais e a retirada dos ovos dos locais de desova.

“Com o passar dos tempos, percebemos que as coisas foram escasseando, até que chegou um momento em que a gente percorria por aí e não encontrava mais ninhos de tartarugas e tracajás, porque bastava os animais desovarem para que os ribeirinhos corressem até os locais para pegar e comer”, relata Alípio.

Ele conta, ainda, que no início não tinha muita noção do que fazer, mas após algumas pesquisas começou o trabalho voluntário.

“A resistência dos pescadores era muito grande, por isso a gente resolveu pagar pelos primeiros ninhos. Nos anos seguintes, ampliamos as buscas por mais ninhos, e hoje nós temos mais de 80 identificados e monitorados anualmente”, 

informa.

Foto: Vinícius Leal / Ascom Ideflor-Bio

Reprodução 

A desova dos tracajás começa em julho e prossegue até agosto. Já o período de postura das tartarugas-da-Amazônia é de setembro a outubro. Após a postura, os ovos são transferidos pelo IAX para uma praia dentro da UC do Ideflor-Bio, onde ficam de 50 a 60 dias em desenvolvimento.

As eclosões ocorrem entre novembro e dezembro, quando os quelônios são transferidos pelo IAX para um tanque na propriedade de Alípio, onde crescem sem o risco de predadores até estarem prontos para a liberação no rio.

“A importância desse trabalho é que o Rio Araguaia estava sendo completamente despovoado dos quelônios. Esses animais têm um papel fundamental na limpeza do rio, porque eles comem os aguapés e os peixes que já morreram. Portanto, eles acabam fazendo uma verdadeira limpeza neste importante curso d’água”,

informou Alípio Murici, que também vê o projeto como um vetor para o turismo ecológico na região.

Parceria 

O Instituto Ambiental Xambioá realiza o trabalho há dez anos, e desde 2018 tem o apoio do Ideflor-Bio. A parceria surgiu após uma fiscalização do órgão ambiental do Governo do Pará, juntamente com o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), que identificou o trabalho desenvolvido por Alípio Murici e seus familiares para preservação dos quelônios.

A titular da GRA, Laís Mercedes, destaca que a Gerência tem garantido o suporte ao IAX, como o apoio ao monitoramento dos quelônios, coleta dos ovos, transferência para o berçário e o tanque, até a soltura dos animais.

“Essa iniciativa é de grande importância para o Ideflor-Bio, pois os locais de desova estão em grande parte nas praias da APA Araguaia, as quais são administradas pelo Instituto. Com o projeto, já se vê a repovoação da espécie, que estava em extinção em nossa região, além das ações de educação ambiental com crianças, para conscientizá-las sobre a importância da preservação da espécie”, enfatiza a gerente.

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