A pesquisa encontrou microplásticos em 40 espécimes de bagre guribu analisados durante o período chuvoso e de estiagem.
A pesquisa intitulada ‘Análise da presença de microplásticos em Sciades herzbergii capturado na região do Terminal de Uso Privado da Alumar, São Luís, Maranhão‘, realizada pela oceanógrafa e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Marina Rocha de Carvalho, encontrou microplásticos em todos os 40 espécimes de Sciades herzbergii – bagre guribu – analisados durante o período chuvoso e de estiagem.
Microplásticos são partículas plásticas menores que 5 milímetros, geralmente disponibilizadas pela fragmentação de materiais plásticos descartados no ambiente. Quando de origem primária – pellets –, eles provêm de resíduos industriais, residenciais e do transporte marítimo. A mestranda Marina Rocha afirmou que, dos microplásticos identificados, grande parte eram fibras de roupas.
“Também observamos uma tendência de concentração desses poluentes em fêmeas adultas e uma maior quantidade de microplásticos nos organismos durante o período de estiagem”,
assegurou.
A identificação dos poluentes ocorreu por meio da dissolução de tecidos moles dos estômagos dos bagres guribus, com o auxílio de soluções de hidróxido de potássio (KOH) a 10% e a realização de análise microscópica. Marina ainda explicou que o local foi escolhido por ser próximo ao Complexo Portuário da Baía de São Marcos e adjacente à comunidade dos Coqueiros.
“A obtenção dos peixes ocorreu por meio do projeto de pesquisa ‘Monitoramento Ambiental de Manguezais, Biota Aquática, Água e Sedimento no Estuário do Rio dos Cachorros e Estreito do Coqueiro, Ilha de São Luís, Maranhão’ e foi realizado pelo Laboratório Ictiologia e Recursos Pesqueiros da UFMA”,
completou.
Segundo o professor Marcelo Henrique Silva, os microplásticos são poluentes que não possuem uma única matriz polimérica – composta por um material formado por polímeros ou por polímeros e outra classe de materiais – a maioria possui uma série de outros aditivos, tais como fibras de reforço e enchimento, corantes, estabilizantes, antioxidantes e outros.
“Esses aditivos podem ser absorvidos pelos peixes ao serem ingeridos, causando assim efeitos prejudiciais. Os estudos mostram que os efeitos negativos da ingestão de microplásticos vão de complicações físicas até fisiológicas”, alertou.
O professor também afirmou que a ingestão dessas pequenas partículas de plástico pelos peixes causa estresse patológico, falsa saciedade, complicações reprodutivas, produção de enzimas bloqueadoras, reduz a taxa de crescimento e causa estresse oxidativo.
Para a discente Marina Rocha, os resultados são preocupantes, pois demonstram riscos tanto ao estoque pesqueiro, quanto à saúde humana. “A população, quando se alimenta de peixes ‘infectados’, acaba adquirindo contato constante com os microplásticos, que podem resultar em problemas sérios à saúde, como o câncer. A presença de microplásticos pode ser indicativo de ambientes poluídos, e são necessárias práticas preventivas para tentar reduzir essa contaminação”, concluiu.