Após a exibição, um debate contou com a presença dos indígenas Jailson Juruna, afetado pela barragem de Belo Monte, e Edovaldo Datie Munduruku, que mora na região que seria afetada pela construção da UHE São Luiz do Tapajós, no Rio Tapajós, ambas no estado do Pará.
Todd Southgate acompanhou o processo de construção de Belo Monte desde o começo e disse que foi um choque quando presenciou os impactos após a inundação do reservatório. “Eu já estava filmando lá nos últimos sete ou oito anos. A primeira que fiz um sobrevoo na barragem, com o reservatório todo inundado. Foi um choque. Tudo o que você já viu, como estava a floresta, os lugares que você conheceu os pescadores, está tudo embaixo d’água. Foi mais pesado do que imaginava”.
O documentário mostra os impactos para a população que mora e depende do Rio Xingu e para a cidade de Altamira, que fica próxima a Belo Monte e abrigou os operários que trabalharam na construção da usina. A estrutura do município não suportou a demanda populacional atraída pelos empregos na obra. O filme mostra o aumento da violência no trânsito, dos homicídios e a maior evidência da falta de saneamento básico, além do número de pessoas afetadas pela obra, que é maior do que o considerado pelos estudos prévios.
Afetados pela barragem
As pessoas que não precisaram ser deslocadas, mas sofrem com a menor vazão do rio, com a diminuição dos peixes e com a falta de estrutura pública na cidade não são consideradas afetadas. Jailson Juruna, que mora na aldeia Muratu, localizada abaixo da barragem, não foi considerado um afetado pela construção de Belo Monte.
No entanto, ele e sua aldeia sofrem com os impactos. “Hoje, é crítica a situação do pessoal que mora para o lado de baixo da barragem, porque a vazão do rio diminuiu muito. Essas pessoas estão sofrendo muito porque, com a diminuição do rio, o peixe também diminuiu. Teve uma mortandade de peixe muito grande abaixo do barramento”, acrescentou.
O povo Juruna é conhecido pela sua relação com as águas e pelo conhecimento do rio. O peixe do Rio Xingu serve para alimentação e é também fonte de renda para os Jurunas. Segundo Jailson, atualmente a quantidade de peixe não dá nem para sobrevivência na aldeia. Os índios são obrigados a comprar comida na cidade. E, para ganhar dinheiro, muitos deixam a aldeia e tentam empregos na cidade.
“O rio sempre foi nossa mãe. Ele sempre nos deu o alimento e o transporte. Agora, não podemos mais beber água do rio. Então, afetou de uma maneira que estamos deixando nossa cultura de lado para se adaptar em outras que não temos costume.
De acordo com Tina Minami, da campanha de Amazônia do Greenpeace, “é importante que a sociedade debata o assunto que impacta a vida de todo mundo, especialmente dos povos que estão vivendo em áreas que podem ser construídas hidrelétricas, como Belo Monte”.
“Cinco anos depois [do início das obras], vimos como está a situação de Altamira. A maioria das condicionantes não foi cumprida e a obra seguiu. Hoje temos Belo Monte operando, com impactos na vida de todo mundo. É importante usar vários canais de comunicação para que a sociedade debata essa questão. A sociedade brasileira precisa participar dessas decisões”, afirmou Tina, referindo-se aos modelos para geração de energia no País.
Rio Tapajós
Para o povo Munduruku, que mora na região do médio Tapajós, após muita luta contra a construção de uma usina hidrelétrica em seu território, já houve uma conquista: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) arquivou, em agosto deste ano, o processo de licenciamento ambiental para construção da Usina São Luiz do Tapajós.
Pouco tempo depois, o governo federal anunciou que não levaria o projeto adiante, pelo menos por enquanto. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse na ocasião que a ideia da construção da usina ficaria suspensa e os estudos ambientais já realizados ficariam à disposição do país para outro momento.
Apesar disso, os Munduruku lutam pela demarcação do seu território, chamado de Sawré-muybu, de modo que não sejam retirados de sua aldeia. Para Edovaldo, sem a demarcação a realidade da construção da hidrelétrica se aproximou muito da aldeia.
“Os não-índios dizem que a gente não tem nenhuma garantia, porque não temos nada escrito. Mas repetimos para eles que somos antes de Pedro Álvares Cabral. Mesmo que eles digam que não temos o papel, a gente estava ali há muito tempo. Tem vestígios disso onde a gente mora”, concluiu.