Conheça a história das ilhas artificiais encontradas na Amazônia

Cerca de 20 ilhas artificiais foram descobertas em 2020 construídas no período pré-colonial

Arqueólogos do Instituto Mamirauá encontraram 20 ilhas artificiais na região do Médio e Alto Solimões, no Amazonas. A descoberta foi feita em janeiro de 2020, onde foram encontrados pedaços de cerâmicas antigas, revelando que havia presenças de antigas aldeias durante o período pré-colonial e colonial.

As ilhas artificiais são parte de um total de 250 sítios arqueológicos registrados em um quadrilátero de 180 mil km. Desses, 65 mil quilômetros estão associados à distribuição das ilhas. Elas são morros construídos por indígenas em várzeas para servirem como aldeias. Foram erguidas para que as populações pudessem ficar abrigadas na época das cheias. Um período que, segundo a dinâmica de área de várzea, costuma ficar inundado ao menos seis meses durante o ano. Cada uma tem entre 6 e 7 metros de altura acima do nível da várzea. A extensão varia de 1 a 3 hectares. As ilhas artificiais são conhecidas pelos ribeirinhos como “aterrados”, que também as identificam como “construção de índio”.

As primeiras informações sobre as construções foram coletadas em 2015 na região do Médio Solimões através de levantamentos de campo realizados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã. Construções similares foram encontradas na Amazônia, em lugares como na Ilha do Marajó, no Pará, e em Llanos de Mojos, na Bolívia.

Aterrado 5. Foto: Reprodução / Márcio Amaral

Em Julho de 2018, um aterrado foi encontrado durante uma expedição no Rio Juruá, na mesma região. Essa descoberta foi feita após um ribeirinho orientar e indicar uma comunidade da Reserva de Desenvolvimento Mamirauá, unidade de conservação da região e uma das principais áreas de atuação do Instituto Mamirauá.

As construções das ilhas estão em uma área atribuída aos antigos omáguas, povo indígena do tronco tupi que figura também nas crônicas antigas de navegadores espanhóis e portugueses que passaram pela região entre os séculos 16 e 19. Acredita-se que os omáguas são ascendentes dos atuais kambebas, etnia amazônida com aproximadamente 1.500 indiví­duos em território brasileiro.

A construção e engenharia avançada

Durante o estudo, os pesquisadores perceberam que próximo ao aterrado, existia uma depressão em torno de 25 por 50 metros, chamadas pelos ribeirinhos como “cavados”. Era a partir desses locais que os indígenas extraíam terra para a construção.

Um dos principais arqueólogos responsáveis por fazer o estudo, Márcio Amaral, afirma que para a construção, foi preciso fazer cálculos avançados de engenharia para lidar com o clima da época. “Foi uma resposta complexa das antigas civilizações para sobreviver na época das cheias. E que não envolve apenas o método construtivo.”

Aterrado 21. Foto: Reprodução / Márcio Amaral

Uma das maiores ilhas artificiais tem largura com cerca de 220 metros na base e topo medindo 45 metros. Foi calculado para distribuir da melhor forma o peso da terra, para que as ilhas conseguissem se sustentar.

Além disso, as ilhas foram posicionadas em locais estratégicos. Próximos a recursos necessários à sobrevivência, como o caso da proteína animal. “Elas foram construídas ao lado de bocas de paranás e lagos. Locais com fauna rica e diversificada, com muitos peixes, quelônios e jacarés.” O conhecimento dos ribeirinhos também indica, segundo Amaral, a existência de currais de quelônios nessas áreas. O arqueólogo ressalta ainda que a vegetação típica das ilhas artificiais é bem diferente da encontrada nas várzeas. 

A cultura da plantação

De acordo com o pesquisador, a cultura de plantação agia de forma diversificada, apontando conhecimento botânico e tratamento de engenharia genética nas escolhas dos alimentos que eram cultivados.

“As mulheres, responsáveis pelas plantações, sabiam escolher quais alimentos cultivar, do açaí ao abacaxi, mais doce, a mandioca, com maior valor energético, até as ervas e plantas medicinais. Elas conseguiram transformar e multiplicar a variedade genética. Esses povos modificaram a paisagem, manejaram os recursos e desenvolveram estratégias de sobrevivência de acordo com o ambiente em que viviam.” comenta.

Vestígios que datam até 1000 anos antes de Cristo

Milhares de insumos e vestígios foram encontrados que estão ligados à região. Entre eles, está o “pão de índio”, material orgânico que indica técnica tradicional para armazenamento de alimentos de origem vegetal.

Existem ainda  ossos de peixes e mamíferos, comprovando a diversificação da alimentação à base de proteína animal e sementes carbonizadas.

Foto: Reprodução / Márcio Amaral

Dezenas de fragmentos de cerâmicas onde encontraram fragmentos da Hachurada Zonada, estilo que tenha surgido por volta do ano 100 a.C. Outro estilo é chamado de estilo corrugado e caracterizado por “rugas” nas peças e vasos. Tal estilo foi datado dos séculos XV e XVI, comum a grupos tupis.

Foto: Reprodução / Júlia de Freitas

Documentos encontrados relatam as ilhas

Além dos vestígios arqueológicos, documentos espanhóis e portugueses, relatados em formato de crônicas. Os portugueses e espanhóis navegaram pela Amazônia durante os séculos XVI e XIX. 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade