Afroteca: iniciativa pioneira incentiva educação antirracista no Pará
As duas primeiras afrotecas do Brasil ficam localizadas no município de Santarém, no Estado do Pará. O projeto 'Kiriku' estuda as relações raciais e a literatura infantil antirracista nos Centros Municipais de Educação Infantil (Cemei) de Santarém. O espaço é dedicado para crianças e professores, que utilizam livros, jogos, brinquedos e instrumentos musicais, para o desenvolvimento pedagógico.
O Portal Amazônia conversou com o professor Luiz Fernando de França, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e docente da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) que idealizou o projeto Kiriku e o Grupo de Pesquisa em Literatura, História e Cultura Africana, Afro-brasileira, Afro-amazônica e Quilombola (AFROLIQ), para saber mais sobre as afrotecas e suas atividades no combate ao racismo e preconceito.
O projeto foi idealizado em 2019 pelo professor e tem ganhado força por meio de uma parceria com o Instituto AMMA Psique e Negritude, referência no combate ao racismo, e também instituição de incentivo à pesquisa. O projeto Kiriku se tornou pioneiro por nascer de uma necessidade social, sendo o único registro de pesquisa e estudo voltado ao racismo.
Atingindo a educação infantil, em especial a primeira infância (entre 0 e 6 anos), as afrotecas tem o intuito de apresentar alternativas pedagógicas na construção de uma educação antirracista, sendo realizada a intervenção pedagógica por meio da literatura infantil.
explicou Luiz ao Portal Amazônia.
"As afrotecas que estamos inaugurando fazem parte de uma pesquisa nacional sobre racismo na primeira infância. Em Santarém, nós estamos coordenando o projeto Kiriku. Nesse projeto, nós estamos avaliando e investigando como as relações raciais, como o racismo e a descriminação, estão presentes nos Cemeis, como isso atinge as crianças e como elas se manifestam, a partir da própria visão das equipes e familiares",
Nas redes de ensino, foram identificadas e diagnosticadas manifestações de descriminação. Depois desse diagnóstico, foram construídas estratégias para o desenvolvimento de relações respeitosas para promover a igualdade racial.
"Nós estamos pensando em estratégias de intervenção pedagógica de combate ao racismo na infância, é aí que surgem as afrotecas, como espaço de acolher, brincar, educar em perspectiva antirracista e anfrocentrada. Então, a afroteca serve como uma resposta de combate às várias situações de racismo que havíamos observado nas creches", acrescentou Luiz.
Afroteca Willivane Melo
A primeira afroteca foi inaugurada dia 11 de agosto de 2022. A Afroteca Willivane Melo oferece suporte didático para o incentivo da educação antiracista. O nome é em homenagem à psicóloga Willivane Melo, que atuava como professora incentivando temas voltados às comunidades quilombolas e relações étnico-raciais.
O local funciona visando buscar a autoestima, representatividade e sensação de pertencimento da criança. Localizado no Theatro Municipal Victória, no travessa Senador Lemos, nº 60, Centro, a afroteca é uma parceria entre o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e o AFROLIQ/UFOPA.
Afroteca Amoras
Integrando o projeto Kiriku, no dia 19 de novembro de 2022, foi inaugurada a segunda unidade, a Afroteca Amoras, no Centro Municipal de Educação Infantil Paulo Freire (Cemei), que fica localizado na Avenida Barão do Rio Branco, em Jardim Santarém.
"O nosso desafio é dar continuidade. Não só inaugurar outras afrotecas, mas dar continuidade e manter essas afrotecas que já estão funcionando. Como coordenador do projeto é uma preocupação minha a manutenção dos livros, a troca deles periodicamente, e também se vamos conseguir manter todo o acervo que nós temos. Existe uma preocupação de ampliar e difundir a ideia do projeto que é inovador no Brasil", informou o coordenador.
Como parte das ações do projeto, estão previstas as inaugurações de mais duas afrotecas no município de Santarém ainda em novembro: a Afroteca do Cemei Antônio Corrêa e a do Cemei Maria Raimunda Pereira de Sousa.
Comentários: 1
Acho que faltou mais diversidade na representatividade das bonecas para ser considerada antirracista, mais parece um lugar segregado remetendo ao Apartheid, achei a iniciativa equivocada.