Pesquisa considera manejo florestal sustentável como alternativa viável para conservação

O estudo realizado no Amazonas teve como objetivo detectar impactos em comunidades de aves, mamíferos, besouros e sobre o processo de deposição de material vegetal que forma a serapilheira.

O manejo florestal sustentável pode ser uma alternativa viável para a conservação da biodiversidade na Amazônia Central, em áreas de exploração madeireira que abrangem os municípios de Itacoatiara, Silves e Itapiranga, no Amazonas. Foi o que apontou um estudo que mediu e avaliou os efeitos dessa exploração, frente aos impactos do desmatamento ilegal.


A pesquisa, intitulada ‘Manejo florestal sustentável como alternativa para a conservação da Amazônia: impactos da extração de madeira nativa sobre a biodiversidade’, é coordenada pelo biólogo Ricardo Augusto Serpa Cerboncini, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). 

O estudo apresentou resultados que indicam mudanças na composição da comunidade de aves nos primeiros anos após a exploração madeireira. E teve o objetivo de detectar impactos em comunidades de aves, mamíferos, besouros e, ainda, sobre o processo de deposição de material vegetal que forma a serapilheira.

Foto: Ricardo Augusto Serpa Cerboncini/

De acordo com Ricardo Cerboncini, no caso das comunidades de aves, a exploração madeireira não afetou o número de espécies nem a quantidade de aves, porém mudou a composição de espécies, ou seja, a identidade das espécies presentes nas comunidades, que provavelmente ocorreu devido à exploração madeireira aumentar a quantidade de clareiras na floresta – o que pode beneficiar algumas espécies, como as mais generalistas ou as que se beneficiam da maior entrada de luz no interior das florestas. 

“No entanto, esse impacto parece ser temporário, visto que os resultados mostraram que a similaridade na composição de espécies entre áreas exploradas e áreas íntegras aumentou com o passar dos anos após a exploração, tornando-se mais similares entre si a partir do quarto ano. Isso é um indicativo de que as comunidades de aves podem estar retornando a uma situação similar à encontrada anterior à perturbação da atividade madeireira, em processo de sucessão ecológica seguindo a regeneração florestal”,

disse o biólogo.

Foto: Acervo do pesquisador Ricardo Augusto Serpa Cerboncini

Entre outros impactos observados no estudo estão as estimativas ecológicas de alguns grupos da fauna, como de aves e de besouros escarabeídeos. Além de mudanças em estimativas ecológicas como a composição e a estrutura das comunidades biológicas, alguns casos incluíram efeitos como a diminuição no número de espécies e no número de indivíduos após a exploração madeireira. 

Outros grupos, no entanto, como os mamíferos de médio e grande porte, parecem não sofrer impactos significativos. A taxa de deposição de serapilheira, que sofre grande influência da sazonalidade, com maior acúmulo de folhas e galhos durante a época mais seca do ano, também não apresentou efeitos significativos da atividade madeireira.

Ainda sobre os resultados, a pesquisa demonstrou que os efeitos negativos na biodiversidade, quando existentes, tendem a ser de baixa intensidade e temporários, como explica Cerboncini.

“Os objetivos do estudo foram, justamente, estimar os efeitos na biodiversidade relacionados ao corte seletivo de impacto reduzido, com a premissa de que as maiores diferenças nas condições ambientais entre as áreas estudadas estão relacionadas à atividade madeireira e ao tempo desde que essa atividade ocorreu”, disse o coordenador, acrescentando que as condições ambientais são modificadas após o corte, e é esperado que as comunidades biológicas respondam a essas mudanças.

“Para alguns grupos da fauna que foram avaliados em nossos estudos foi possível detectar algumas mudanças. Além disso, conforme esperávamos, os efeitos negativos nas comunidades biológicas parecem ser temporários. No geral, cinco ou seis anos após a exploração foi suficiente para que as estimativas ecológicas se tornassem similares àquelas encontradas em áreas íntegras não exploradas”,

completou.

Segundo análise do pesquisador, apesar dos impactos observados, os resultados da pesquisa indicam que as comunidades biológicas podem se regenerar em poucos anos, sendo uma das condições necessárias para que uma atividade seja considerada sustentável.

“Nossos estudos sugeriram que a forma como a exploração madeireira foi realizada pode ser sustentável e, neste caso, pode se configurar como uma estratégia para o desenvolvimento da região Amazônica. No entanto, é importante ressaltar que, apesar de termos considerado os efeitos em diferentes estimativas da biodiversidade, estudos sobre diferentes aspectos ecológicos ainda são necessários”, frisou o pesquisador, observando que, devido aos impactos existentes, essas áreas manejadas não devem substituir o papel de áreas legalmente protegidas, como as Unidades de Conservação da Natureza de Proteção Integral e as Áreas de Preservação Permanente.

Foto: Acervo do pesquisador Ricardo Augusto Serpa Cerboncini

O biólogo acredita que, apesar do manejo florestal sustentável levar em seu nome o conceito atrelado ao de desenvolvimento sustentável, o conhecimento acerca dos efeitos do corte seletivo de impacto reduzido em diversos aspectos da biodiversidade ainda são incipientes, e deixa claro que o objetivo do estudo foi mensurar seus efeitos em alguns desses aspectos, principalmente em comunidades biológicas que participam de processos ecossistêmicos importantes para a regeneração florestal, como na dispersão de sementes, nas regulações de populações de herbívoros e na decomposição de material orgânico.

“Logo, as próprias árvores que produzem o recurso natural de interesse para a atividade madeireira dependem desses outros organismos para se regenerar e, consequentemente, a atividade apenas pode ser considerada sustentável se os impactos nesses organismos forem limitados”, destacou.

A pesquisa recebeu apoio via Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas (Fixam), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade