O Acre é uma das regiões brasileiras mais afetadas por eventos climáticos extremos, o que tem se tornado recorrente, principalmente a partir de 2010.
A doutora em Biodiversidade e Biotecnologia, Simone Matias, está desenvolvendo uma pesquisa voltada para entender o impacto das mudanças climáticas na mortalidade das árvores da região e, consequentemente, o acúmulo de carbono em área do Acre.
O projeto foi submetido e aprovado no Programa Primeiros Projetos (PPP), financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (Fapac), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Simone explica que o objetivo é entender como as mudanças climáticas estão impactando na emissão e absorção de carbono nas florestas do Estado.
A pesquisa de Simone pretende justamente avaliar parte desses impactos.
“Essas mudanças têm contribuindo cada vez mais para a fragmentação de árvores, o que deixa essa floresta mais aberta, sujeita à entrada de fogo, por exemplo. Com isso, essas árvores acabam morrendo e, com essa maior mortalidade de árvores, vai diminuir a quantidade de carbono. Ou seja, aumenta a quantidade de carbono na atmosfera porque a floresta vai perdendo um pouco do serviço, que é essa absorção do carbono”,
explica.
Como será a pesquisa
O estudo vai avaliar áreas como Humaitá (que faz fronteira com o estado acreano); Fazenda Experimental Catuaba, em Senador Guiomard, e Parque Zoobotânico, em Rio Branco. Algumas dessas áreas já foram limitadas em outras pesquisas pela Universidade Federal do Acre (Ufac).
“Alguns pesquisadores já vinham analisando essas parcelas, que chamamos de parcelas permanentes, porque já é uma área marcada. Então, vamos naquela área, identificamos as árvores, é colocada uma placa e aí podemos acompanhar, no decorrer dos anos, se ela cresceu, se está viva ou morta e quantidade de carbono que está acumulando”,
explica.
A ideia de delinear uma área no Parque Zoobotânico dentro da Ufac é poder acompanhar mais de perto, já que as outras áreas ficam em locais mais distantes. Já dentro da universidade, esse deslocamento é facilitado e pode ser feito mensalmente.
Para ter os detalhes desse cenário, cestos são colocados na base das árvores para que todas as folhas caiam nesse espaço delimitado. A partir disso, é feito a pesagem desse material e é calculada a biomassa desses orgânicos.
“Esse cesto vai pegar tudo de folha que cair ali naquela área. Com isso, a gente sabe quanto que as copas das árvores estão liberando de carbono. No Acre, não temos muitos estudos que falem da deciduidade das florestas, então agora a gente consegue acompanhar os meses, de agosto, setembro, avaliando se está caindo poucas ou muitas folhas, considerando esse volume de acordo com a sazonalidade”, esclarece.
Nesse processo, quanto mais a árvore perde folhas, mas ela emite gás carbônico, o que é ruim para o meio ambiente. Além dos cestos, a pesquisa envolve equipamentos como paquímetro, balança de precisão e estufas. Todo o material coletado no período do levantamento também será disponibilizado para outras pesquisas dentro ou fora do ambiente acadêmico.
“Outro dado importante que vamos obter é saber qual espécie de árvore é mais resistente às mudanças climáticas, o que vai nos possibilitar sugerir esse tipo de árvore para os trabalhos de recuperação e reflorestamento que já existem em todo o estado”,
relata.
Incentivo à pesquisa
“Minha presença como única mulher também é uma forma de tentar fortalecer mais o público feminino na área da pesquisa no estado”, reforça.
A secretária do Meio Ambiente, Julie Messias, afirmou que o incentivo ao ambiente científico é fundamental para a geração de conhecimento, pois quando aplicado fortalece a gestão pública:
“Na área ambiental, a pesquisa científica tem o potencial de orientar as políticas públicas, gerando instrumentos que podem garantir maior eficiência da execução de ações de preservação, conservação, alternativas sustentáveis para a produção e outros”.
Projetos
Os recursos são provenientes do Edital nº 002/2023 – Programa Primeiros Projetos (PPP), que tem o objetivo de apoiar pesquisadores com, no máximo, oito anos de doutorado e que não sejam bolsistas de produtividade do CNPq. Todos os projetos são executados por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac) e cada um teve o investimento de R$ 70 mil e tem prazo de execução de 18 meses, contando desde dezembro do ano passado.